É a chamada “Quarta Revolução Industrial” e esta, que já está em curso, será a revolução mais abrangente alguma vez vista. A conclusão é do estudo “Future of Jobs“, divulgado pelo Fórum Económico Mundial (FEM) em antecipação do encontro mundial de Davos, que decorre até 23 de janeiro.
“Sem tomarmos, hoje, ações urgentes e direcionadas para lidar com esta transição de curto-prazo, de forma a construirmos uma força laboral com capacidades à prova do futuro, os governos irão ter que lidar com um desemprego e um nível de desigualdade sempre crescentes e as empresas vão ver a sua base de clientes diminuir”, refere o estudo do FEM, na síntese dos resultados.
Este cenário já é, aliás, uma realidade. As “ameaças disruptivas” ao mercado laboral analisadas pelo FEM levaram a uma estimativa que aponta para a perda de 7,1 milhões de postos de trabalho entre 2015 e 2020, um recuo apenas parcialmente compensado pela emergência de 2 milhões de empregos no mesmo período devido às mesmas razões.
Os desenvolvimentos tecnológicos, socioeconómicos, geopolíticos e demográficos, assim como as interações entre todos eles, vão criar novas categorias de emprego e ocupações enquanto deslocam, total ou parcialmente, outras
As ameaças.
O avanço da inteligência artificial, da robótica, nanotecnologia ou das impressoras 3D, do lado tecnológico, ou os desenvolvimentos geopolíticos e demográficos, incluindo as relações voláteis entre alguns estados, estão entre os principais fatores a ter em conta na rápida transição que o Fórum Económico Mundial antecipa nos próximos cinco anos para o mercado laboral.
“Dado o ritmo da mudança em curso, a disrupção dos modelos de negócios vai resultar em impactos quase simultâneos no nível de empregabilidade e no tipo de necessidades que as empresas precisam de preencher, exigindo um esforço urgente e concertado para este ajustamento”, refere o relatório esta semana divulgado.
Os setores.
Os cálculos presentes no estudo “Future of Jobs” resultaram de um vasto inquérito realizado em cada uma das 15 maiores economias mundiais, economias essas que absorvem 65% do total de empregos a nível mundial.
Nos inquéritos, as empresas foram divididas por dimensão e setor, permitindo ao FEM chegar a conclusões diferenciadas para cada área de emprego. E umas vão pagar um preço bem mais elevado que outras.
A atual revolução tecnológica não tem que se tornar numa corrida entre humanos e máquinas mas antes uma oportunidade para que o trabalho se torne num canal em que as pessoas atingem o seu potencial completo
“Os inquiridos esperam um grande crescimento no emprego nas áreas relacionadas com arquitectura e engenharia e na família dos empregos relacionados com matemática e computadores, um ligeiro declínio na manufatura e produção e um declínio acentuado nos postos de trabalho administrativos ou de escritório”, apontam as conclusões.
Dois terços da perda líquida de 5 milhões de empregos a nível global virão precisamente dos trabalhos administrativos e de escritório. Em sentido contrário, a maior parte dos 2 milhões de empregos que serão criados vão surgir em “várias famílias profissionais, mais pequenas”.
“As funções de administrativos ou de profissionais de escritório com tarefas rotineiras estão em risco de ser dizimadas”, aponta o estudo, justificando a opinião com a crescente capacidade da tecnologia para substituir este tipo de funções.
Já do lado da criação de mais empregos, o FEM salienta que “é expectável que o crescimento no total de postos de trabalho chegue de forma desproporcionada, vindo de vários sectores pequenos mas especializados”. Estes novos empregos vão conseguir absorver alguma da perda registada noutros sectores, mas de forma limitada.
“Este factor, além do crescimento no total do desemprego devido ao crescimento da população mundial e a uma lenta criação de emprego nos anos 2015-2019 não deixa qualquer espaço para complacências”, assegura mesmo o Fórum Económico Mundial.
Entre as ocupações profissionais mais referidas pelos inquiridos sobre as posições com maior crescimento nos próximos anos encontram-se os analistas de dados (“Big Data“) e os “representantes de vendas altamente especializados, já que praticamente todas as indústrias vão ter que obrigatoriamente aumentar as suas capacidades de comercialização e apresentação das suas mais valias”, explica o estudo.
As mudanças iminentes trazem oportunidades, com o aumento de padrões de consumo, produção e criação de emprego mas também trazem enormes desafios, exigindo uma atitude proativa de empresas, governos e indivíduos perante as necessidades de adaptação
Soluções.
“A questão agora é como é que empresas, governos e indivíduos vão reagir perante estes desenvolvimentos”, aponta o FEM no estudo que serve de base ao tema deste ano do Fórum de Davos.
“Para impedir o pior cenário possível – em que as mudanças tecnológicas e incapacidade dos trabalhadores em acompanhar as novas exigências resultam num vasto desemprego e crescentes desigualdades – as capacidades dos trabalhadores devem ser renovadas e atualizadas”, algo visto como “crítico” pelo Fórum.
“Não é possível lidar com a revolução tecnológica atual esperando pela próxima geração, que virá melhor preparada. Antes é essencial que as empresas assumam um papel proativo e apoiem os seus trabalhadores na melhoria e aumento das suas capacidades”, recomenda o FEM.
Nesse sentido, o estudo não termina sem deixar um guia que compilou através das respostas dos milhares de inquiridos sobre aquilo que serão as novas exigências – e prioridades – do mundo laboral em 2020, cruzando-as com as atuais.
Entre as mudanças, destaque para a subida da “criatividade” até ao pódio, a perda de importância das “capacidades de negociação” ou da “escuta ativa”. Mas no topo nada mudará: as capacidades de “resolver problemas complexos” continuará a ser a principal prioridade em 2020.
Eis a lista e as mudanças:
in: Dinheiro Vivo, 19 janeiro 2016