Com o acordo fechado pelo Sporting já é possível comparar os contratos milionários celebrados por cada um dos ‘grandes’ do futebol português
Conhecidos os traços gerais dos contratos assinados entre os três principais clubes de futebol portugueses e os maiores operadores de televisão, tempo de olhar de forma comparativa para os mesmos.
Desde logo destaque para o facto do acordo anunciado esta terça-feira pelo Sporting incluir mais cláusulas que as presentes nos acordos de Benfica e Porto, tal como já se tinha verificado quando se comparou os contratos de Benfica e Porto apenas. O dos azuis surgiu com mais cláusulas e cedências que o dos encarnados.
No fundo, cada anúncio de contrato surgiu com mais cedências e/ou prazos mais alargados que o acordo fechado antes por um dos rivais, cláusulas essas que ajudaram a empurrar os valores até permitir o anúncio de um acordo por uma verba global maior que a anunciada pelos rivais – não é por acaso que o anúncio do Sporting surge com valores diferentes dos anunciados pela NOS.
Mas apesar do esforço de apresentar valores mais altos, a verdade é que cada clube fechou um contrato específico, com durações, cedências e valores diferentes, obrigando a uma comparação mais longa do que olhar apenas para os valores anunciados com pompa e circunstância.
O que venderam os clubes
No caso do Benfica, os encarnados venderam “os direitos de transmissão televisiva dos jogos em casa da Equipa A de Futebol Sénior”, incluindo os direitos de transmissão e distribuição da Benfica TV, que passará assim a fazer parte da grelha disponível na NOS.
Já o Porto fechou um contrato mais abrangente com a Meo. Tal como no contrato celebrado pelo Benfica, o acordo dos azuis inclui os “direitos de transmissão” dos jogos da equipa principal no Dragão e também os “direitos de transmissão do Porto Canal”.
Além destes direitos, o Porto cedeu ainda “o direito de exploração comercial de espaços publicitários” no estádio do Dragão, tal como o “direito de colocar publicidade na parte frontal das camisolas” – no caso do Benfica, estes direitos não foram incluídos no acordo com a NOS – o SLB vendeu recentemente a publicidade nas camisolas à Emirates, por uma verba entre os 8 e os 10 milhões por ano.
Quanto ao Sporting, este anunciou um acordo tão abrangente quanto o do FCP, mas de durações diferentes. No contrato celebrado com a NOS está a cedência por dez anos dos “direitos de transmissão televisiva e multimedia” dos jogos do Sporting no Estádio de Alvalade.
Já o “direito de transmissão e distribuição da Sporting TV” e o “direito a ser patrocinador principal do Sporting” foram cedidos à NOS por 12 anos, no primeiro caso, e por 12,5 anos no segundo caso.
Duração
Os contratos celebrados pelos três clubes são igualmente distintos nas diferentes durações das cedências aos grandes operadores de televisão.
O Benfica cedeu os direitos de transmissão dos seus jogos por um período inicial de três anos, prazo que pode “ser renovado por decisão de qualquer das partes” até chegar aos dez anos de duração. A NOS passa a ter o direito de transmitir os jogos do SLB já no início da próxima época.
No caso do Porto e do Sporting os contratos são mais complexos. Comecemos pelos primeiros. O contrato fechado pelo Porto cede os direitos de transmissão por dez anos e somente a partir de julho de 2018, altura em que ficam livres. Os azuis já estão assim com os direitos de transmissão vendidos até ao final da época de 2027/28. Já o direito de transmitir o Porto Canal foi cedido por 12,5 anos, já a partir de janeiro próximo.
Na publicidade, o Porto vendeu o “espaço para publicidade nas camisolas” por 7,5 épocas – a partir de janeiro próximo e até 2023/24 -, tendo cedido o “direito de exploração comercial” das publicidades no Estádio do Dragão por 10 épocas e a partir de julho de 2018.
O caso do Sporting aproxima-se novamente mais do caso do Porto do que do Benfica, mas com durações maiores que os azuis nos casos da publicidade. Os direitos de transmissão dos jogos do Sporting em Alvalade são igualmente cedidos por dez anos a partir de 2018 – até 2027/28. Já o direito a transmitir e distribuir o Sporting TV estende-se por 12,5 anos a partir de julho de 2017.
Ao contrário do que ocorre com o Porto – e com o Benfica, que não incluiu patrocínios no seu acordo -, o Sporting vendeu o direito a ser “principal patrocinador” do clube por 12,5 épocas, a partir de janeiro de 2016. No contrato assinado pelo Porto, a cedência do espaço das camisolas, por exemplo, é por 7,5 épocas.
Valores
Lembrando novamente que os contratos não incluem as mesmas cedências às operadoras de televisão e que também não coincidem em termos de duração das diferentes cláusulas, avancemos para os valores.
Os encarnados anunciaram que caso o acordo com a NOS chegue aos dez anos de duração entrarão 400 milhões de euros nos cofres encarnados, “repartidos em montantes anuais progressivos”.
Já no caso do Porto, e sem serem desagregados os valores de cada cedência à MEO, o negócio foi avaliado em 457 milhões de euros no seu todo. Este valor entrará nos cofres do Dragão ao longo de 12,5 anos e a maior fatia apenas a partir de julho de 2018, ao mesmo tempo que a MEO passa a ter os direitos de transmissão dos jogos do Porto em casa.
Para o clube de Alvalade, somos obrigados a recorrer ao comunicado da NOS e não ao do clube para conhecer as verbas envolvidas. Segundo a operadora, o contrato fechado com o Sporting inclui uma “contrapartida financeira global” no “montante de 446 milhões de euros, repartida em montantes anuais progressivos”. Tal como no FCP, este valor global chegará ao longo de 12,5 anos e a maior fatia só começará a chegar a partir de julho de 2018.
Adenda
O Sporting não desagrega os valores negociados com a NOS no comunicado feito sobre o acordo. O valor que o clube optou por anunciar – 515 milhões de euros – inclui os ganhos de um “aditamento” ao contrato em vigor com a PPTV, atual dona dos direitos de transmissão dos jogos do clube, que serviu para rever as condições desse mesmo contrato.
Retirando da equação os 446 milhões de euros anunciados pela NOS ao valor global anunciado pelo Sporting, então é possível deduzir que a renegociação dos três últimos anos de contrato entre PPTV e SCP terão trazido um ganho de 69 milhões ao clube de Alvalade.
in: “Dinheiro Vivo”, 29 dezembro 2015