CoCo’s. Bancos pagaram 1115 milhões de euros em juros entre 2012 e 2015
Os três bancos que não reembolsaram CoCos entregaram 161 milhões em juros em 2015: CGD pagou 81,4 milhões, mais 4%, BCP 68 milhões e Banif 12 milhões
in: Dinheiro Vivo/DN/JN, 4 julho 2016
Os bancos que recorreram ao apoio do Estado para se recapitalizarem pagaram um total de 1114,8 milhões de euros só em juros entre junho de 2012 e dezembro de 2015, de acordo com a Conta Geral do Estado (CGE).
Olhando apenas para 2015, o Estado encaixou 161,3 milhões em juros com estes instrumentos de capital contingente (CoCo’s), pouco mais de metade do encaixe obtido em 2014, quando os juros de estes instrumentos superaram os 301 milhões de euros. Nesse ano, o BPI ainda pagou juros até junho, deixando de ter encargos a partir de então, já que reembolsou na íntegra até esse mês os 1500 milhões que tinha pedido de empréstimo.
Ao todo, o Estado ajudou quatro bancos a financiarem-se em 5,8 mil milhões de euros desde 2012 através de CoCo’s, sendo que quatro anos volvidos há ainda 1,65 mil milhões por reembolsar, da responsabilidade da Caixa Geral de Depósitos e Millennium bcp.
O banco público ainda detém 900 milhões de euros por pagar. Este montante é uma das parcelas dos cálculos da recapitalização da CGD que António Domingues, o novo CEO, exigiu para aceitar o cargo. Nos quatro a cinco mil milhões que serão injetados na CGD, 900 milhões deverão ser transformados em capital pelo acionista Estado.
Além de estar obrigada a saldar os CoCo’s até 2017, o não reembolso dos instrumentos acarreta um custo elevado para o balanço das instituições, já que têm um juro elevado, daí a urgência da CGD em começar a reduzir a exposição aos mesmos.
Como exemplo veja-se que o BPI subscreveu 1500 milhões e, mesmo tendo reembolsado tudo em dois anos, incorreu num custo total de 167 milhões em juros. E este é um dos fatores que penaliza as contas da CGD.
De acordo com a Conta Geral do Estado, o banco público viu os encargos com juros relativos aos CoCo’s subir em 2015, de 78,2 milhões para 81,4 milhões, quase metade dos prejuízos registados pelo banco público em 2015, de 172 milhões.
Mas além da Caixa Geral de Depósitos, também o BCP continua a contas com as faturas dos instrumentos de capital contingente. O banco liderado por Nuno Amado recorreu a 3000 milhões de euros em CoCo’s, tendo chegado ao final de 2015 com 750 milhões por reembolsar. Esta “mochila” às costas do BCP custou 67,8 milhões em juros só no ano passado – custo 62% inferior ao suportado em 2014, ano em que BCP reembolsou 2,25 mil milhões.
O BCP espera atualmente autorização do Banco Central Europeu para saldar mais 250 milhões de CoCo’s ao longo do corrente exercício, de acordo com o CEO do banco.
O ano passado ficou marcado pelo colapso do Banif, o terceiro dos bancos ainda a contas com estes instrumentos financeiros. Apesar de ter solicitado ao Banco de Portugal autorização para pagar a última tranche de CoCo’s no final de 2014 – tinha ainda 125 milhões por saldar – o supervisor considerou, na altura, não estarem reunidas condições para a operação, que, aliás, não mais foi solicitada pela administração. O valor acabou por concorrer para a fatura paga pelos contribuintes na resolução do banco, de 2,2 mil milhões. Ainda assim, e até dezembro de 2015, o Banif pagou 12 milhões em juros pelos CoCo’s.
Banca: a fatura dos contribuintes
Além dos CoCo’s, os contribuintes estão, desde 2008, a ser chamados de forma recorrente a salvar a banca em Portugal. Segundo o Tribunal de Contas, os diferentes governos avançaram com 17,6 mil milhões de euros para o setor bancário entre 2008 e 2014.
O dinheiro entregue ao setor financeiro representava então 10,2% do PIB e trouxe igualmente receitas, como o pagamento de juros. Contudo, o encaixe do Estado no mesmo período foi de 5,8 mil milhões, pelo que o prejuízo líquido dos contribuintes, nesse período, somou qualquer coisa como 11,8 mil milhões de euros, buraco equivalente a 7% do PIB de 2014.
Não por acaso, entre 2008 e 2014, a dívida pública portuguesa explodiu de 71% para 130% do PIB, subida que elevou de forma expressiva os juros pagos pelos contribuintes: se em 2008 rondavam os 5 mil milhões de euros, em 2014 foram 7,6 mil milhões, mais 52%.