No dia em que Ricardo Salgado culpou Carlos Costa por prejuízos do Novo Banco, supervisor apoia despedimentos
O Banco de Portugal reafirmou ontem publicamente “o seu apoio” à reestruturação do Novo Banco, um plano determinado pela Comissão Europeia e que prevê o corte de mil postos de trabalho. Como? Reformas antecipadas e 500 trabalhadores por despedimento coletivo, confirmou a administração do banco.
Horas depois de a Comissão Nacional de Trabalhadores do Novo Banco revelar publicamente o plano de cortes da instituição, o Banco de Portugal emitia um comunicado a “reiterar o seu apoio à implementação, pela equipa de gestão, do plano de reestruturação oportunamente apresentado e aprovado pelas autoridades europeias”. Antes saudou “a capacidade da gestão e dos colaboradores em garantir o retorno” à normalidade deste banco – dono de 15% do Global Media Group, detentor do DN.
23 milhões a reduzir pessoal
Apesar do plano acordado com Bruxelas prever um corte de mil colaboradores em 2016 e uma redução dos custos operacionais em 150 milhões, a administração de Stock da Cunha acredita que, “dado o esforço que tem vindo a ser de-senvolvido”, sobretudo “por via de reformas antecipadas”, a redução poderá ficar-se por “um número não superior a 500”, de acordo com um comunicado interno a que o DN/Dinheiro Vivo teve acesso.
Em 2015, o banco gastou 22,8 milhões com indemnizações e reformas de colaboradores, valor que deverá ser superior em 2016: de 2014 para 2015 os quadros foram reduzidos em 411 trabalhadores. Neste ano o número será até 500.
No mesmo comunicado, Stock da Cunha lembra que, mesmo contendo a saída total em 500 colaboradores, o banco continua vinculado a reduzir 150 milhões de euros aos custos operacionais, comprometendo-se a procurar, “em conjunto com as estruturas” de trabalhadores, “as vias mais adequadas para alcançar a redução imposta pelas autoridades“.
Na conferência de apresentação de contas, o banqueiro foi questionado sobre se pondera negociar com os sindicatos cortes de salários como forma de reduzir o total de trabalhadores a despedir – uma solução já seguida pelo BCP, por exemplo. “Não quero avançar nada sobre a questão”, referiu Stock da Cunha, lembrando que o Novo Banco irá lidar com a reestruturação “sem ruído” e comunicando tudo em primeira mão aos trabalhadores.
Ataque Salgado
O elogio do Banco de Portugal “à normalização” do Novo Banco surgiu pouco depois de Ricardo Salgado ter desferido um novo ataque a Carlos Costa.
“Mais de um ano e meio depois da resolução, o Novo Banco tem menos 24% de depósitos e concedeu menos 33% de crédito do que o BES em 30 de junho de 2014, o que demonstra que os clientes tinham mais confiança no BES do que têm no Novo Banco. (…) É tempo de o senhor governador do Banco de Portugal assumir a responsabilidade pelos seus atos”, atirou o ex-presidente do BES, recusando “ser responsabilizado pela gestão do Novo Banco e muito menos pelas consequências da decisão de resolução, que sempre denunciou como um erro”.
O legado deixado no BES por Ricardo Salgado e a anterior administração foi bastante referido por Stock da Cunha na conferência sobre os prejuízos de 980 milhões de euros do Novo Banco em 2015 – afinal, a instituição foi obrigada a provisionar mais de mil milhões de euros para créditos e outros negócios já dados como perdidos, a grande maioria dos quais referentes a 50 grandes créditos e apostas imobiliárias do Banco Espírito Santo.
Além das provisões, Stock da Cunha sublinhou por várias vezes a intenção de cortar a 100% com a estratégia antes seguida pelo BES, nomeadamente ao nível de créditos de alto risco ou em imóveis sem quaisquer garantias.
in: Dinheiro Vivo/DN/JN, 26 fevereiro 2016