A dívida portuguesa apresenta o custo mais elevado entre todos os países do euro, levando 4,5% do PIB. Contribuintes pagam 23 milhões em juros por dia
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Os contribuintes portugueses vão pagar perto de 8,4 mil milhões de euros relativos a juros da dívida pública este ano. O valor representa uma fatia de 4,5% do produto interno bruto (PIB) estimado para 2016, situando-se desta forma acima do custo da dívida face ao PIB de todos os outros países da zona euro.
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Depois de Portugal surge a Itália (4,2%) e a Eslovénia (2,9%). De acordo com os 17 planos orçamentais entregues em Bruxelas e o Orçamento do Estado de 2016 da Grécia, as dívidas públicas nos países da moeda única apresentam um custo médio de 2,1% do PIB. Esta média, no entanto, oculta realidades bem distintas: o peso dos juros no espaço da moeda única varia de 0,1% do PIB na Estónia aos 4,5% pagos pelos portugueses. Já em relação a Chipre, os últimos números referem-se a 2015 e apontam para um custo de 3,4% do PIB.
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Apesar de apresentar o maior fardo com juros sobre os contribuintes, certo é que a dívida portuguesa não é a mais elevada do euro, já que a Grécia (188%) e a Itália (131,4%) continuarão no final do ano com um endividamento superior ao nacional, que será de 126%. Aqui destaque para o caso específico da Grécia: tendo a dívida mais alta da zona euro, os gregos apresentam um gasto com juros em linha da média, algo que se justifica com o acesso de Atenas a diferimentos que, todavia, tornarão a dívida mais cara no futuro.

Taxa de juro implícita
Um dado relevante para perceber o peso da dívida reside na taxa de juro implícita à mesma. Segundo o plano português, o juro da dívida será de 3,6% em 2016, o terceiro mais elevado de toda a zona euro.
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Segundo os planos orçamentais dos restantes países, apenas Malta e Lituânia apresentam uma taxa de juro implícita superior à portuguesa, isto apesar de terem endividamentos inferiores. Os malteses pagam uma taxa de juro de 3,9% para uma dívida de 65,2%, e os lituanos pagam 4% para uma dívida de 40,8% do PIB. Do lado oposto está a Estónia que graças a uma dívida de apenas 9,6% do PIB, apresenta uma taxa de juro de 1,1%.
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Já nos países com dívidas superiores à portuguesa encontra-se uma taxa de juro implícita de 3,3% sobre os italianos e de 2,7% a pender sobre os gregos.

Como se baixa o défice em 0,1 p.p.
O ministro das Finanças, Mário Centeno, referiu na apresentação do plano orçamental português que uma das razões para a revisão em baixa do défice – dos 2,8% previstos anteriormente para 2,6% –, virá de uma “maior cautela na gestão da dívida pública”.
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Segundo explicou o ministro, “na sequência da recetividade do mercado às recentes colocações de dívida portuguesa, o governo reviu a estratégia de gestão da dívida e conseguiu de forma efetiva reduzir a despesa com juros, uma tradução que se reflete na melhoria da previsão para o défice”. Desta gestão da dívida em 2016, e segundo contas do DN/Dinheiro Vivo, o governo espera ir buscar 0,1 pontos dos 0,2 pontos que justificam a revisão em baixa.
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Considerando as projeções do plano português, é possível calcular que o PIB no final de 2016 rondará os 186 mil milhões de euros. Partindo deste valor do PIB, calcula-se que os 4,5% pagos em juros se traduzem em 8,37 mil milhões de euros. Já fazendo o mesmo cálculo mas para o PIB e o peso dos juros em 2015 (4,7%), constata-se que no ano passado o serviço da dívida levou 8,55 mil milhões de euros. Ou seja, Centeno estima uma poupança de 188 milhões de euros com juros de 2015 para 2016, o que equivale a 0,1 p.p. do PIB deste ano.
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in: Dinheiro Vivo/DN, 24 janeiro 2016