À data da resolução, BdP dividiu ativos pelo “banco mau” (BES) e pelo “banco bom” (Novo Banco), mas agora este último também é mau. De quem é a culpa?
in: Dinheiro Vivo, 12 abril 2017
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Em agosto de 2014, o Banco de Portugal avançou com a resolução do Banco Espírito Santo, dividindo-o em “banco mau” e “banco bom”. O primeiro ficou o BES, o segundo ficou o Novo Banco. Mas se este último era supostamente o “banco bom”, porque razão é que agora precisa de 750 milhões de euros de injeção de capital incorrendo ainda no risco de registar novas perdas na sua carteira de ativos?
Foi esta a dúvida apresentada Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda a Mário Centeno, ministro das Finanças, esta manhã. Mas o governante admitiu que não consegue responder. E foi até mais longe: “Dada a diferença de realidades, entre o declarado na altura e o que sabemos hoje, é certo que há algo que é preciso ser explicado.” Mas essa resposta só a terá quem lidou com a resolução do BES em agosto de 2014.
“Quando o Novo Banco foi criado, era suposto estar limpo, já que uma equipa de peritos do Banco de Portugal dividiu os balanços. Desde então, a economia não piorou e o preço dos ativos não se degradou. Logo, como é que de repente aparecem necessidades imediatas de 750 milhões [injeção que o Lone Star fará] e há ainda o risco de perdas na carteira de ativos? As necessidades foram subavaliadas na altura da intervenção?”, perguntou a bloquista.
Segundo a resposta de Mário Centeno, o governo anterior reagiu em “condições pouco realistas” à resolução do BES, ao entender que era possível não só vender o Novo Banco de forma acelerada como ainda encaixar vários milhões de euros com a transação. “Parte deste irrealismo constata-se hoje ao ver que aquilo que era o balanço do Novo Banco não permitiria esperar da venda um resultado equivalente ao que era anunciado na altura”, começou por dizer o governante.
E prosseguiu: “O balanço do NB contém um conjunto de ativos cuja deterioração expetável vai muito para além do que na altura foi avaliado. Esta constatação visa não a decisão da resolução mas antes a constatação do que era o balanço do Novo Banco em agosto de 2014.” Mas mais do que isto é difícil esclarecer para quem assumiu o dossier a meio, explicou.
“A solução encontrada para constituir o Novo Banco, enquanto banco de transição, levanta muitas dificuldades na sua transação e tal decorre do que foi a avaliação feita à qualidade dos ativos presentes no balanço do banco”, acrescentou.
Mariana Mortágua insistiu na questão, questionando se “em 2014 já se saberia que as necessidades da resolução iam ser mais altas” e se por alguma razão se tentou conter o custo da operação à época. “Já se sabia a real dimensão? Porque foi insuficiente afinal?”
E aqui Mário Centeno lembrou que só quem lidou diretamente com a decisão da resolução e da divisão dos balanços entre maus e supostamente bons poderá responder às dúvidas da deputada do Bloco de Esquerda. E admitiu que também tem as mesmas dúvidas. “A resposta a essa constatação só pode ser dada por quem em agosto de 2014 lidou com a operação. Posso acrescentar que, dada a diferença das realidades, entre o então declarado e o que sabemos hoje, é que há algo que é preciso explicar.”