Os maiores grupos bancários na zona euro viram quotas de mercado disparar entre 44% e 48% graças à crise e aos bancos que foram absorvendo desde 2008
in: Dinheiro Vivo, 10 abril 2017
A banca europeia cortou 17% no total de balcões e 13% no total de trabalhadores desde 2008, num esforço de adaptação a uma crise que não acaba e também à nova realidade dos serviços digitais. Mas todos estes cortes, reestruturações e colapsos têm também servido para engordar os maiores grupos financeiros da zona euro a custo dos restantes bancos – e dos contribuintes, diga-se.
Segundo um relatório hoje divulgado pela agência de rating DBRS, a dieta que o setor financeiro tem atravessado está a concentrar fortemente as quotas de mercado nos cinco maiores bancos em cada um dos países da zona euro que a agência acompanha. “Entre 2008 e 2015, o total de instituições de crédito na zona euro recuou 19% enquanto a quota de mercado dos cinco maiores bancos de cada país cresceu entre 44% e 48%”, conclui o departamento European Financial Institutions Group, da DBRS.
Igualmente preocupante, porém, tem sido a incapacidade dos bancos em reduzir efetivamente custos operacionais, especialmente tendo em conta os incontáveis despedimentos com que foram avançando desde 2008. “Os bancos europeus não reduziram as suas bases de custos de forma materialmente significativa desde 2008”, aponta a DBRS. Ou seja: “Os bancos vão ter que continuar com os esforços de contenção de custos.”
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Segundo os números avançados pela agência, “os custos operacionais dos sistemas nos países acompanhados pela DBRS aumentaram 6% em termos nominais, tendo recuado uns meros 5% em termos ajustados pela inflação”. Esta evolução compara com os cortes já referidos de 17% e 13% nos balcões e nos recursos humanos.
“A persistência dos custos em níveis teimosamente elevados surge de vários factores, incluindo as despesas relacionadas com a conduta assumida pelos bancos, os investimentos em maior controlo ao ‘compliance’ e as despesas relacionadas com custos de reestruturação ou programas de transformação”, detalha a agência. A DBRS identifica também os investimentos em plataformas digitais ou até na aquisição de outros bancos como elementos que mantêm os custos em níveis excessivamente altos.
Banca em Portugal já está muito concentrada
Com uma redução nos custos aquém do que seria esperado dada a dimensão dos cortes efetuados, e dada a persistência do ambiente agressivo do lado das receitas, a DBRS não tem dúvidas que os sistemas bancários vão continuar a despedir e a emagrecer nos próximos anos, ainda que cada país apresente cenários distintos.
“Apesar dos progressos conseguidos desde 2008 ao nível da reestruturação das redes de balcões, a eficiência destas redes medida por créditos e depósitos por agência varia de forma significativa na Europa”, referem os analistas. Se os bancos nórdicos já avançaram de forma decisiva pela digitalização dos serviços – permitindo-lhes desinvestir com mais à vontade na existência física -, em vários outros países o cenário é muito diferente.
A DBRS destaca neste campo os mercados francês, italiano, espanhol, português e alemão, com taxas de eficiência bastante reduzidas em termos de depósitos por balcão.
Em relação ao caso específico português, a DBRS nota que apesar das instituições bancárias continuarem “focadas em reestruturar os custos” já não há espaço para avanços mais determinados nesse sentido. “Em Portugal, os bancos continuam focados em reestruturar os custos mas uma redução mais significativa através da consolidação da banca parece improvável dado que o sistema já se encontra bastante concentrado.”