Nuno Vasconcellos. O herdeiro dos sabões e filho do “Expresso” que quis um império

Herdeiro dos Rocha dos Santos e filho de um dos fundadores da Impresa, levou a família à 21ª posição dos mais ricos do país. Mas teve de abdicar do plano de tornar a Impresa numa “obra que ultrapasse o próprio criador” e o seu maior trunfo, a PT, colapsou. Agora, perdeu o seu estratega. E o rumo?

“Nós somos uma empresa de cariz familiar, com várias gerações, já passámos por grandes dificuldades, duas guerras mundiais, revoluções… e continuamos de cabeça erguida, com transparência e nada a esconder.” Era assim que Nuno Vasconcellos definia a Ongoing no Verão de 2009 em entrevista ao i, dada em plena oferta à TVI e pouco depois de reclamar a gestão partilhada da Impresa, recusando as acusações de uma estratégia de hostilização à dona da SIC: “Tenho uma enorme estima e amizade pelo dr. Balsemão, é como se fosse o meu segundo pai”, garantia. Os anos seguintes colocariam esta relação em xeque, num mate que chegou no início de 2014, quando a Ongoing vendeu a posição na Impresa e Francisco Pinto Balsemão atirou: “Esta saída coloca um ponto final numa estratégia hostil de tentativa de controlo de um grupo de comunicação livre e independente.”

Nuno Vasconcellos celebrou em 2014 o seu 50º aniversário. Viveu em Lisboa até aos 11 anos e frequentou o secundário na Bélgica, prosseguindo a formação em Gestão de Empresas já nos Estados Unidos, no Curry College de Boston. Em 1995, já associado a Rafael Mora, lançou a sucursal portuguesa da Heidrick &Struggles, “dedicando-se assim à Gestão de Talento em algumas das principais empresas a operar no país”. Os sócios cruzaram-se na Andersen Consulting, onde Vasconcellos entrou em 1987 e onde ficou oito anos. Foi da sua herança familiar que nasceu a Ongoing mas também o apetite pela Impresa: pelo lado Rocha dos Santos tinha uma participação de relevo no Grupo Industrial Sociedade Nacional de Sabões, pela faceta Vasconcellos tinha o apetite pela Impresa. “Há um respeito pela obra que foi feita por ele [Balsemão] e pelo meu pai”, disse o líder da Ongoing na mesma entrevista ao i. Luiz Vasconcellos foi um dos fundadores do “Expresso” em 1973 com Pinto Balsemão e vice-presidente da Impresa largos anos. Na guerra pela Impresa, Vasconcellos terá procurado sobretudo reclamar para si aquilo que o seu pai também ajudou a fundar, criar e edificar.

Mais dado ao low profile que Rafael Mora, mas igualmente apostado em ser um empresário/empreendedor de sucesso, o seu percurso profissional ligado ao mundo das consultoras visou prepará-lo para a gestão dos negócios da família. Se na Andersen os sócios foram recolhendo relações, na Heidrick & Struggles estas cresceram e reforçaram-se, permitindo o acesso às redes de influência do país e então dar o salto com os negócios da família. A Ongoing apresentou-se como uma holding que “agrega os investimentos da família Rocha dos Santos” mas precisou de recorrer a financiamentos bancários para chegar à sala dos grandes do mundo empresarial português.

A ascensão foi apadrinhada por Ricardo Salgado, com a Ongoing a entrar também na Espírito Santo Financial Group. O crescimento da Ongoing representou o crescimento de Nuno Vasconcellos enquanto figura pública. Em 2007, a família Rocha dos Santos era já apontada como a 21ª mais rica do país. Mas ao mesmo tempo que o seu grupo ganhava importância, também resistências, polémicas e inimigos foram sendo acumulados.

“Se não foi uma ditadura que nos impediu de fazer negócios, nada nos inibe”, declarava contudo Vasconcellos. O grupo entrou em quase todas as guerras empresariais da era Sócrates e chegou a ser apontado como testa-de-ferro de angolanos e associado a um plano de controlo dos media por parte de Sócrates. Vasconcellos negou tudo mas o grupo não passou incólume: a crise, o endividamento, as polémicas, o declínio da PT e as apostas menos sucedidas colocaram tudo em risco, risco agora potenciado com a saída de Rafael Mora, o estratega de Vasconcellos.

Ver também:

Ongoing. Um grupo empresarial, de media ou de ramificações?

As perguntas e as respostas que explicam o início e o fim da influência do grupo

in: Jornal i, 28 Março 2015

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