Para não ficar sem alternativas, e manter alguma pressão sobre o Lone Star, o BdP decidiu não riscar nenhum dos outros candidatos
in: Dinheiro Vivo, 5 janeiro 2017
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O Banco de Portugal decidiu convidar o fundo de investimento Lone Star a “aprofundar negociações” para a compra do Novo Banco.
Esta foi a forma encontrada pelo supervisor para abrir uma nova ronda negocial com este candidato que permita “minimizar ou remover” da proposta norte-americana as “condicionantes” da mesma que apresentam “potencial impacto nas contas públicas”. Em causa estará a exigência por parte do Lone Star de garantias públicas para concretizar a sua proposta, exigência que o ministro das Finanças já deixou claro que recusaria.
Apesar de ter finalmente surgido uma decisão do Banco de Portugal em relação à corrida pelo Novo Banco, a verdade é que, e para todos os efeitos, nenhum dos candidatos foi riscado da corrida mesmo que o Lone Star tenha confirmado a sua posição privilegiada na corrida. Mas para a concretizar, terá que deixar cair as tais condicionantes da oferta.
“Esta nova fase de negociações com o potencial investidor Lone Star não exclui a melhoria das propostas dos restantes potenciais investidores”, salienta ainda o comunicado do BdP, divulgado ontem perto da meia-noite. Estas novas negociações continuarão ainda sobre responsabilidade do Banco de Portugal.
O governo deverá agora avaliar a posição tomada pelo supervisor ainda hoje, durante a reunião do conselho de ministros.
Impacto nas contas públicas
“O Banco de Portugal (…) concluiu com base nos elementos disponíveis nesta data que o potencial investidor Lone Star é a entidade mais bem colocada para finalizar com sucesso o processo negocial tendente à aquisição das ações do Novo Banco e decidiu convidá-lo para um aprofundamento das negociações”, refere então o supervisor no comunicado ontem divulgado.
A opção do banco central em abrir nova ronda de negociações para extrair os riscos para os contribuintes que a proposta do fundo norte-americano apresenta parece refletir a posição assumida também ontem pelo governo, através de Mário Centeno, que em entrevista ao DN/TSF deixou bem claro que “uma garantia de Estado para suportar um negócio privado e que ponha em risco dinheiro dos contribuintes é obviamente algo que nós não estamos a perspetivar neste negócio”.
Como a decisão final compete ao governo, é natural que algumas cláusulas da oferta tenham que ser revistas, caso contrário a oferta pode ser chumbada.
Conforme explica o comunicado do BdP, e apesar da proposta do Lone Star ser a que melhor assegura “a estabilidade do sistema financeiro e o reforço da confiança no futuro do Novo Banco”, a verdade é que está longe de ser perfeita do ponto de vista dos contribuintes.
“No momento atual da negociação, a proposta do potencial investidor Lone Star é a que mais assegura estes objetivos [estabilidade e confiança] mas apresenta condicionantes, nomeadamente um potencial impacto nas contas públicas, que se procurarão minimizar ou remover no aprofundamento das negociações que agora se inicia”, diz o supervisor.
A posição do BdP surge depois de ontem o governo ter atirado um balde de água fria sobre o favoritismo do Lone Star, ao chumbar qualquer intenção de associar garantias públicas à venda do Novo Banco. A proposta do fundo norte-americano prevê, além de 750 milhões de pagamento e de um aumento de capital na instituição, a criação de um veículo para ficar com os ativos não estratégicos do banco, veículo em que parte dos riscos ficaria com os contribuintes.
Para não ficar sem alternativas, e assim manter alguma pressão sobre o Lone Star, o BdP decidiu também não riscar nenhum dos outros candidatos que “já mostraram disponibilidade” para melhorar as propostas no futuro.
Esta abertura negocial pode ser determinante já que tanto a oferta da Apollo/Centerbridge como a apresentada pelo Minsheng estão essencialmente dependentes de tempo: os primeiros para terminar a análise ao ex-BES, os segundos para obter a garantia exigida.