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As perguntas e as respostas que explicam o início e o fim da influência do grupo

A Ongoing reuniu um vasto rol de participações empresariais, ramificações políticas e polémicas que tornaram o percurso do grupo numa autêntica montanha-russa, cujo trajecto recente tem sido de uma forte descida. Hora de traçar de forma mais sintética o trajecto, perímetro e ligações do grupo, tal como os conflitos, controvérsias e a crescente teia de vínculos que, do PS ao PSD e da Maçonaria às Secretas, permitiram um rápido crescimento da Ongoing e do mediatismo das suas duas principais caras: Nuno Vasconcellos e Rafael Mora.

O que é a Ongoing?

A Ongoing Strategy Investments é uma holding que concentra os investimentos da família Rocha dos Santos, gerida por Nuno Vasconcellos. Estas apostas vão das telecomunicações ao imobiliário e chegaram a incluir uma participação no Espírito Santo Financial Group. As participações na PT e na Impresa seriam as mais relevantes e mediáticas mas ambas foram perdendo força: a Ongoing vendeu a posição na Impresa no início de 2014 e a PT entrou em colapso com a compra da Oi.
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Como nasceu e cresceu? 
Antes da Ongoing, Nuno Vasconcellos e Rafael Mora lançaram o ramo português da Heidrick &Struggles, consultora dedicada “à Gestão de Talento em algumas das principais empresas a operar no país”. Foi através desta que aumentaram as suas ligações com os líderes e gestores do país, com a H&S a surgir como prestadora de serviços em várias empresas, sobretudo do sector empresarial do Estado ao início. Depois chegou a hora da Ongoing:a família Rocha dos Santos detinha uma posição de relevo na Sociedade Nacional de Sabões, chegando por esta via parte dos fundos da Ongoing. Porém, estes não chegavam para as tomadas agressivas de posições em empresas a que o grupo procedeu.
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De onde veio o capital?
Para conseguir entrar nas estruturas accionistas da PT, BCP ou ESFG, além de outros negócios, como a aquisição do  “Diário Económico” e “Semanário Económico” por uma quantia de 27,5 milhões de euros, e o gradual reforço até perto dos 30% do capital na Impresa, a Ongoing foi obrigada a recorrer à banca. Aqui beneficiou do desejo do BES de ter um aliado no combate à OPA da Sonae à PT, e também das ligações ao BCP. Os dois bancos apoiaram os endividamentos da Ongoing. Posteriormente, parte dos investimentos do grupo de Vasconcellos já foram financiados não por empréstimos bancários mas antes pela aposta de bancos e também da PT nos fundos de investimento da Ongoing.
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De onde veio o mediatismo?
A participação activa no combate à OPA da Sonae trouxe-a para a ribalta, onde continuou posteriormente pela participação na guerra fratricida do BCP e pelo avanço para o sector da comunicação social. A guerra em que Nuno Vasconcellos entrou contra Pinto Balsemão também assegurou várias páginas de jornais, tal como ocorreu aquando da tentativa de avanço para a TVI, através da Media Capital e da Prisa.
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Porquê a guerra com a impresa?
A Ongoing entre 2008 e 2009 foi reforçando a participação no capital da Impresa e de uma forma que surpreendeu Pinto Balsemão que, em conjunto com o pai de Nuno Vasconcellos, fundou o “Expresso”. Em causa estava não só a vontade de ter um pé numa TV, como a ligação que Vasconcellos sentia ao grupo que o seu pai edificou. O líder da Ongoing chegou a referir-se a Balsemão como seu “segundo pai” mas esta foi uma batalha perdida e que levou a processos judiciais. Nicolau Santos, no “Expresso”, referiu-se à Ongoing como um império construído com “avenças de empresas públicas, financiamento de bancos amigos, influência empresarial e política, ligações à maçonaria e às Secretas”, no seguimento de um trabalho do “Público”sobre o grupo.
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Quais as ramificações políticas?
Jorge Coelho, Pina Moura, Mexia, Catroga, Miguel Relvas, José Luís Arnaut, Agostinho Branquinho, José Dirceu, José António Pinto Ribeiro, Silva Carvalho, Rita Marques Guedes, Costa Pina ou Guilherme Dray foram alguns dos ilustres atraídos pela Ongoing ou Heidrick & Struggles, ou que participaram simplesmente em reuniões de quadros da empresa.
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Quais as ramificações empresariais?
Uma das mais importantes foi António Mexia, com a H&S a prestar serviços à Galp e depois a evoluir para as empresas públicas que o hoje gestor da EDP iria tutelar. Também na transição para a eléctrica surge a H&S, com Rafael Mora a dar a cara pela nova política de remuneração da eléctrica, que atribui a possibilidade de Mexia ganhar até 4,2 milhões de euros num ano. Antes disso, e já Mário Lino como ministro das Obras Públicas, a consultora beneficia de novas avenças em empresas públicas. Depois chegamos ao BES, à PT e ao BCP: além de ajudar no combate à OPA da Sonae, viu a operadora investir 75 milhões nos seus fundos, contratando de seguida o homem que tomou a decisão, Soares Carneiro. Já no BCP, a Ongoing entra ao lado de Teixeira Pinto na luta com Jardim Gonçalves e mais tarde contrata Teixeira Pinto. Também José Eduardo Moniz, ex-director geral da TVI, acabaria na Ongoing. Desde os primeiros passos empresariais que Vasconcellos eMora procuraram cultivar amplas relações com o poder político, com maior ou menor vínculo destes à Ongoing.
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E quais as ligações da Ongoing à Maçonaria? 
Já várias vezes foi escrito que o presidente da Ongoing pertence à loja Mozart49. Mas o assunto ganhou especial destaque no caso das secretas, uma vez que o ex-espião Jorge Silva Carvalho e outros elementos da Ongoing pertenciam também à mesma loja. Em 2012, uma notícia desvendava que muitas vezes as ligações maçónicas se entrecruzam com as ligações políticas. O líder parlamentar do PSD Luís Montenegro foi convidado para participar num jantar reservado a “membros da casa”, ou seja da loja Mozart49, com o objectivo de interagir com o “mundo profano” (o dos que não são maçons). Nessa lista de  convidados da Mozart49 estavam os nomes de sete altos quadros da Ongoing, entre eles o presidente e vice–presidente, Vasconcelos e Rafael Mora, respectivamente, Jorge Silva Carvalho, ex–director do SIED, João Paulo Alfaro, ex-espião, Agostinho Branquinho, ex-deputado do PSD, e ainda os ex–parlamentares Pedro Duarte, do PSD, e Humberto Pacheco, do PS.
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E como lida com a colagem à Maçonaria?
Há uma tentativa de não mostrar publicamente a existência de ligações. Quando, por exemplo, foi tornado público o encontro maçónico para que foi convidado Luís Montenegro, foi enviado um comunicado aos funcionários da empresa atribuindo a culpa dessa colagem a Pinto Balsemão: “Somos vítimas recorrentes de uma força de poder instalada, que, inaceitavelmente, ao longo dos anos se permite, sem escrutínio nem contraditório, ditar moralidade e ética para cima de tudo e de todos, como se os seus próprios comportamentos fossem de tal forma irrepreensíveis que imunes a qualquer crítica […] Somos vítimas do cumprimento da ameaça feita por Pinto Balsemão, na entrevista que concedeu […] ao jornal ‘Público’ [em Agosto de 2011] de que ‘a Ongoing há-de pagar’”.
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Quais os casos da justiça a que a Ongoing apareceu ligada?
No âmbito do processo Face Oculta, o jornal “Sol” revelou que as escutas deixavam claro que a Ongoing tinha intenção de controlar uma televisão generalista. De acordo com aquele jornal ficava claro que as aspirações do grupo iam muito além da compra de 30% da TVI. A estratégia passava por conseguir em simultâneo com esse negócio comprar um grande grupo de comunicação social, que se tornaria parceiro da Portugal Telecom. Inicialmente esse grupo seria ou a Cofina (que detém o “Correio da Manhã”) ou a Impresa, por fim surgiu a hipótese da Controlinveste (que detém o “Diário de Notícias” e o “Jornal de Notícias”).
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Esse foi o caso que mais impacto teve? 
Não. O chamado caso das Secretas acabou por ter maiores consequências para o grupo. Desde logo porque o inquérito levou à acusação de Nuno Vasconcellos e do ex–director do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED).
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O que é o caso das secretas? 
O caso das Secretas, que começará a ser julgado no dia 16 de Abril nas varas criminais de Lisboa, começou com as suspeitas de que Jorge Silva Carvalho tivera acesso ilegal à facturação detalhada do telefone do jornalista do  “Público” Nuno Simas.
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Como é que a ongoing entra neste processo?
Segundo o Ministério Público, Silva Carvalho acabou por sair da Secreta externa e ser contratado pela Ongoing, para que este conseguisse, com a sua influência no SIED, obter informação relevante para o grupo Ongoing.
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E houve informação que chegou a ser passada?
De acordo com a investigação sim. Antes de abandonar o SIED,  o então director da Secreta externa terá enviado a Nuno Vasconcellos informação secreta sobre os empresários russos que estavam em negociação com a Ongoing, na sequência do interesse da empresa em entrar numa parceria para construção de infra-estruturas no porto grego de Astakos. O Ministério Público acredita que era para este tipo de passagem de informação que a Ongoing pretendia Silva Carvalho.
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Quem vai a julgamento?  
O Ministério Público acusou três pessoas: Jorge Silva Carvalho, Nuno Vasconcellos e um funcionário do SIED, João Luís, por violação do segredo de Estado, corrupção e abuso de poder. Mas não serão apenas estes que se irão sentar no banco dos réus em Abril. Isto porque a juíza de instrução criminal decidiu que além destes arguidos deveriam ir a julgamento outros dois: Nuno Dias, agente do Serviço de Informações de Segurança (SIS), e a sua companheira então funcionária da Optimus, Filomena Teixeira. Estes dois arguidos terão colaborado na obtenção de informações sobre a facturação de telemóvel do jornalista Nuno Simas, do “Público”.
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Porque foi aberto um inquérito por devassa da vida de Balsemão? 
Em 2012 foi noticiado que Silva Carvalho tinha encomendado relatórios sobre pessoas cuja vida interessava à Ongoing, entre as quais o patrão da SIC. Uma queixa de  Pinto Balsemão acabou com a abertura de um inquérito pelo crime de devassa por meio informático. A acusação de Silva Carvalho aconteceu porque o relatório com informações pessoais de Pinto Balsemão foram encontrados no seu computador. Tais informações não terão sido conseguidas junto das Secretas mas junto de fontes abertas. Ainda não há data de julgamento marcada para este caso.
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Quando é que a Ongoing Entrou no Brasil? 
O grupo de Nuno Vasconcellos decidiu mergulhar no mercado brasileiro em 2009 e pouco depois estava a lançar um projecto na área da comunicação social: o “Brasil Económico”. O jornal era apenas detido em 30% pelos portugueses. Isto porque a constituição daquele país não permite que estrangeiros tenham uma posição de controlo em meios de comunicação social.
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A quem pertencia o resto da Ejesa?
Para que pudesse cumprir o artigo 222.º da Constituição brasileira, 70% da empresa ficou nas mãos da família da então mulher de Nuno Vasconcellos, Alexandra Vasconcellos, que tem nacionalidade brasileira. Ainda assim, a solução encontrada levou o Ministério Público Federal de São Paulo a abrir um inquérito. Em causa estava a possibilidade de a Ongoing ter fintado a Constituição com esta solução. Os investigadores concluíram, porém, não haver qualquer incumprimento e o inquérito acabou arquivado.
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No Brasil a Ongoing só apostou num jornal? 
Não, o grupo português acabou por apostar em outros títulos um ano após entrar no Brasil, entre os quais se encontram os jornais “O Dia”, “Meia Hora” e “Marca”.
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A empresa tinha ligações a políticos brasileiros? 
Na biografia de José Dirceu escrita pelo jornalista Otávio Cabral são descritas grandes ligações dos portugueses da Ongoing a José Dirceu, um homem influente no Partido dos Trabalhadores brasileiro. Um dos dados que confirmam essas ligações é o facto de a ex-mulher de Dirceu trabalhar para a Ejesa, empresa detida em 30% pela Ongoing.
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E que portas se poderiam abrir mais no Brasil? 
Os conhecimentos de José Sócrates na política brasileira também não foi ignorada. O ex-primeiro-ministro chegou a encontrar-se com Rafael Mora em 2013, então vice–presidente da Ongoing, numa das suas deslocações a São Paulo. Nessa altura estavam já a trabalhar Guilherme Dray, ex-chefe de gabinete de Sócrates e Carlos Costa Pina, secretário de Estado do Tesouro do mesmo executivo. Guilherme Dray, ainda funcionário da Ongoing – acabou mesmo por estar com Sócrates numa reunião com o governo brasileiro, integrado na comitiva da farmacêutica Octapharma.
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Ver também:
in: Jornal i, 28 Março 2015

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