O Banif confirmou ontem, a pedido da Comissão do Mercado dos Valores Mobiliários (CMVM), que “tem em curso um processo de venda estruturada” de ativos do sector imobiliário e de créditos malparados, numa das ramificações do plano de reestruturação com que o Banco Internacional do Funchal avançou. Além disso, e perante as notícias da venda da fatia de 60% do Banif detida pelos contribuintes, o banco assumiu igualmente estar “envolvido num processo formal e estruturado tendente à selecção de um investidor estratégico”.
Contactado pelo Dinheiro Vivo, Jorge Tomé, CEO do Banif, preferiu não adiantar pormenores além dos já referidos no comunicado da instituição, apontando que a natureza do processo impede-o de quaisquer comentários adicionais.
Os esclarecimentos presentes no comunicado do Banif foram solicitados pela CMVM tendo em conta a extrema volatilidade de que as acções da instituição têm sido alvo nas últimas semanas, volatilidade essa que o banco atribui ao “elevado número de notícias (…) sem referência concreta às respetivas fontes”. No capítulo da volatilidade, basta apontar que nas últimas seis sessões da bolsa portuguesa os títulos do Banif chegaram a cair 63% e só ontem, com a notícia sobre o arranque da venda avançada pelo Jornal de Negócios, as ações dispararam 55,6%.
Segundo a informação avançada pelo mesmo diário, o Banif está em contactos com investidores norte-americanos e europeus para tomarem a participação de 60% detida pelo Estado no banco. Estes investidores potenciais já tiveram acesso às informações financeiras detalhadas relativas à instituição e também reuniões com membros da equipa do Banif.
Este banco recebeu um total de 1100 milhões de euros dos contribuintes portugueses, por duas vias distintas: 700 milhões foram injetados através de um aumento de capital, que levou a participação pública no Banif até aos 60%. Depois, o banco teve acesso a mais 400 milhões de euros através de instrumentos de capital contingente. Deste segundo bolo, o banco já reembolsou 275 milhões de euros ao Estado, ainda que com atraso, faltando saldar uma parcela de 125 milhões. Mas é na primeira das fatias que reside o maior problema: a Comissão Europeia manifestou recentemente sérias dúvidas de que o banco alguma vez consiga pagar ao Estado os 700 milhões de euros do aumento do capital, levando à abertura de uma investigação aprofundada pelas autoridades europeias.
A venda dos 60% do Estado no Banif deverá exigir a entrega das eventuais propostas ainda em dezembro. As ofertas terão de ser vinculativas não podendo ser revistas, acrescenta ainda o Negócios. Mas mais do que os prazos, há dúvidas quanto aos investidores. “Resta saber quais os interessados num banco em que o valor da dívida supera em muito o valor de mercado da instituição. No caso recente do Novo Banco, que detém apenas os ativos não tóxicos do antigo BES, as propostas dos candidatos à compra foram bastante abaixo dos objetivos estabelecidos, permitindo concluir que o Estado, no negocio do Banif, será claramente penalizado”, considera Pedro Ricardo Santos, gestor da XTB Portugal.
Além da venda da participação do Estado, o Banif confirmou igualmente que tem em curso “um processo de venda estruturada” de ativos do sector imobiliário e de créditos malparados. A carteira de imobiliário do Banif é uma das suas maiores dificuldades operacionais atuais, com um valor que ascenderá a 700 milhões e uma mais-valia potencial de 100 milhões. O objetivo agora é reduzir o peso destes ativos no balanço, libertando capital.
in: “Dinheiro Vivo”, 12 dezembro 2015