INE. Défice comercial português voltou a piorar quatro anos depois
Desde 2010 que o défice comercial estava a melhorar. Em 2014, voltou a superar os dez mil milhões de euros
As exportações portuguesas cresceram 1,9% em 2014, valor longe do previsto pelo governo, que na apresentação do Orçamento do Estado para 2015 previa fechar as contas do ano passado com um salto de 3,7% nas vendas ao exterior. A subida das exportações ficou 851 milhões aquém do calculado pelo governo em Outubro último.
“Ao contrário do que alguns pensavam, as exportações continuam a subir em tempo de crescimento”, referiu ontem Paulo Portas, voltando a dar a cara pelas exportações. “É evidente que quanto mais se cresce mais difícil é continuar a subir, mas a verdade é que as exportações portuguesas voltaram a crescer em 2014”, disse ainda.
Segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), a evolução limitada das exportações levou a que o saldo da balança comercial portuguesa voltasse igualmente a piorar, o que já não ocorria desde 2010: o défice português em termos de vendas e compras ao exterior cresceu quase 10%, ou quase mil milhões, dos 9,6 mil milhões de 2013 para 10,5 mil milhões.
Apesar da deterioração do saldo externo, o défice comercial português acabou por beneficiar de uma evolução das importações igualmente aquém do previsto pelo executivo: em Outubro do ano passado, o governo previa um salto de 4,7% nas compras ao exterior que, todavia, ficou-se pelos 3,2%, segundo os números do INE. Curiosamente, estes dois erros de cálculo do governo resultaram num acerto: tendo falhado por defeito tanto nas exportações como nas importações, o saldo global de 2014 acabou por ficar perto do previsto caso os números do governo se tivessem confirmado: a previsão do executivo levaria a um défice de 10,565 mil milhões, que compara com os 10,562 mil milhões realizados.
Com a deterioração do saldo comercial português, também a taxa de cobertura das importações pelas exportações voltou às quedas em 2014, passando de 83,1% para 82% ainda assim o segundo melhor registo desde 2005. Aliás, olhando a médio prazo, é de destacar que entre 2005 e 2010 o défice comercial português se situou sempre por volta ou um pouco acima dos 20 mil milhões de euros. Desde então, este défice tem vindo a cair de forma gradual, até chegar aos 11 mil milhões em 2012, seguindo-se 9,6 mil milhões de 2013 e os 10,5 mil milhões do ano passado. A melhoria do défice deve-se sobretudo às exportações, que subiram 29,3% desde 2010 contra o salto de 0,2% nas importações.
in: Jornal i, 10 Fevereiro 2015