SCP registou prejuízo de 32 milhões, custo com salários duplicou e entrada de Jesus levou 140 mil euros em comissões. Salário da gestão disparou 120%
in: Dinheiro Vivo, 9 setembro 2016
O Sporting aumentou os custos com pessoal em 95% na última temporada em comparação com a anterior, com o total de salários e encargos relacionados a disparar de 25 milhões para 48,8 milhões de euros.
A época ficou marcada pela decisão do reforço da “competitividade desportiva e capacidade negocial do clube” mas este maior reforço não veio sem um aumento de esforço: além do aumento dos gastos com salários, o Sporting foi ainda obrigado a puxar os cordões à bolsa no que toca ao pagamento de comissões e… de salários dos seus administradores, que mais do que duplicaram.
“A época desportiva 2015/2015 fica marcada pela contratação do treinador Jorge Jesus, ex-atleta do clube e sócio”, começa por apontar o relatório e contas da época de 2015/2016 do Sporting Clube de Portugal, documento divulgado esta quinta-feira à noite. “Acresce ainda que por razões relacionadas com a competitividade desportiva e capacidade negocial foi decidido, embora existissem propostas, não efectuar vendas de jogadores com este propósito, na chamada janela de mercado de inverno”, detalha ainda o documento sobre as opções da administração.
Tudo somado, o Sporting passou de 19 milhões de lucros para prejuízos de 32 milhões de euros.
Em relação aos prejuízos, o Sporting salienta o impacto que o “caso Rojo” teve nas suas contas, já que obrigou ao “reconhecimento de gastos não recorrentes de 14,9 milhões de euros (…) num processo que se encontra ainda em contencioso nos tribunais Suíços. Sem este impacto, o prejuízo do ano seria de cerca de 16,9 milhões de euros”, diz o clube. O “caso Rojo” diz respeito ao contencioso com a Doyen, que procura receber 75% do montante da venda do defesa central ao Manchester United já que alega ser detentora de 75% dos direitos económicos do mesmo.
Pela positiva, o Sporting destaca o aumento das receitas operacionais conseguido ao longo da época passada, que cresceu 10 milhões de euros para 68,75 milhões. Já sem contar com as receitas obtidas com vendas de jogadores, o aumento nas receitas atingiu os 23 milhões. Este crescimento das receitas permitiu compensar apenas parcialmente o aumento dos custos incorridos pelo clube.
Salários e comissões
“Efectivamente, o aumento verificado de 26,4 milhões de euros justifica-se fundamentalmente pelo acréscimo na rubrica de gastos com o pessoal”, assume o relatório e contas do Sporting. Só em “encargos com pessoal”, mostra a mesma fonte, a subida foi 23,75 milhões de euros, custando assim todo o aumento conseguido ao nível das receitas.
O Sporting justifica a subida nos custos com pessoal com uma opção deliberada da administração, já que “na época desportiva 2015/16 decidiu-se investir fortemente no reforço do plantel e da equipa técnica, antecipando um período de oportunidade e de capacidade para esse investimento”. Para o clube, esta opção permitiu, por exemplo, dar “uma maior visibilidade dos atletas do Sporting permitindo as alienações de direitos ocorridas já em Agosto de 2016”, referindo-se a João Mário e Slimani, mas também um acordo mais proveitoso ao nível da cedência dos direitos de TV.
É precisamente com as vendas de João Mário e de Islam Slimani fechadas já na atual época que o Sporting pretende compensar a situação de falência técnica em que caiu com o esforço efetuado na temporada passada. Em 2014/2015, os capitais próprios do Sporting eram positivos em 7 milhões de euros.
O clube assume no relatório e contas que “o efeito do prejuízo” da época passada levou os capitais próprios – total de ativos subtraídos do total dos passivos – para terreno negativo. Esta situação, diz o clube, “será bastante mitigada na época de 2016/2017 com as referidas mais-valias decorrentes da alienação dos direitos dos jogadores João Mário e Islam Slimani”.
Um outro aspeto a salientar nos dados agora conhecidos sobre as contas do Sporting na época passada está nos gastos do clube com comissões: aos 347 mil euros de despesa nesta rubrica registada na época de 2014/2015, sucederam-se 1,6 milhões de euros na época passada: mais 370%. Nas comissões estão incluídas não só as verbas envolvidas nas compras de jogadores mas também com a renovação de contratos, empréstimos ou, no caso do ano passado, da contratação da equipa técnica.
Segundo o documento do Sporting, a “contratação da equipa técnica” da equipa de futebol profissional, liderada por Jorge Jesus, exigiu o pagamento de uma comissão de 140 mil euros. Já as comissões pagas para contratar jogadores atingiram os 607 mil euros, com a renovação de contratos a obrigar ao pagamento de mais 222 mil euros.
Salários da gestão
Para o aumento dos gastos com pessoal do Sporting na época passada também contribuíram os gastos com os salários dos administradores do clube, que dispararam 150%: se em 2014/2015, três administradores levaram 171,5 mil euros para casa, em 2015/2016 os quatro administradores já levaram 450 mil euros de remuneração. Olhando apenas em base comparável, os mesmos três administradores passaram de custar 171,5 mil euros para custar 374,5 mil euros ao clube, mais 120%.
Bruno de Carvalho levou para casa 238 mil euros de remuneração entre pagamentos fixos (224 mil euros) e variáveis (14 mil euros), valores que colocaram o salário médio mensal bruto do presidente nos 17 mil euros. Este número compara com a remuneração fixa de 10,5 mil euros brutos prevista pelos estatutos do clube para o presidente da comissão executiva.
A remuneração de Bruno Carvalho em 2015/16, porém, incluiu “valores retroativos respeitantes à época de 2014/2015” no que toca ao salário fixo, verbas que foram pagos na época seguinte. Estes valores retroativos já não existiram em relação aos restantes administradores do clube, cujas remunerações anuais variaram entre os 73,5 mil e os 54,5 mil euros na época passada entre fixo e variável.