FMI alerta: imóveis estão a voltar a preços pré-crise
Economistas do FMI realçam que ainda não é hora de pânico, mas de reforçar vigilância. Portugal com a 15ª maior subida anual entre 63 países estudados
in: Dinheiro Vivo, 11 dezembro 2016
Os preços dos imóveis em vários países estão a subir aceleradamente até aos níveis pré-crise, alerta um estudo de economistas do Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgado na quinta-feira. A hora ainda não é de pânico mas é tempo de apertar a vigilância, pedem.
“Entre 2007-08, os preços dos imóveis colapsaram marcando o início da crise. Agora, o índice de preços de habitação do FMI mostra que estamos quase de volta a preços pré-crise”, apontam Hites Ahir e Prakash Loungani, do FMI. “É hora de nos voltarmos a preocupar?”
Analisados os preços e as condições de mercado de dezenas de países, a resposta é que chegou o tempo de apertar a vigilância para se evitar o erro de achar “que desta vez é diferente”. E explicam o porquê de ainda não ser hora de pânico: a evolução dos preços não está a ocorrer de forma sincronizada em todos os países e cidades ao contrário do pré-crise, e hoje já existe alguma regulação para contrariar estas “bolhas”.
Portugal: Bust and Boom
Os economistas analisaram a evolução do mercado em 63 países, identificando e dividindo 57 por três tipos comportamentos: Em 18 países, os preços caíram com a crise e assim persistem; na segunda categoria, também com 18 países, os preços colapsaram e sobem agora de forma significativa. Por fim, em 21 países os preços caíram um pouco e revalorizaram logo.
O estudo coloca Portugal na segunda categoria, a que chamam de bust and boom, já que depois de uma queda acentuada os preços voltaram a ter subidas significativas a partir de 2013. Segundo os dados avançados pelo FMI, os imóveis em Portugal valorizaram 6,4% no último ano, o 15º registo mais elevado dos países analisados [em baixo]. Esta evolução surge apesar da contração do crédito em Portugal e do quase congelamento dos ganhos médios no país, salientam.
Mas a falta de crédito em países como Portugal é outra razão para os responsáveis do FMI recomendarem “vigilância”. “Muitos dos ‘booms’ no imobiliário foram alimentados pelo excesso de crescimento do crédito.” Desta vez, o detonador é outro, a falta de oferta. “As licenças para novas habitações cresceram só modestamente (…) e o impacto das limitações da oferta é evidente em várias cidades”, dizem.
Isto não é melhor, nem pior, é diferente: “Mesmo que os preços subam só devido à oferta, o impacto no endividamento das famílias pode ser adverso para a estabilidade financeira.”
É que a subida de preços não encontra correspondente nos rendimentos das famílias que, com a entrada de investidores a puxar preços, acabam por ser obrigadas a um maior esforço (risco) para comprar ou arrendar uma habitação – vários investidores estão a refugiar-se no imobiliário numa fase de rentabilidade reduzida em vários ativos e de receios vários em relação ao futuro de outros ativos.
Outros alertas: BCE e CMVM
A análise dos economistas do FMI surge depois de na última semana também o Conselho Europeu para o Risco Sistémico (CERS), do Banco Central Europeu ter apontado baterias ao mercado imobiliário residencial da zona euro. O CERS emitiu no início do mês alertas a oito países da União Europeia por identificar nos mesmos “vulnerabilidades de médio-prazo” no mercado imobiliário suscetíveis de ter impacto sistémico na estabilidade financeira de toda a região.
Também o ex-presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), Carlos Tavares, já alertou para o regresso da tendência de subida acentuada de preços dos imóveis em vários países, além de vários outros sinais “preocupantemente paralelos” à crise de 2008.
“Vários mercados retomaram o comportamento ascendente dos preços, encontrando-se hoje em alguns casos já bem acima dos níveis de 2007. Outros mercados, que no pré-2007 tinham escapado às bolhas imobiliárias (casos dos países do norte da Europa continental, do Canadá, da Austrália e da Nova Zelândia, por exemplo), têm hoje comportamentos de preços que dificilmente poderão deixar de ser classificados como ‘bolhas’”, alertou num estudo publicado em outubro pela CMVM.