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Novo Banco. Oferta do Aethel prevê que Estado fique com 9%

Fundo diz que Lone Star é um “oportunista” e que a proposta deste não defende contribuintes. Líder do Aethel preside duas sociedades nas ilhas Caimão

in: Dinheiro Vivo, 4 março 2017

A oferta apresentada pelo fundo Aethel para a compra do Novo Banco prevê a tomada de 91% do capital do ex-BES, com os 9% remanescentes a ficar em mãos públicas. Em troca de 91% do capital, o Aethel propõe-se pagar “até 2,8 mil milhões”, sem especificar as condições que influenciam este preço. E promete um aumento de capital de mil milhões no banco.

Os termos da oferta são parcialmente detalhados na carta enviada por este fundo ao Ministério das Finanças e Banco de Portugal no final de fevereiro, a que o Dinheiro Vivo teve acesso. O envio da carta foi noticiado na segunda-feira pelo Jornal de Negócios, que já em janeiro tinha revelado o interesse do Aethel no ex-BES.

Neste caso, tal como nos restantes “documentos confidenciais” que têm vindo a público sobre as ofertas pelo Novo Banco, nada é revelado sobre as ‘dores’ associadas a cada oferta. Falamos por exemplo de quantos trabalhadores serão despedidos ou balcões fechados, aspetos ausentes dos documentos ou partes destes que vão surgindo. Lone Star?

“Oportunistas!”

Na carta a Mário Centeno e Sérgio Monteiro, o Aethel não puxa apenas pela sua oferta, faz um ataque ao Lone Star, entidade escolhida para a última ronda negocial pelo Novo Banco. Além de riscar a hipótese de se associar a este fundo – “seria inaceitável” – , o Aethel critica a oferta: “Com base nas informações públicas, acreditamos que não serve os interesses da República”, afirmam, concluindo que serão melhores defensores do interesse público que “novos operadores oportunistas”.

A oferta do Aethel, porém, poderá também ela ser vista como oportunista: os investidores que participam neste fundo são aqueles que avançaram judicialmente contra o Banco de Portugal e que, agora, procuram fechar um acordo extrajudicial através da tomada do Novo Banco, ainda antes de qualquer decisão dos tribunais. “A estrutura do Aethel para avançar com a aquisição definirá os parâmetros para satisfazer os queixosos cujos valores, em última análise, teriam de ser pagos pelo Fundo de Resolução, reduzindo substancialmente o risco sobre o Estado”, diz a carta – um “detalhe” já antes noticiado pelo Eco.

Apesar das Finanças e do Banco de Portugal terem recebido e debatido a carta do Aethel, a verdade é que este fundo continua de fora da corrida, já em fase de negociações exclusivas com o Lone Star. A única forma de conseguir entrar na corrida passaria pela associação a um candidato que tenha percorrido o caminho todo, isto quanto o fundo recusa associar-se aos norte-americanos do Lone Star e sublinha que a sua oferta “vale por si só”. Uma outra hipótese passaria por ter o Banco de Portugal a alterar as regras a meio da venda, algo que, porém, pode acarretar ainda mais processos.

Aethel, Miguel Relvas e Caimão

A carta do Aethel é assinada por Aba Schubert e Ricardo Santos Silva, fundadores do fundo, mas a sociedade estende-se também a Miguel Relvas, ex-ministro de Passos Coelho e parceiro do Aethel na Pivot, sociedade presidida pelo mesmo Ricardo Santos Silva e que aproveitou os escombros de um outro banco colapsado, no caso o BPN, para avançar sobre o Efisa.

Mas além de ser o líder do Aethel e da Pivot, Ricardo Santos Silva é também presidente de outras duas sociedades, estas sediadas nas ilhas Caimão: a Danae, de consultoria, e a Perseus, dedicada à recuperação do crédito. Santos Silva apresenta ainda no currículo uma passagem de três anos pelo BES Investimento, entre 2004 e 2007.

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