Também a dependência excessiva dos países do mercado chinês ajudou a incendiar e alastrar pânico de investidores
Foram 21 horas de pânico às quais a madrugada de hoje já terá acrescentado mais algumas. A desaceleração económica da China, que se verifica já há 18 meses, conjugada com a desvalorização do yuan há duas semanas e a falta de mais medidas de revitalização por Pequim provocou o tsunami que ontem correu todo o globo. A bolsa chinesa abriu em forte queda e seguiram-se 21 horas de pânico até ao fecho dos mercados nos EUA.
“O problema é relativamente simples: no mundo pós-grande recessão, todos os países têm procurado afastar-se dos problemas através das exportações. Mas este modelo só funciona se as exportações encontrarem um mercado, como acontecia quando a China estava a crescer a dois dígitos”, resumiu o editor de Economia do “The Guardian”, sobre o efeito cascata da “black monday” que nasceu na Ásia e afectou todo o globo.
O arrefecimento da economia chinesa afecta desde logo os países vizinhos que fornecem Pequim e, depois, todos os países e indústrias a quem a China compra matéria-prima – desvalorizando a mesma, como o petróleo. Depois, estes países vêem as empresas a exportar menos, logo não só os investidores se afastam das mesmas como crescem os receios de mais desemprego e piores balanças comerciais, logo maiores défices, etc… Ontem, e só na Europa, as 300 maiores empresas desvalorizaram 450 mil milhões. Já em Portugal, as cotadas perderam perto de três mil milhões.
Os efeitos colaterais da queda dos mercados na China (-8,5%) provocaram desde logo o pior dia da bolsa australiana em quatro anos (-4%), prosseguindo o pânico até à Tailândia (-3,84%) e depois à Europa, com a fúria vendedora instalada a provocar a maior desvalorização das bolsas desde 2009 [ver ao lado], com as bolsas francesa e alemã a perder mais de 5%. Nos EUA, o Dow Jones caiu 3,5% e o S&P500 quase 4%, registando ambos o pior dia desde 2011.
Bolha e alertas Além da falta de medidas e das dúvidas sobre a eficácia das decisões tomadas pelo governo de Pequim, as quedas bolsistas na China também terão origem num movimento de acerto dos títulos: nos últimos 18 meses – enquanto a economia desacelerou –, a bolsa chinesa valorizou 150%. Mas é sobretudo a perda de confiança na capacidade do governo chinês que está na origem da debacle.
“Acho que há uma realização crescente, interna e externamente, de que a liderança chinesa não está a controlar a situação”, comentou Fraser Howie, co-autor do livro “Capitalismo Vermelho: as fragilidades dos pilares financeiros da China”. “A grande vítima é a credibilidade do governo. Quando se olha para a intervenção que fizeram no mercado e depois para as explosões em Tianjin, percebe-se que é um governo que não controla a situação”, referiu. “Não há remédios de curto-prazo para o que a China está a atravessar_(…). É um bocado como perguntar se há alguma solução rápida para a ressaca”, concluiu.
in: Jornal i, 25 Agosto 2015