Previsões. PS e PSD apostam tudo em cenários optimistas e no consumo
Crescimento prometido por ambos os partidos assenta no regresso do consumo privado e em fortes subidas anuais de exportações e importações
As previsões económicas definem as políticas, razão pela qual, recomenda a teoria, os cenários de base deviam ser conservadores – controlando os riscos. Contudo, nos últimos anos em Portugal só recorrendo a números optimistas (e raramente verificados) tem sido possível prometer que se vão cumprir metas. Depois, quando se começa a derrapar, surge a revisão das metas, os sucessivos rectificativos ou novos cortes e impostos, normalmente decididos sob pressão. Aparentemente este mal está para continuar.
Olhando para o cenário macroeconómico ontem apresentado pelo PS – “cenário final” – e confrontando-o com as mais recentes previsões do governo, presentes no PEC 2015-19, vê-se que o desenho de cenários optimistas é comum a ambos. A começar pelas exportações: o PS antevê um crescimento médio anual de 6% de 2016 a 2019 e o PSD de 5,6%. Valores que chocam com a evolução recente das vendas do país ao exterior: em 2013 e 2014 cresceram 4,4% e 1,9%, respectivamente, acentuando a tendência de desaceleração que já se faz sentir desde 2011. Basta estas previsões não se confirmarem para quase todas as outras contas começarem a derrapar.
Nas importações fica visível que tanto para o PS como para PSD/CDS chegou ao fim a era em que supostamente os “portugueses viviam acima das possibilidades”. O PS antevê um crescimento médio anual de 5,95% nas importações, contra os 5,45% previstos pelo executivo: em ambos, as previsões superam largamente o crescimento das compras ao exterior em qualquer ano do período 2011-2014 e estão assentes na ideia de que com menos austeridade haverá mais consumo. E são os partidos que o querem: é que tanto PS como PSD/CDS procuram uma recuperação assente no consumo privado – crescimento médio anual de 2,4% (PS) e de 2,05% (governo) –, via que só é sustentável caso as previsões para as exportações se confirmem. Caso contrário agrava-se ainda mais o défice comercial.
Desemprego, PIB e dívida É graças às previsões para o crescimento do consumo privado que é possível a ambos os partidos prometerem uma redução acentuada na taxa de desemprego do país até 2019. Destaque aqui para os socialistas, que prometem um corte de quase 50% do desemprego actual: o cenário do PS prevê um desemprego de 8,6% em 2018 e de 7,4% no ano seguinte. Já a maioria aponta que em 2019 haja um desemprego de 11,1% – acima dos 10,8% previstos pela CE. Também aqui há riscos: vejam-se como exemplo as expectativas para a despesa do PS. Os socialistas estimam conter a despesa pública entre 2016 e 2019, antevendo uma redução de 650 milhões de euros na mesma, segundo contas do i tendo por base as previsões do PS. Para esta evolução muito contribuem as estimativas de gastos com prestações sociais. O PS espera que estas se aguentem na casa dos 34 mil milhões anuais – valendo 17,8% do PIB em 2019 –, previsão para a qual será crítica a confirmação de um desemprego baixo. Já no caso da maioria, a previsão é que a despesa com prestações sociais recue até 2019, para 18,3% do PIB.
Todas estas previsões definem depois a evolução dos indicadores para que mais se olha: a evolução do PIB e da dívida. No primeiro o PS é mais optimista e no segundo esse papel cabe à maioria. Os socialistas estimam conseguir um crescimento médio de 2,6% do PIB entre 2016 e 2019, valor que compara com os 2,3% de PSD/CDS e os 1,7% da CE. Já na dívida pública, tal como em 2011, o governo promete uma queda abrupta na mesma – de 124% para 107,6% do PIB –, ao passo que o PS estima um rácio de 117,6% em 2019 – já que parte do princípio de que em 2015 a dívida será de 130,2% e não de 125%.
Só num ponto não há optimismo: os impostos exigidos à economia portuguesa vão continuar em máximos. No caso do PS a carga fiscal evoluirá de 36,4% do PIB (2016) para 34,6% (2019), enquanto no caso do PSD/CDS a evolução será de 37,3% para 36,3%. Pelas contas do i, estes valores conjugados com a expectativa dos partidos para o PIB significam que a factura fiscal continuará a subir em valor: mais 1,8 mil milhões entre 2016 e 2019 – de 65,5 mil milhões para 67,3 mil milhões – no caso dos socialistas e 3 mil milhões no caso do governo – de 66,9 mil milhões para 69,9 milhões.
in: Jornal i, 22 Abril 2015