Grécia. Banca fechada uma semana e pressões crescem para UE discutir dívida
Alemanha, França e Espanha convocaram reuniões nacionais para debater crise grega. EUA e FMI reforçam apelos para avançarem medidas de alívio das dívidas
Primeiro, Christine Lagarde, directora-geral do FMI. Depois, um grupo de economistas, sindicalistas e deputados britânicos. Seguiu-se a posição pública do governo dos Estados Unidos. Todos coincidiram no apelo que ontem deixaram aos líderes europeus:está na hora de colocar a sustentabilidade e o alívio da dívida grega em cima da mesa. Ao longo do dia, criticava-se também a decisão das instituições europeias em não colocar a sustentabilidade da dívida pública no acordo proposto a Atenas, ao contrário dos compromissos assumidos há mais de dois anos.
A dívida Foi logo pela manhã que o FMI marcou o tom: “Continuo a acreditar que é necessária uma abordagem equilibrada para restaurar a estabilidade e o crescimento na Grécia, com reformas apropriadas e medidas que visem tornar a dívida sustentável”, salientou Christine Lagarde, em comunicado. O FMI há muito que vem pressionando os parceiros europeus para colocarem a debate o excessivo peso da dívida grega e medidas para a resolver.
Seguiu-se o secretário de Estado do Tesouro dos EUA, Jack Lew, que emitiu um comunicado dando conta que durante o sábado esteve em conversações com Lagarde e com os ministros das Finanças de França eAlemanha, dando-lhes conta da posição da administração Obama: “É importante para todas as partes que se continue a trabalhar numa solução, incluindo a discussão de um potencial alívio da dívida grega, na sequência dos resultados do referendo do próximo dia 5 de Julho”. Pouco depois a ideia foi reforçada por notícias que davam conta que também Barack Obama tem estado em contacto com a chanceler alemã, pedindo-lhe que se evite a saída de Atenas do euro.
A resistência europeia em colocar a dívida grega na mesa das negociações de um novo pacote de austeridade com a Grécia tem sido apontada por Alexis Tsipras como um dos pontos de desacordo entre Grécia e credores. Em Novembro de 2012, a UE comprometeu-se com os gregos em “considerar futuras medidas de assistência, (…) incluindo, se necessário, a procura de uma redução credível e sustentável do rácio dívida-PIB da Grécia”. Desde então, porém, nada avançou. Já ontem, e no comunicado sobre a proposta a Atenas, Bruxelas emendou a mão e assumiu que “o Eurogrupo devia debater um acordo alargado para a Grécia, um que inclua não apenas as medidas [de austeridade] mas também que aborde as necessidades de financiamento futuras da Grécia e a sustentabilidade da dívida.” Contudo, nada disto foi colocado por escrito na proposta feita a Atenas.
Ainda ontem um grupo de deputados da ala esquerda britânica, sindicalistas, economistas e representantes de instituições de caridade publicaram uma carta a apelar a Cameron que promova uma conferência europeia que debata e decida medidas de alívio da dívida da Grécia e outros países.
Controlo de capitais A decisão de ontem do Banco Central Europeu – manter a linha de assistência à banca grega mas sem aumentar o seu valor –, assim como a recusa dos parceiros em prolongar o resgate grego por alguns dias até à realização do referendo levou ao avanço de medidas de restrição de capitais na Grécia.
A decisão do BCE, de manter a linha de assistência, foi primeiro vista como suficiente para evitar o controlo de capitais. Mas ao decidir manter o tecto actual de 89 mil milhões dessa linha, já praticamente esgotada dado a corrida aos bancos dos últimos dias, acabou por anular o impacto da manutenção da linha de liquidez. O governo grego acabou assim por impor tais medidas, o que levou Tsipras a pedir novamente a extensão do resgate, recusado no sábado.
O governo grego decidiu assim mandar fechar o sector bancário até 7 de Julho, período durante o qual os gregos estarão limitados a levantamentos de 60 euros diários. Amedida poderá ser revertida caso os parceiros europeus aceitem a extensão do resgate grego até ao referendo. A bolsa de Atenas fecha hoje – e poderá encerrar a semana inteira.
Governos e manifs O novo pedido de Tsipras e a entrada em vigor das medidas de controlo de capital na Grécia levou os principais governos europeus a marcarem reuniões de emergência para esta manhã. Hollande convocou os seus ministros e Merkel todos os grupos parlamentares. Já em Atenas, o Syriza apelou a uma manifestação para esta noite:“A 5 de Julho vamos dizer ‘Não’ à austeridade. Vamos dizer ‘Não’ aos ultimatos dos credores. Vamos dizer ‘Não’ à abolição da democracia.”
in: Jornal i, 29 Junho 2015