Fatura de juros na região chega a 500 mil euros por minuto e cresceu com dívidas para salvar setor financeiro, setor esse que agora recebe os juros.
Ao longo deste ano, os residentes da zona euro vão ver cerca de 252 mil milhões de euros dos seus impostos a servir apenas para pagar juros e os encargos das dívidas públicas da região, segundo cálculos do Dinheiro Vivo. Falamos de um valor equivalente a 690 milhões diários ou quase 500 mil euros/minuto.
Um dado que salta de imediato à vista é o facto de este ser um valor mais elevado que o PIB de mais de metade dos países do euro. Os 252 mil milhões de euros representam, por exemplo, mais de 1,3 vezes a economia portuguesa.
Além de valer mais que o PIB de Portugal, o mesmo se verifica em relação à Eslováquia, Eslovénia, Estónia, Finlândia, Grécia, Irlanda, Letónia, Lituânia, Luxemburgo e Malta. Todos valem menos que a fatura de juros dos países do euro.
Nas contas aos encargos das dívidas, há a salientar as diferenças entre peso relativo e real. Em termos relativos, Portugal é o país que mais paga pela sua dívida: são 4,5% do PIB, ou mais de oito mil milhões, acima dos 4,2% de Itália, o segundo que mais paga. Já em termos reais, cabe precisamente à Itália a fatura mais alta, já que esta supera os 72 mil milhões de euros. Este custo, porém, face à dimensão do PIB italiano, de mais de 1,9 biliões e euros, é então de 4,2% do PIB.
Banca causa dívida e ganha juros
Uma das facetas mais relevantes nos atuais custos das dívidas está no facto de grande parte dos juros pagos pelos contribuintes do euro e de qualquer outro país terem como destino o setor financeiro, setor esse que foi também o maior responsável pelo crescimento recente das dívidas públicas.
Segundo um estudo de economistas do FMI publicado na última semana, e que já este sábado demos conta, o setor financeiro foi o maior responsável pelos “défices ocultos” – passivos contingentes materializados – que deterioraram as contas públicas.
Descobrimos que o setor financeiro foi não só o responsável pelo maior número de défices ocultos como estes foram os mais caros de todos
Entre 1990 e 2014, os técnicos do FMI identificaram 230 “défices ocultos” em 80 países. Após a análise aos 230 eventos, “descobrimos que o setor financeiro foi não só o responsável pelo maior número de eventos como estes foram os mais caros de todos”, referem os autores, que identificaram 91 buracos do setor financeiro, cada um com um custo médio de 9,7% do PIB.
Estes “défices ocultos” do setor financeiro verificaram-se em grande parte na zona euro e nos anos mais recentes, tendo a maioria sido paga com dívida pública, dívida essa contraída junto do… setor financeiro. Exemplos? O estudo apresenta muitos: Em Portugal, a banca custou 12,1% do PIB, na Áustria 8,4% e na Alemanha 11,9%. Já na Irlanda a fatura dos bancos atingiu 39% do PIB, na Holanda foram 12,8% do PIB, na Grécia o impacto foi de 23,1%, etc…
Perante o colapso da banca, os governos decidiram absorver os buracos do setor com a emissão de dívida pública, dívida que aumentou o peso dos juros pagos à banca e que, no euro, atingem agora 252 mil milhões. Segundo o Eurostat, a dívida dos 19 países do euro caiu de 71% do PIB para 65% de 1995 a 2007. De lá e até 2014, ou seja quando ocorreram os “défices ocultos” atrás citados, a dívida pública subiu para 92%. E com ela os juros.
Cálculos e fontes
Para o cálculo do total de juros que pendem sobre os países do euro, partiu-se das projeções dos planos orçamentais de cada país para este ano entregues a Bruxelas, à excepção de Chipre, que continua sob assistência. No caso da Grécia, e dada a sua relevância atual, os valores foram igualmente tidos em conta através da consulta ao Orçamento do Estado de Alexis Tsipras.
Em todos estes documentos estão as previsões dos custos da dívida face ao PIB e a evolução esperada do mesmo em 2016. Para o produto em valor que cada país estima ter no final do ano, recorreu-se ao FMI. Depois “foi só fazer as contas”.