Parlamento esgrimiu argumentos sobre venda do Novo Banco. BE e PCP a pedir nacionalização, PS a dizer que se fez o possível
in: DN, 6 abril 2017
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O negócio de venda do Novo Banco ao Lone Star é um saco de boxe onde todos batem, uns com mais convicção do que outros. Ontem, na Assembleia da República, o Bloco de Esquerda (a que se juntaram PCP e PEV) quis voltar ao debate sobre esta venda, mas esbarrou no governo socialista, que, mesmo não gostando do negócio, defende-o com pancadas mais leves no tal saco, e com uma direita que foge da nacionalização como o diabo da cruz. PSD e CDS bem tentaram bater com mais violência, no entanto o saco teimoso insistia no ricochete contra os dois partidos que antes eram governo.
À esquerda do PS, voltou-se a colocar no centro do ringue a alternativa da nacionalização, mas a direita não esboçou quaisquer alternativas. Perante as críticas dos partidos do anterior governo à venda ao Lone Star e também à ideia de nacionalizar o antigo BES, Mariana Mortágua retorquiu: “E qual a vossa alternativa?” Pergunta que ficou sem resposta.
Já se sabe de que é feito o negócio fechado entre o Banco de Portugal, a Comissão Europeia, o governo português e o fundo abutre Lone Star: a entrega do ex-BES a custo zero, com o Fundo de Resolução a ficar ainda com 25% do capital do Novo Banco e uma “espécie de garantia” que pode vir a exigir mais 3,89 mil milhões a este fundo da responsabilidade do setor bancário.
Ao longo do debate algo ficou evidente: uns mais, outros menos, mas ninguém gosta do negócio. Uns aplaudem as ramificações de fechar o mesmo – mais um passo em direção à estabilização do setor -, outros preferiam as ramificações que chegariam por via de uma nacionalização, outros criticam que se defenda sequer esta opção. Quanto a outras vias alternativas além das defendidas pelo PS ou pelo PCP ou Bloco? Nada foi dito.
“Jamais um país que se leva a sério aceitaria isto”, atirou logo de início a deputada do Bloco de Esquerda Mariana Mortágua. “Como já sucedeu com o Banif, seremos a chacota da Europa.”
Coube ao socialista Eurico Brilhante Dias a defesa: “A solução é a menos má a partir de um ponto de partida péssimo”, atirando a “criança” para os braços do anterior governo. “Não podemos usar o passado para justificar más decisões no presente”, criticou a bloquista. “É a solução que nos permite continuar no caminho que temos trilhado desde o final de 2015”, contestou Eurico Dias. A ideia do PS e do governo é simples: a solução é positiva, mais não seja porque aproxima o Novo Banco da estabilidade – e, logo, o país. Mas foi a possível. “Se tivéssemos avançado pela nacionalização teríamos de assumir mais quatro ou cinco mil milhões em dívida pública, o que seria um sinal muito errado a meio da recuperação que estamos a encetar”, afirmou o deputado.
“Não vivemos no país das maravilhas mas vivemos no mesmo país que existia quando nos contaram a fábula da saída limpa”, afirmou depois o ministro das Finanças, Mário Centeno, lembrando as heranças deixadas pelo PSD e CDS nos bancos – Banif, venda falhada do Novo Banco e má capitalização da CGD. “Sendo uma solução equilibrada, não quer dizer que tenha sido a solução perfeita na perspetiva do Estado. Foi, porém, a melhor solução de entre o conjunto de alternativas que se apresentaram neste processo.”
De fábulas está o Bloco farto: “Prove com dados e não com fantasmas que a nacionalização não era a melhor opção do país”, pediu a deputada bloquista aos socialistas.
Já o PCP não tem grandes dúvidas: “A integração do Novo Banco no sistema público é uma solução que viabiliza o banco e salvaguarda até do ponto de vista orçamental a solução”, afirmou Miguel Tiago. Que até sugeriu o modelo dado ao Lone Star para a nacionalização: “Porque não ser o Estado a ficar com 75% e o Fundo de Resolução com 25% e o risco?”