Micro crítica: «As Vinhas da Ira»

As Vinhas da Ira - Livro - WOOK

“As Vinhas da Ira”

Trailer: "Na década de 1930, as grandes planícies do Texas e do Oklahoma foram assoladas por centenas de tempestades de poeira que causaram um desastre ecológico sem precedentes, agravaram os efeitos da Grande Depressão, deixaram cerca de meio milhão de americanos sem casa e provocaram o êxodo de muitos deles para oeste, rumo à Califórnia, em busca de trabalho. Quando os Joad perdem a quinta de que eram rendeiros no Oklahoma, juntam-se a milhares de outros ao longo das estradas, no sonho de conseguirem uma terra que possam considerar sua."


Depois de uma série de sete reportagens para o «San Francisco News» a descrever as condições sub-humanas que os trabalhadores migrantes da agricultura – a maioria deles refugiados do Dust Bowl – enfrentavam frequentemente na Califórnia, incluindo fome, alojamentos miseráveis ​​e exploração laboral, Steinbeck fez dos campos, das pessoas e das práticas que conheceu nesta época a sua inspiração para «As Vinhas da Ira».

Acompanhando uma família (e ao mesmo tempo, todas) abalroada pelo «progresso» e pelo total abandono a que são votadas, a justamente chamada obra-prima de Steinbeck não é sobre o «sonho americano», antes sobre o «pesadelo americano» impressionando a actualidade de uma obra quase a completar oito décadas. Nesta, ninguém procura o «sonho americano», todos procuram a crueza da sobrevivência. Explorados, maltratados, ostracizados, muitos ficam pelo caminho, alguns sucumbem já no destino, poucos encontram o que procuram. Ontem, tal como hoje.

Steinbeck leva-nos pelo périplo de uma família que precisa de se colocar e toda a sua vida num camião velho que terá de aguentar uma viagem de quase 2500 quilómetros, incluindo um deserto. A viagem, os viajantes, os pensamentos, os medos, as ameaças, as oportunidades, a solidariedade, a brutalidade, os campos ilegais e legais onde pernoitam, a voracidade produtiva, a tentativa de associativismo, o combate às greves, a visão de quem está na estrada, a visão de quem vê chegar os migrantes. Poucos são os ângulos que ficam por explorar até chegarmos a um final surpreendente, de múltiplas interpretações possíveis.

Do conteúdo, à escrita, passando pela sequenciação dos capítulos entre visão particular e visão global, tudo neste livro é merecedor de todos os elogios e prémios que já lhe foram concedidos. Foi proibido e queimado em praça pública e chegou a nº1 de vendas ao mesmo tempo, ganhou o Pulitzer, vendeu 14 milhões de cópias e obrigou o autor a andar de arma tantas foram as ameaças recebidas.

Ontem, a exploração dos «okies»; Hoje, a exploração de migrantes de tantos países. Imperdível e infelizmente muito actual.


Avaliação: 9,5/10

Livro incontornável da literatura mundial. Se, como eu, esperaram demasiados anos para finalmente pegar no livro peguem quanto antes. E se já leram, mas “há muitos anos”, idem. Voltarei ao livro em breve, depois de ler as reportagens que o antecederam – The Harvest Gypsies


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