Novo Banco em corte total com práticas do BES e já fala em lucros

“Nenhum banco vale hoje o mesmo que em 2014”, lembra CEO sobre valor potencial da venda. Prejuízo somou 981 milhões

A administração de Eduardo Stock da Cunha, na primeira apresentação pública de resultados do Novo Banco, quis deixar bem clara uma ideia: apesar de ser verde, este banco já não é o BES. A ordem é afastar-se o mais possível das práticas, métodos e estratégias do Banco Espírito Santo.

A instituição, foram assegurando os administradores ao longo da apresentação de resultados, é agora mais prudente, dá preferência “às famílias e empresas portuguesas”, quer esquecer o portfólio de participações “exóticas” no estrangeiro e focar-se num crescimento simples, lento mas consolidado. Mas se nas palavras e estratégia pode ser fácil afastar-se do legado das práticas do BES, nas contas do Novo Banco essas práticas continuam bem presentes.

Provisões sem fim

Stock da Cunha oficializou ontem prejuízos de 980,6 milhões de euros só no ano passado – em 2014 foram 498 milhões de perdas entre agosto e dezembro -, atribuído em exclusivo aos mais de 1050 milhões de euros em provisões para créditos e outros ativos.

A maior parte deste valor, perto de 770 milhões de euros, foram da inteira responsabilidade desse tal legado Espírito Santo, sublinhou o banqueiro. Mas este legado não ficará por aqui, admitiu Stock da Cunha. O presidente do banco, apesar de já ter orçamentado o valor das provisões necessárias para este ano, preferiu não as revelar publicamente ontem. As perdas impostas pelo legado BES no ano passado vieram de 50 grandes créditos e de vários ativos imobiliários na carteira da instituição ainda do tempo do “banco mau”. E o que o Novo Banco mais quer agora, é afastar-se do ‘banco mau’. “Não queremos o tipo de créditos que implicam grandes exposições a um cliente, não queremos créditos internacionais, não queremos ser o banco a que se recorre para comprar participações financeiras em Bolsa, não queremos ser especialistas em imobiliário e ter mais de 3 mil milhões de euros em imóveis e muitos sem garantias sequer…”, detalhou o administrador Vítor Fernandes. O desejo de corte com o passado é evidente.

Pensar em lucros

“Este é um banco em que se pode apostar”, assegurou Stock da Cunha durante a conferência, apontado os resultados operacionais positivos do Novo Banco em 2015 – 125 milhões de euros -, mas também realçando os indicadores de solidez. “Fechámos o ano com um rácio core tier 1 de13,6%, somos o banco mais capitalizado do sistema financeiro português depois do Santander Totta.”

Para este rácio em muito contribuiu a decisão do Banco de Portugal de retirar à última hora de 2015 as obrigações seniores da esfera do Novo Banco para a órbita do ‘banco mau’. Sobre esta decisão, defendeu o CEO, “teria sido mais simpático dar aos investidores a possibilidade” de trocar as ditas obrigações por capital do Novo Banco mas, sublinhou, “a decisão do Banco de Portugal obedeceu a critérios objectivos, como a lei”.

Estimando que o Novo Banco conseguirá lucros em 2018, Stock da Cunha apresentou igualmente os objectivos da sua administração para este ano: aumentar os resultados operacionais para 235 milhões, elevar o encaixe de vendas com imóveis de 514 milhões para 700 milhões de euros e conseguir mais 6% em depósitos.

Estas são metas que devem ser atingidas “independentemente de quem vier a ficar com o capital da instituição”, disse Stock da Cunha, afastando-se da polémica da eventual nacionalização ou sobre quem ficará com o banco depois de finalizado o processo de venda.

Sobre a venda, porém, deixou um reparo a quem tem colocado o valor de venda nos 4,9 mil milhões de euros. “Não vale a pena esconder a realidade”, referiu sobre o futuro encaixe da venda do banco. “Não sei se serão quatro, um ou sete mil milhões…, mas vejam quanto valiam os maiores bancos do mundo em 2014 e quanto valem hoje.” Stock da Cunha referia-se à desvalorização dos maiores bancos mundiais entre 30% e 50%neste período.

in: Dinheiro Vivo/DN/JN, 25 fevereiro 2016

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