Alemães, italianos e franceses foram ontem buscar perto de 20 mil milhões de euros aos mercados financeiros, meras 24 horas antes de os gregos fazerem a maior emissão de dívida desde que foram resgatados, no final de 2010. A notícia é que talvez não tenha sido a mais encorajadora para os eventuais investidores: o produto interno bruto (PIB) grego terá caído 6,2% no 2.º trimestre, depois de nos primeiros três meses ter recuado 6,5% em termos homólogos, segundo o instituto de estatística grego.
A atravessar o quinto ano de recessão, os gregos vão hoje pedir 3125 milhões de euros aos mercados, através de uma emissão de bilhetes do tesouro – uma verba que servirá de ponte financeira até que a troika desbloqueie nova tranche de ajuda, de 31 mil milhões de euros, que só chegará em meados de Setembro. Para sobreviver até lá, os gregos decidiram na semana passada avançar com a emissão de hoje, que acarretará consigo mais encargos com juros para os cofres de Atenas.
A Comissão Europeia mostrou-se confiante nesta emissão de dívida. “Não estamos preocupados. De acordo com a informação de que dispomos, o leilão de bilhetes do tesouro está totalmente controlado e deverá cobrir as necessidades de financiamento da Grécia durante um bom período de tempo”, afirmou o porta-voz da Comissão Europeia Ryan Heath em conferência de imprensa. A entrega de outra tranche do empréstimo grego está dependente de nova ronda de cortes orçamentais exigidos pela troika, agora equivalentes a 11 500 milhões de euros para 2013 e 2014.
Dívida, dívida e mais dívida Os alemães conseguiram ontem voltar a financiar-se com juros negativos. Berlim colocou mais de 3700 milhões de euros a seis meses, com os investidores a aceitarem uma rentabilidade média negativa de 0,0499%. Mas não é só a Alemanha que está a conseguir financiar-se com juros negativos. Também esta segunda-feira, o tesouro francês colocou 7187 milhões de euros em três linhas de curto prazo, registando taxas de juros negativas para duas das três linhas. Os títulos foram colocados com vencimento a três, seis e 12 meses. Os juros negativos foram conseguidos nas duas primeiras linhas, tendo a terceira ficado neutra. Assim, e a três meses, os investidores vão acabar por pagar 0,016% ao Estado francês, e a seis meses 0,010%.
Os títulos soberanos de Alemanha e França continuam, assim, a ser o refúgio dos investidores perante um mercado de dívida instável. Convém salientar, contudo, que a emissão a 12 meses dos franceses, cujo juro foi nulo, compara com a última emissão semelhante do tesouro francês, que na altura resultou em juros negativos.
Já em Itália, o caso muda de figura. O governo transalpino colocou ontem oito mil milhões de euros a 12 meses no mercado, tendo pago uma taxa de juro de 2,767%, ligeiramente acima do registado na emissão anterior – 2,697% –, resultado do aumento das incertezas em relação a Itália nos últimos dias.
Contas feitas, alemães, franceses e italianos foram ontem buscar 18 887 milhões de euros aos mercados a curto prazo.
in: Jornal i, 14 Agosto 2012