BCP passa nos testes mas stressa nas contas com 197 milhões de prejuízo

Reforço das imparidades para crédito, queda de 22% do produto bancário e de 5,7% no crédito pesaram nas contas do banco. Mas melhora testes de stress

In: Dinheiro Vivo, 30 julho 2016

Aumento das imparidades para crédito e outros itens “não habituais” provocaram uma reviravolta nas contas do BCP – o banco anunciou prejuízos de 197,3 milhões de euros nos primeiros seis meses do ano, contra lucros de 240,7 milhões na primeira metade de 2015. A notícia positiva para o BCP é que passou nos testes de stress do Banco Central Europeu (BCE).

O aumento das imparidades para créditos, de 463,7 milhões para 618,7 milhões de euros, foi um dos fatores com mais peso na deterioração das contas do banco presidido por Nuno Amado. Mas não a única: o produto bancário – receitas – recuou 22,6%, de 1,37 mil milhões para 1,06 mil milhões, quebra essencialmente explicada pelo encaixe de menos 62% com operações financeiras. Nos primeiros seis meses de 2015, o BCP tinha ganho 273,6 milhões de euros com dívida pública, o que não se verificou agora.

Os itens que pesaram nos prejuízos do BCP, diz o banco, são essencialmente “não habituais”. Sem eles até teria obtido um lucro de 56,2 milhões de euros, valor que coloca em comparação com perdas de 21,2 milhões que teriam sido os resultados do BCP nos primeiros seis meses de 2015 sem estes mesmos “itens não habituais”.

Ao nível da margem financeira – juros cobrados e obtidos -, o BCP registou uma subida de 5,1%, de 571 milhões para 600,8 milhões de euros ano primeiro semestre deste ano. Nos resultados de ontem, destaque também para a redução de 5,7% no crédito bruto a clientes até junho, sentida tanto ao nível dos particulares como das empresas. Já virando atenções para os rácios de solidez, nota-se uma deterioração no primeiro semestre do ano: o Common Equity Tier 1 (CET1) caiu de 13,1% para 12,3%.

As imparidades

A melhoria da atividade core do BCP, mas também a “pressão do mercado e reguladores sobre estes temas”, foram as razões apresentadas por Nuno Amado para o banco ter acelerado o reconhecimento de imparidades no segundo trimestre do ano. “Achamos que hoje temos um resultado core muito mais forte, sustentado, que no futuro já nos alimentará os resultados”, disse.

“A imparidade do crédito (líquida de recuperações) cifrou-se em 618,7 milhões de euros no primeiro semestre de 2016, face a 463,7 milhões em igual período de 2015, traduzindo, o registo de dotações adicionais que possibilitaram o reforço dos níveis de cobertura respetivos”, refere o banco. “O aumento extraordinário das imparidades, com efeito nos resultados hoje apresentados, vai permitir olhar para o futuro com outros olhos”, assegurou Nuno Amado. Ao elevar o ritmo de reconhecimento das imparidades no balanço, o BCP destaca que elevou o “reforço da cobertura dos NPE [exposições não performantes]” de 91% para 97%.

Contudo, olhando para o rácio do crédito vencido há mais de 90 dias sobre o crédito total, este manteve-se inalterado em junho de 2016, em 7,5%, sobretudo graças ao recuo já referido no crédito total.

Rácio de stress: de 2,99% para 7%

O BCP adiou a divulgação das contas para ontem de forma a publicá-los ao mesmo tempo que também dava conta dos “bons resultados” obtidos pela entidade nos testes de stress realizados pelo Banco Central Europeu . “O resultado do teste de stress comprova a evolução favorável do BCP”, garantiu Nuno Amado.

Segundo estes testes, o BCP registaria um CET1 superior a 7% no cenário mais adverso considerado pelo BCE – quebra do PIB de 5%, por exemplo -, valor que compara com os 5,5% de referência para o setor e os 2,99% obtidos pelo banco nestes testes em 2014. “É claramente melhor”, sintetizou o CEO do banco, assegurando que também este ponto reforçou a confiança na decisão de aumentar o ritmo das imparidades.

Em relação a outros temas em que o BCP está envolvido, seja aumentos de capital, desblindagem de estatutos ou a operação de reverse stock split, Nuno Amado nada avançou. E sobre o Novo Banco, confirmou apenas ter apresentado uma “carta de interesse”, sem adiantar pormenores e que, em setembro, se saberá qual a decisão sobre o pedido do BCP para devolver mais 250 milhões de obrigações convertíveis (CoCo’s).

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