CGD vai limpar 2800 milhões de prejuízos acumulados no passado
BCE aprovou recapitalização e banco recorre às reservas e avança para aumento e redução do capital social para cobrir perdas acumuladas no balanço
in: Dinheiro Vivo, 10 dezembro 2016
A Caixa Geral de Depósitos (CGD) arrancou ontem com o plano de recapitalização, prevendo nos primeiros passos do mesmo avançar para a limpeza de até 2,8 mil milhões de euros em prejuízos acumulados em anos anteriores.
A CGD informou ontem ter recebido autorização do Banco Central Europeu para colocar a recapitalização em andamento, autorização que levou o banco público a apresentar os obrigatórios pedidos formais ao acionista Estado e colocar a operação de pé.
As informações do banco foram comunicadas através da Comissão do Mercado dos Valores Mobiliários (CMVM) já ao final da tarde desta sexta-feira.
Ler também: BCE aprova recapitalização e CGD avança com primeira fase
Segundo refere a CGD ao regulador da Bolsa, a autorização do supervisor permite dar o tiro de partida às operações societárias previstas na primeira fase de recapitalização que, desta forma, ainda será liderada por António Domingues, CEO da CGD, até final do ano, tal como já tínhamos avançado.
Limpar resultados transitados
O primeiro passo do plano ontem detalhado pela CGD passa então por uma operação de engenharia financeira que, no total, vai limpar até 2,8 mil milhões de euros de perdas acumuladas nos últimos anos pelo banco estatal. No final de 2015, e segundo o relatório e contas do grupo CGD, o valor global de resultados transitados do banco ascendia a -3,4 mil milhões de euros.
Esta “cobertura de prejuízos transitados” vai incidir na CGD, SA e virá de duas etapas distintas previstas na primeira fase: primeiro, o banco vai recorrer das “reservas livres e da reserva legal, no montante de 1,412 mil milhões de euros, para cobertura de igual valor dos prejuízos transitados de exercícios anteriores”.
Depois, e já através de uma redução do capital social, a CGD verá libertada uma outra fatia de “1,404 mil milhões” para a “cobertura do saldo remanescente dos prejuízos transitados” mas também para a “cobertura de reservas de elementos distribuíveis negativos”. Esta operação tem como objetivo limpar o “histórico” do banco de modo a que possa colocar títulos de fundos próprios junto de privados.
As outras etapas da primeira fase
A limpeza de prejuízos é apenas um dos passos previstos para avançar agora, pois a CGD vai avançar igualmente com operações que farão do seu capital social uma espécie de acordeão: primeiro, este é aumentado em 1,43 mil milhões para 7,3 mil milhões, com a integração da ParCaixa (490 milhões) e conversão dos CoCos e juros associados (938 milhões).
Depois, o capital social do banco é reduzido em 6 mil milhões, para 1,3 mil milhões de euros, com a extinção de 1,2 mil milhões de ações de 5 euros cada. Desta redução, e além da fatia já referida para cobrir perdas passadas, o valor remanescente “de 4,59 mil milhões de euros” vai servir para “a constituição de uma reserva livre de igual montante”, explica o banco.
Segunda fase: Estado e privados
Este aumento e posterior redução do capital social da CGD será completado por uma terceira mexida no capital, já na segunda fase da recapitalização com Macedo ao leme, quando o Estado injetar até 2,7 mil milhões em dinheiro no capital social do banco. Só então avançará a primeira colocação de dívida junto de privados, de 500 milhões.
Esta segunda fase da recapitalização deve ocorrer em abril de 2017, ou seja, após a aprovação das contas de 2015 do banco público.
As “operações integram-se no processo de recapitalização da CGD, S.A. (…) que visa o reforço dos seus rácios de adequação de fundos próprios nos termos do acordo de princípio alcançado entre o Estado e a CE”, detalha a CGD no comunicado.