Os dois anos de supervisão europeia: A banca está mais resistente?
“As debilidades ainda são evidentes, principalmente nos periféricos, que continuam sem liquidez e imparidades preocupantes”, adverte gestor da XTB
In: Dinheiro Vivo, 4 novembro 2016
As novas regras para a banca europeia entraram em vigor há dois anos. A 4 de novembro de 2014 os maiores bancos da região passaram para a alçada do BCE, incluindo CGD, BCP, BPI e Novo Banco.
Apesar de várias críticas e elogios, o Mecanismo Único de Supervisão é essencialmente um processo em curso, sendo por isso foco de uma contínua reflexão, recorrendo por isso a várias consultas públicas – como a anunciada ontem, desta feita sobre a harmonização de regras de supervisão aplicáveis às entidades supervisionadas pelas autoridades nacionais.
“A ambição de se criar uma genuína união económica e monetária na Europa pressupõe uma normalização das regras a que as instituições bancárias estão expostas”, explica Eduardo Silva, gestor da corretora XTB, ao Dinheiro Vivo. “O desafio de normalizar as regras é um processo de preparação para a união bancária, é nesse sentido que temos de avaliar o mecanismo nesta fase”, acrescenta.
Desde a criação de este novo modelo de supervisão, aponta o gestor, os bancos ficaram mais preparados para lidar com eventos de risco, tendo avançado com o reforço dos rácios de capital e reestruturações.
Porém, “as debilidades ainda são evidentes, principalmente nos periféricos, que continuam sem liquidez e com rácios de imparidade preocupantes”. Mas, adverte, apesar de não estarmos próximos de uma crise como a que se verificou em 2008, também ainda não nos desviámos totalmente dessa possibilidade.
“Ainda não estamos a falar de uma crise como a de 2008, mas sim de passos para não nos dirigirmos para uma situação de crise e de medidas que permitam limpar os balanços para se avançar para uma união bancária.”
A banca enfrenta ainda uma dimensão significativa de obstáculos, detalha. “Existe urgência em limpar os balanços de crédito mal parado, por forma a diluir os riscos associados a uma evolução para uma união bancária. Os aumentos de capital desde a crise de 2008 têm permitido aos bancos europeus gerir as imparidades e sobreviver, mas para limpar o balanço existe a necessidade de se assumir perdas, isso significa maiores necessidades de capital.”
E apesar dos efeitos positivos das novas regras serem notórios, Eduardo Silva detalha que a recuperação da confiança não chegará apenas graças a mais e nova regulamentação, dependendo também “da capacidade” dos bancos se reinventarem, “da criação de valor para os acionistas” ou “da capacidade de modernização, tornando os bancos mais flexíveis e mais competitivos”.
Em Portugal
Sobre o impacto da mudança na banca portuguesa, o gestor da XTB refere que esta trouxe “uma maior disciplina, um esforço para controlar as imparidades, aumentos de capital, reestruturações e permitiu um aumento da competitividade no setor”.
Recentemente estas novas regras ganharam visibilidade aquando da nomeação da gestão da CGD, quando os supervisores riscaram alguns nomes da lista inicialmente avançada pelo governo e ordenaram a outros o regresso ao estudo para reforço de competências.
Uma das alterações mais significativas das novas regras foi, porém, a obrigação de acionistas e credores serem os primeiros a pagar resgates na banca. Apesar de aumentar o potencial de contágio, para o gestor da XTB esta foi uma alteração positiva e óbvia.
“A regra é positiva e óbvia, o risco é conhecido e é a contraparte do potencial ganho. Apesar de ser simples, a regra cria pressão, riscos e riscos de contágio devido à dimensão das instituições, à importância para a economia de cada país e importância a nível social. Regra geral é positivo impor as perdas aos accionistas e credores, a responsabilização não é questionável, mas a aplicação tem um custo que pode ser superior a uma resolução.”