Transitários: O barómetro da economia reúne em ano de inversão

Congresso. Exportações estão a crescer mais este ano do que nos últimos três e, com elas, também o tráfego de bens. Empresas reúnem para debater sector e revolução que aí vem.

in: Expresso, 4 novembro 2017

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Os mais de 250 associados da Associação dos Transitários de Portugal reúnem-se na próxima semana para o 16º congresso da atividade transitária e logística, que é como quem diz das empresas responsáveis pela gestão da grande maioria das exportações conseguidas por empresários e industriais em Portugal.

Por atividade transitária entende-se não só a planificação e execução do transporte internacional de mercadorias, mas também todas as atividades logísticas complementares, como recolha, separação ou etiquetagem anteriores ao transporte propriamente dito.

E ao contrário dos anos mais recentes, o congresso de 2017 chega numa altura particularmente positiva para o sector. O volume de negócios tem estado em queda desde 2014 mas no corrente ano a situação dá sinais de inversão, muito graças à boa evolução das exportações portuguesas no que já vai de 2017. E se há mais bens para exportar, há mais mercadorias e cargas para movimentar.

“Havendo um aumento nas exportações, é natural que a evolução da faturação reflita isso mesmo, já que esta é uma atividade muito ligada ao comércio internacional e à exportação”, apontou Paulo Paiva, presidente da direção da Apat, ao Expresso. O volume de negócios do setor deve fechar o ano em alta, assume, restando perceber até que ponto o aumento de 2017 virá a compensar as quebras passadas.

Segundo dados da Apat, entre 2014 e 2016 a faturação dos seus associados caiu 7%, recuo sentido sobretudo em 2015, quando o setor viu o volume de negócios recuar de 1798 milhões de euros para 1675 milhões de euros. Em 2016, a quebra atenuou-se até à quase estagnação, caindo apenas 0,2%. Mas este ano as contas já mostrarão um cenário diferente. E basta olhar para a evolução das exportações para o perceber.

Entre 2013 e 2016, o total das vendas portuguesas ao exterior registou um crescimento acumulado de 5,7%, dos 47,3 mil milhões de euros de 2013 até pouco mais de 50 mil milhões em 2016. Ou seja, a economia passou a exportar mais 2,7 mil milhões entre 2013 e 2016, fruto de crescimentos de 1,6% em 2014, 3,3% em 2015 e 0,8% no ano passado. Já em 2017, e só entre janeiro e agosto, as exportações já cresceram mais do que nos últimos anos.

Segundo dados provisórios do Instituto Nacional de Estatística (INE), nos primeiros oito meses do ano a economia vendeu mais 11,5% ao exterior face ao mesmo período do último ano. Se até agosto de 2016 contabilizavam-se 32,5 mil milhões em exportações, até agosto deste ano o total já atinge os 36,2 mil milhões de euros. E se estamos a vender mais, há mais para transportar até ao destino.

Esta ligação umbilical entre a evolução do negócio e as exportações, explica Paulo Paiva, dá ao sector uma importância acrescida enquanto à evolução económica expectável do país. “Os transitários são, desde sempre, um barómetro para a economia.” São eles que têm como papel lidar com as vendas ao exterior, logo conseguem “adivinhar” como serão os meses mais próximos. “Temos noção mais imediata de como o mercado está a evoluir, servimos de barómetro do que vai ocorrer nos próximos seis meses”, sublinha o responsável. E sintetiza: “Muito provavelmente, a larga maioria dos associados já está a sentir este aumento na procura desde há um ano.”

Mas para ser possível inverter a situação, não conta apenas o trabalho dos transitários, mas sobretudo o dos seus clientes. “A subida das exportações este ano é reflexo do trabalho dos nossos clientes que motivados pela crise têm nos últimos anos procurado a diversificação de mercados onde colocar os seus produtos”, aponta Paulo Paiva, enaltecendo o esforço do tecido empresarial presente no país. É que além da crise portuguesa e também europeia, estes tiveram ainda que se ir ajustando a crises mais localizadas, como por exemplo a de Angola. “Virou um mercado prioritário durante a crise, mas depois viu-se também mergulhado numa situação muito complicada, o que obrigou muitos empresários a procurar novos destinos.”

O Congresso

O congresso que se realiza na próxima semana, entre sexta-feira e sábado, no Pavilhão Carlos Lopes, em Lisboa, deverá contar na sessão inicial com a presença dos presidentes do Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT), entidade legal responsável pela emissão de alvarás para o exercício legal da atividade transitária, mas também com o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina. Segue-se a apresentação de uma análise SWOT – sigla em inglês para Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças – focada no sector, da responsabilidade da Ernst & Young.

“Há uma grande expectativa em relação ao congresso”, refere o líder da Apat. “Sendo este sector muito abrangente, já que trata com quase todos os bens exportáveis, tentámos também que o congresso fosse o mais abrangente possível.” Como destaque inicial, Paulo Paiva destaca precisamente a análise que a E&Y apresentará, que dotará os associados de um estudo sobre o que esperar de positivo ou negativo nos próximos anos. Além do estudo, o trabalho da Ernst & Young será de seguida debatido entre representantes de algumas das principais empresas do país, como a BP Portugal, SIVA, Riberalves, Fartech, debate que contará também com a participação do próprio Paulo Paiva.

As tendências e as principais tecnologias emergentes na atividade transitária e logística, assim como os riscos e desafios associados a estas ferramentas no caso específico do setor, serão outro dos temas em foco no primeiro dia da conferência [ver caixa].

Na sexta-feira, haverá ainda lugar à discussão sobre as estratégias pensadas para as grandes infraestruturas nacionais, onde a Associação dos Portos de Portugal, mas também a ANA – Aeroportos e a Infraestruturas de Portugal, falarão do futuro de Portos, Aeroportos, e redes ferroviária e rodoviária.

“A rodovia foi a infraestrutura que mais evoluiu nos últimos anos e agora torna-se vital existirem estratégias para os portos, aeroportos e ferrovia, que serão pontos fundamentais para continuarmos a evoluir positivamente no nosso comércio internacional. Mas para que tal aconteça é preciso investir nestas infraestruturas”, explica o líder associativo. O encerramento dos trabalhos nessa sexta-feira caberá a Manuel Caldeira Cabral, ministro da Economia, o representante do governo a quem provavelmente serão dirigidos os apelos para mais investimentos nas redes de transportes.

A apresentação de um estudo sobre o real valor e impacto dos transitários nos fluxos exportadores portugueses será um dos pontos altos do segundo dia da conferência, sábado, dia 11, dedicado quase em exclusivo a visões externas relativamente ao sector em Portugal.

Neste dia, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) avaliará o impacto concorrencial do atual enquadramento legislativo dos transportes para a economia portuguesa, havendo ainda lugar para duas intervenções das grandes associações internacionais de transitários e logística, a Federação Internacional das Associações de Transitários (FIATA) e a Comité de Liaison Européen des Commissionaires et Auxiliaires de Transport du Marché Commu (CLECAT). Os desafios da indústria e a transparência de preços no setor marítimo serão os focos de cada uma das associações, respetivamente.

O encerramento dos trabalhos do 16º Congresso da Apat ficará depois a cargo do presidente da associação.

A revolução está já aí à porta

O aumento do total de portos automatizados torna claro que a nova revolução industrial se aproxima a passos rápidos até dos mais receosos. Mas a hora não é de esconder a cabeça, antes pelo contrário: “Esta revolução vai trazer alterações profundas. Já há portos 100% automatizados e isso terá muito impacto no emprego”, diz Paulo Paiva. “Mas como em todas as revoluções, as pessoas acabam por se adaptar às alterações e neste caso não será diferente. Mas para isso o tema precisa de ser debatido e é isso que vamos fazer no congresso”, remata.

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