União traria 400 milhões em sinergias mas o dobro de balcões e trabalhadores. Compra elevará necessidades de capital do BCP para mais de 3000 milhões
in: Dinheiro Vivo, 6 junho 2016
A compra do Novo Banco pelo BCP – “o candidato óbvio” para o Société Générale – pode trazer um ganho potencial de 400 milhões de euros em sinergias, criando e reforçando um novo gigante no mercado, que quase duplica a dimensão da CGD. Mas o negócio acarretará algumas dores de crescimento, obrigando a cortar no número de agências e de postos de trabalho.
“A CGD, dadas as necessidades de capital, não está em posição de avançar para o negócio. Santander e o CaixaBank, através do BPI, iam criar reações sociais adversas, logo o BCP surge como o candidato óbvio.” A união dos dois bancos, de acordo com as contas às sinergias feitas pelo Société Générale (SG), representará um ganho de 250 milhões de euros do lado dos custos, vindos da redução do preço de financiamento da nova entidade face ao hoje suportado pelo Novo Banco. Já nas receitas, o ganho potencial ascenderia a 150 milhões.
Contactado, o BCP, acionista da Global Media Group, dona do DN, JN ou Dinheiro Vivo, optou por não comentar estas projeções do Société Générale.
Quotas e regulação: sair das PME
Mas além das sinergias, há que ter em conta os problemas que a entrega de um dos maiores bancos do sistema financeiro a outro implica. Desde logo a nível concorrencial.
O banco a sair da união Novo Banco/BCP teria 25% de quota nos créditos a particulares e mais de 35% no crédito a empresas, superando a CGD em ambos. Daí que o Société Générale aponte que “o primeiro problema que o banco presidido por Nuno Amado enfrentará será das autoridades de concorrência”. Mas não é inultrapassável: “Seria possível chegar-se a um acordo para a nova entidade desinvestir em segmentos, o suficiente para a operação ser aprovada.”
A cedência do mercado das pequenas e médias empresas seria o preço a pagar pela fusão em termos concorrenciais, dizem os analistas, lembrando que tanto o BPI como o Santander estão “sub-representados” nesse segmento.
O capital e o mercado
A evolução do BCP na Bolsa – as ações estarão hoje protegidos de vendas a descoberto, devido à nova proibição decretada pela CMVM, a segunda numa semana -, é um sintoma de um dos males que aflige o banco – as exigências de capital que enfrenta. Exigências que só aumentarão com a absorção do Novo Banco. “O negócio hipotético parece bom no papel mas para se obterem as sinergias e recolocar o Novo Banco em ordem, será necessário mais capital.”
“Pelas nossas estimativas, o BCP precisará entre 1600 e 2000 milhões de euros e isto num cenário em que não paga nada pelo Novo Banco”, dizem os analistas. São 1147 milhões para provisões e mais 730 milhões em custos de reestruturação. A este valor há que somar os 750 milhões que o BCP deve de CoCos.
Tudo somado, o Société Générale estima que o BCP precisará de um aumento de capital a rondar os três mil milhões, “um número difícil de atingir, dadas as atuais condições de mercado em Portugal”. Ou seja, apesar de a operação fazer sentido na teoria, na prática será muito difícil. Ainda para mais quando o maior acionista do BCP, a Sonangol, agora liderada por Isabel dos Santos, atravessa ela própria uma fase de reestruturação, desejando recentrar-se na atividade core, e quando os potenciais rivais do BCP na corrida apresentam-se em melhor posição em termos de capital, rácios e ativos não rentáveis.
Custos sociais
Um outro factor a ter em atenção, e que se aplica a quase todos os interessados, é o custo que a entrega do Novo Banco a um dos maiores bancos já presentes no mercado terá em termos de emprego. Apesar do regresso da tendência de criar bancos cada vez maiores, o preço desta opção é elevado, ainda para mais quando o setor já tem dos mais baixos rácios de eficiência da zona euro, com excesso de balcões e trabalhadores.
Extraindo da equação a CGD e o Totta – que cresceu em resultado da absorção do Banif -, a união Novo Banco/BCP implica a fusão entre os dois bancos com mais trabalhadores e balcões, que criará um gigante obeso com 14 mil trabalhadores e 1300 balcões, segundo contas do Dinheiro Vivo.
Em termos de comparação, a CGD, o maior banco em Portugal, tem 8370 colaboradores e 732 balcões. Ou seja, para ficar com uma dimensão no mínimo idêntica à da CGD – banco que dificilmente escapará a uma dieta agressiva a prazo -, a nova entidade teria que cortar perto de seis mil trabalhadores e fechar mais de 550 balcões. E mesmo assim continuaria a comparar mal com as médias da banca.