Queda no total de crédito concedido em Portugal quase anula esforço de reconhecimento de imparidades feito pelos bancos
in: Dinheiro Vivo, 20 abril 2017
O problema é relativo. Não é que seja de somenos, é mesmo do peso relativo dos créditos vencidos face ao total: como o malparado se mede em função do crédito total, se este último cai tanto ou mais do que o primeiro, então é como se nada tivesse melhorado. Assim se explica a pequena queda relativa do malparado na banca portuguesa para que o FMI alertou ontem.
“Os bancos na Irlanda e em Espanha já registaram bons progressos na redução de non perfoming loans [crédito vencido a mais de 90 dias] desde que atingiram o pico”, começa por apontar o FMI no relatório de estabilidade financeira, ontem divulgado. Mas se Irlanda e Espanha são os bons exemplos, Portugal e Itália são os maus: “Houve uma redução relativamente pequena, face aos níveis máximos, em dois países que já apresentavam dos rácios mais elevados, Itália e Portugal, e são necessários mais progressos.”
Os bancos em Itália e em Portugal apenas conseguiram baixar os rácios de malparado em 0,1 e 0,2 pontos percentuais, respetivamente, desde o seu valor máximo. Estas evoluções chocam com o conseguido pelos restantes países considerados (ver tabela), sendo especialmente graves porque se trata dos dois países que mais créditos tóxicos tinham (e têm).
A conclusão do FMI parece chocar, à partida, com os dados que vão sendo conhecidos sobre as contas dos bancos que atuam em Portugal – marcadas por altos volumes de imparidades. E isto acontece sobretudo por duas razões: primeiro, porque os dados do FMI dizem respeito ao terceiro trimestre de 2016, não refletindo a totalidade do esforço de algumas instituições, concentrado na reta final do ano. E, segundo, porque o ritmo de concessão de crédito em Portugal continua sem compensar os balanços dos bancos. E isto mexe com a relatividade do malparado.
Um exemplo: o BCP reduziu em 11% o crédito em incumprimento de 2015 para 2016. Todavia, como o crédito total baixou 6% no mesmo ano, o rácio de incumprimento face ao crédito total recuou 0,46 pontos. O esforço de redução do crédito problemático foi assim mais puxado do que a evolução do rácio aparenta mostrar.
Rácios: os piores
Além dos problemas com o malparado e da necessidade da tomada de medidas decididas para livrar a banca destes maus ativos (ver caixa), o relatório do FMI também critica a falta de uma dieta ainda mais agressiva por parte dos bancos presentes em Portugal.
De acordo com dados de 2015 citados pelo Fundo, os bancos portugueses são os que apresentam um menor rácio de ativos por agência bancária e por colaborador, com valores bastante distantes da média. Aqui como no malparado, Portugal e Itália surgem no mesmo saco, ao qual acrescenta os bancos espanhóis: “Em Itália, Portugal e Espanha há um grande número de agências ou colaboradores face ao total de ativos”, sintetiza o FMI, que recomenda uma aceleração nos cortes. Contudo, e desde o final de 2015, vários bancos já intensificaram e prolongaram os objetivos das suas reestruturações – corte de agências e do número de trabalhadores.