Lagarde renova aviso: “FMI só entra no resgate se houver alívio significativo da dívida”

Eurogrupo confiante que abordagem à sustentabilidade da dívida grega, em Outubro, acabará por puxar FMI para o resgate. Mas Lagarde já veio renovar os alertas: FMI só entra no resgate se houver um “alívio significativo à dívida”

Jeroen Dijssebloem e Wolfgang Schäuble, entre outros, manifestaram-se confiantes que o Fundo Monetário Internacional acabará por participar no terceiro resgate à Grécia. Mas esse cenário está longe de certo. Christine Lagarde já veio esta noite dizer que o fundo que lidera só entrará no resgate se os europeus avançarem “com um alívio significativo” da dívida pública grega, uma alívio que deve ir “muito além do que foi feito até hoje”.

O ministro das Finanças alemão referiu no fim do Eurogrupo desta sexta-feira que as autoridades europeias “estão a trabalhar na assunção de que o FMI juntar-se-á ao terceiro resgate em Outubro, dando também apoio financeiro”. Já o presidente do Eurogrupo manifestou a mesma ideia, admitindo contudo que por ora há alguma incerteza sobre a participação do FMI.

“A intenção do FMI de considerar o envolvimento no resgate é bem-vinda. Vão considerar a questão no Outono”, apontou o holandês, referindo que a decisão da direcção do FMI está dependente de vários factores, como a implementação de algumas reformas. Mas o problema não é só esse: a questão do Fundo prende-se sobretudo com o que os parceiros europeus farão com a dívida grega, que atingirá os 200% do PIB já em 2016.

Lagarde alerta A directora do FMI foi rápida a publicar a posição do Fundo sobre o acordo agora aprovado pelo Eurogrupo. Num comunicado publicado pouco depois de se conhecer o desfecho da reunião desta sexta-feira, Lagarde começa por dizer que “o pacote de medidas especificado no memorando acordado pelas autoridades gregas e as instituições europeias (…) é um passo em frente muito importante”, já que “reverte muitas das políticas tomadas anteriormente e que levaram o anterior programa quase a descarrilar”.

Depois dos elogios, as críticas. “Contudo, permaneço convicta que a dívida grega tornou-se insustentável e que a Grécia não conseguirá recuperar a sustentabilidade da mesma sozinha. Assim, é igualmente crítico para a sustentabilidade da dívida grega no médio e longo-prazo que os parceiros europeus da Grécia se comprometam com objectivos concretos para um alívio significativo dessa dívida, muito além do que foi feito até hoje”.

Em conclusão, Lagarde aponta que só “as medidas que vierem a ser tomadas pelas autoridades aquando da primeira avaliação” ao resgate, “em conjunto com um alívio significativo à dívida”, criarão a base para um programa credível e extenso que “recupere a sustentabilidade a médio-prazo”. Só nesse caso “estarão reunidos todos os elementos para eu sugerir ao conselho executivo do FMI aumentar o apoio financeiro à Grécia”.

O problema é que não há nenhum país europei que seja publicamente a favor de um alívio significativo à dívida grega e são quase todos os que alinham com o discurso alemão, que defende que no máximo reestruturam-se alguns prazos associados à dívida. Uma postura dificilmente conciliável com a do FMI.

in: ionline, 14 Agosto 2015