CGD. Estratégia e cortes vão ditar custo da recapitalização

O governador do Banco de Portugal fez da “ameaça” que é a CPI uma “oportunidade” para reforçar que o banco estatal está sólido e é essencial

In: Dinheiro Vivo, 29 julho 2016

Carlos Costa, governador do Banco de Portugal, fez da “ameaça” que a comissão parlamentar de inquérito à Caixa Geral de Depósitos pode representar para a imagem do banco público “uma oportunidade para esclarecer muito bem a solidez” da instituição. E aproveitou para explicar aos deputados que a dimensão da recapitalização da CGD depende sobretudo da estratégia – e dos cortes – que vierem a ser decididos.

Carlos Costa começou pelo elogio aos últimos anos da Caixa. “Não obstante o cenário e a evolução das taxas de juro terem sido menos favoráveis do que o previsto”, a CGD conseguiu acomodar a evolução económica negativa dos últimos anos sem recorrer a qualquer aumento de capital adicional além do realizado em 2012 – 1,65 mil milhões de euros, 900 milhões dos quais em obrigações subscritas pelo Estado.

“É importante fazer justiça a quem geriu a CGD neste período” bastante adverso, sublinhando que o banco “tem sido um pilar de confiança e estabilidade” em toda a sua história” e também nos últimos seis anos. O governador destacou que em termos de rácios prudenciais a CGD compara bastante bem com os restantes bancos em Portugal.

Mas quanto?

Os deputados da CPICGD, contudo, estavam mais interessados em apurar o montante de recapitalização do banco público.

“Será uma questão de estratégias e ninguém as pode julgar no início e sem existir sequer um business plan”, explicou o governador ontem, tendo aproveitado para pedir aos partidos que não façam da CGD uma arma. “Estamos todos de acordo que o banco é um pilar fundamental, logo é preciso também estar de acordo que precisa de solidez e de um plano com o mínimo de ruído e o máximo de eficácia.”

Confrontado com os valores que vieram a público sobre as necessidades da CGD e também com o facto de José de Matos ter dito que esses números são mais elevados do que aqueles com que chegou a trabalhar, o governador recordou que o plano do ainda CEO previa apenas o mínimo dos mínimos. E que a dimensão da recapitalização depende da ambição do plano a ser desenhado.

“O valor de uma recapitalização associada a um plano de reestruturação” depende em primeiro lugar do ponto de partida da instituição em termos de balanço e “sobretudo da missão do plano que se quer levar a cabo, tanto em termos de profundidade como de prazos e de rapidez”.

Identificou então quatro fatores para apurar (e decidir) as necessidades da CGD: “A evolução futura da conta de resultados, nomeadamente o risco de imparidades futuras”; a “almofada de capital que se deseja para fazer face a cenários mais adversos”; a “urgência da banca em repensar o seu modelo de negócio” e, por fim, o “se avança com uma reestruturação para responder aos desafios futuros”. E este é o mais determinante.

Imparidades: 6,6 mil milhões

Sobre o passado da CGD, Carlos Costa lembrou que o banco acumulou 6,6 mil milhões de euros em imparidades desde 2010 – 4,5 mil milhões de imparidades a nível dos créditos e mais 1,9 mil milhões em perdas com participações financeiras. Mas, apesar destes valores, recusou que os casos possam ser vistos como “torrar” dinheiro.

“A conjuntura económica adversa gera perdas no mercado, dificuldades para as empresas e perdas de rendimento para os particulares, logo não temos de nos admirar que tais situações se transformem em dificuldades espalhadas no balanço dos bancos”, explicou aos deputados.

“O que temos de perceber é se esse facto [imparidades] foi condicionado pela forma como foi distribuído o crédito e pelo impacto setorial da crise”, explicando que é natural que entidades “mais expostas à construção e ao imobiliário” tenham sofrido mais, tal como os bancos mais expostos a créditos e ao consumo.

Mas em todas estas imparidades, e além de empresas e particulares, há também os casos de investimentos não produtivos, admitiu, investimentos que até podem fugir do âmbito de operação da CGD. “Há também casos de financiamentos de participações sociais”, explicou, referindo-se a financiamentos do banco público para aquisições ou reforços de posições acionistas noutras empresas. Mas será esse o papel de um banco estatal? “É uma questão que cabe ao acionista refletir”, perguntou e respondeu o governador.

“Será que o banco público existe para financiar estes investimentos ou apenas investimentos reais? Não me posso substituir ao decisor público. Há quem diga que sim, quando é preciso manter o tecido empresarial em mãos portuguesas, mas também há quem seja contra. Mas isto faz parte da política, não da supervisão.”

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