BPI. Acionista atira-se ao preço, ao BCE, ao governo e ao CaixaBank

Gestor do grupo Violas, com 2,7% do BPI, critica ingerência da UE e vê “constitucionalidade questionável” no diploma BPI. OPA “não augura nada de bom”

in: Dinheiro Vivo, 9 maio 2016

Tiago Violas Ferreira, administrador da holding Violas, o quarto maior acionista do Banco BPI através da Violas Financial, com 2,68% do capital, criticou esta segunda-feira a atuação de quase todos os envolvidos no impasse que se vive no banco e consequente oferta pública de aquisição (OPA). O grupo que representa não poupa ainda a postura do governo, acusando-o de favorecer “jogadas de bastidores” para que o CaixaBank tome o restante capital do BPI.

As críticas surgem no mesmo dia em que termina o prazo para o grupo catalão pedir o registo da OPA à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). O CaixaBank propõe 1,113 euros por cada título do BPI, um valor que para Tiago Violas Ferreira – e também para os analistas – fica bem aquém do real valor do banco presidido por Fernando Ulrich. Este acionista aponta que o BPI vale pelo menos 1,61 euros por ação, mais 44,7% que a oferta do La Caixa.

Em artigo de opinião publicado no “Jornal de Negócios“, Tiago Violas começa por uma declaração de interesses – “por via indireta sou acionista do BPI e faço parte dos 35% do capital não representados nas negociações entre o CaixaBank e a Eng.ª Isabel dos Santos” – avançando de seguida para a questão do preço oferecido pelos primeiros.

Em março deste ano, aponta, o “BPI tinha capitais próprios de 2,33 mil milhões de euros, ou 1,61 euros/ação e a participação no BFA valia 390 milhões de euros ou 0,27 euros/ação. Se o BFA desaparecesse hoje, o BPI faria um ‘write-off’ de 390 milhões e as suas responsabilidades paravam aqui. O BPI valeria 1,34 euros/ação, valor do balanço.”

Mas apesar das preocupações das autoridades, diz, “o BFA apresenta uma situação financeira extraordinariamente robusta, sendo, apesar de tudo, um ativo com grande valor para o BPI”. Algo que apesar de ser evidente para as autoridades europeias “e mais meia dúzia de comités e comissões e todas as suas gentes bem pagas pelo contribuinte europeu sabem (ou deveriam saber) disso”.

Questiona de seguida o porquê da “pressão europeia para obrigar o BPI a resolver este problema artificial criado por diretivas cegas”, diretivas essas “entretanto já isentas noutras situações, noutros países”, acusa. “Que legitimidade têm estes organismos para ameaçar com multas incomportáveis ou mesmo com a resolução de um banco saudável?”

Jogadas de bastidores de Governo e CaixaBank

O representante do grupo Violas ataca de seguida o “Diploma BPI”, uma série de alterações promovidas pelo executivo ao regime das sociedades financeiras feitas à medida do banco de Fernando Ulrich. “Porquê agora a criação de legislação nacional tão à medida desta situação (…) beneficiando claramente um acionista em prejuízo de todos os outros?”, questiona sobre alterações que considera de “constitucionalidade questionável”.

Este acionista do BPI recorda de imediato que “o CaixaBank, quando ultrapassou os 20% do capital, sabia que estava a comprar ações sem direito de voto”, tendo aliás sido escusado de lançar uma OPA obrigatória então “exatamente” por causa da existência das limitações de voto. Agora, “ao oferecer 1,113 euros por ação, o CaixaBank está a oferecer o mínimo obrigatório por Lei, que corresponde a 67% dos capitais próprios (dinheiro dos acionistas)”, aponta.

“Seria justo, através de todas estas jogadas de bastidores, apoderar-se de um terço dos capitais dos restantes acionistas?”

Minoritário do CaixaBank? “Não augura nada de bom”

Tiago Violas Ferreira dá a entender de seguida que a ideia de que ninguém é obrigado a vender numa OPA não será tão evidente assim. “Ficar minoritário numa sucursal de alguém, e o BPI passaria a ser uma sucursal portuguesa do CaixaBank, é ficar à mercê da boa vontade da empresa-mãe, o que pelo exemplo do preço oferecido nesta OPA não augura nada de bom”.

Apesar de tudo, o administrador do quarto maior acionista do BPI não dá por garantido que o CaixaBank consiga desbloquear os estatutos do banco apesar das “jogadas de bastidores” que identifica em toda a operação. “Mesmo podendo exercer todos os votos dos seus atuais 44,5%, ainda é prematuro cantar vitória”, recomenda aos catalães. Mas também isto abre novas questões.

“A outra questão é o que acontecerá em caso de chumbo. Abrirá o BCE, também ao BPI, exceção à regra dos Grandes Riscos, deixando o BPI entregue ao seu (bom) funcionamento, ou matará o doente (embora saudável) com o seu remédio?”

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