Governo não conseguiu cumprir com condições prometidas, diz Domingues

Caixa Geral de Depósitos deve cortar 550 trabalhadores por ano até 2020. Domingues aponta que plano prevê lucros já este ano

in: Dinheiro Vivo, 5 janeiro 2017

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António Domingues, ex-presidente executivo da Caixa Geral de Depósitos (CGD), explicou ontem a sua saída do banco público, admitindo aos deputados presentes na Comissão de Orçamento e Finanças da Assembleia da República que o Governo se comprometeu com condições que, posteriormente, não conseguiu assegurar.

Em causa a exceção criada para que os gestores da CGD não estivessem ao abrigo das obrigações previstas no estatuto de gestor público, uma exigência de Bruxelas associada ao desejo de desligar o banco do setor público, segundo António Domingues. Contudo, a polémica política que esta exceção gerou tornaram a mesma impossível concretizar.

“Bruxelas sempre disse que a CGD tinha problemas de gestão há cinco anos, que era muito politizada, que o Estado tinha direitos especiais sobre os gestores, por isso foi necessário ser absolutamente rigoroso e mostrar que o que ia acontecer daqui em diante era diferente. Todos estes aspetos fizeram parte de um projeto de negociação, que de outra forma não tinha condições de vingar”, disse.

A polémica e o debate político que estalaram à volta da exceção criada para os gestores do banco, porém, levou a que “a certa altura, o Governo deixasse de ter condições políticas” para cumprir com as condições que tinha inicialmente oferecido para Domingues formar uma equipa para gerir a CGD. A polémica levou mesmo o próprio gestor a alertar o Governo para a necessidade de ter um “plano b”, já que “o debate, nos termos em que estava a evoluir”, iria obrigar a um recuo.

“Fui convidado e mandatado para convidar um conjunto de pessoas em certas circunstâncias e a certa altura essas alteraram-se”. Assim, logo que começou a ser confrontado com o recuo dos gestores que tinha convidado, “senti que não tinha condições para continuar e como a demissão já não punha em causa a capitalização, foi o que fiz”.

Mas António Domingues também abordou um dos problemas que identificou nestas regras sobre os gestores públicos: o risco de “ter as declarações de rendimentos e património espalhados nos tabloides” é um travão à capacidade de atrair pessoas qualificadas para a gestão pública, disse.

2200 saídas e milhões de lucro

Os deputados aproveitaram a presença de António Domingues na Assembleia para detalhar um pouco mais os cenários incluídos na recapitalização da CGD, desenhada pelo próprio. O corte de 550 colaboradores por ano e a obtenção de lucros já este ano foram as revelações do ex-CEO do banco.

Segundo António Domingues, e apesar de ter sido desenhado com previsões bastante prudentes e conservadoras, a CGD poderá ambicionar lucros de 200 milhões de euros já este ano e de até 700 milhões em 2020, contribuindo muito para esta inversão a dimensão de prejuízos que serão assumidos nas contas de 2016: o banco vai aproveitar o fecho do exercício do ano passado para limpar cerca de três mil milhões ao balanço.

Em relação aos cortes de pessoal da CGD, o plano de recapitalização prevê uma redução de 2200 colaboradores até 2020, mas sem recurso a rescisões “amigáveis”. Cerca de 600 saídas ocorrerão através de reformas e não renovação de contratos a termo e o resto são pré-reformas, referiu aos deputados.

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