PT. Accionistas portugueses perderam 673 milhões num ano
Depois de semanas a aguentarem-se graças aos rumores sobre novas aquisições ou fusões no sector das telecomunicações do Brasil, as cotações da Oi e da Portugal Telecom chocaram ontem com a realidade e ambas bateram no fundo. O que era uma fusão para criar uma “megaoperadora luso-brasileira” virou uma absorção que criou um “megapesadelo luso-brasileiro”.
A saída de Zeinal Bava – primeiro da PT e depois da Oi -, ajudada pela oficialização da insolvência da Rioforte (ver texto ao lado), deram forma a este pesadelo: ontem a PT chegou a desvalorizar 28,75%, com a acção a cair abaixo dos 87 cêntimos, o valor mais baixo desde que a antiga operadora portuguesa entrou na bolsa, tendo fechado a sessão nos 1,092 euros (-10%).
Este pesadelo está a sentir-se com especial força deste lado do Atlântico: os accionistas portugueses da PT, donos de 28,8% do capital, já perderam mais de 733 milhões de euros desde que a Oi absorveu a PT e seus activos em Outubro de 2013 – negócio que não envolveu qualquer contrapartida financeira. Em troca dos activos da PT, os accionistas desta iriam receber 38% do capital da brasileira, valor pouco depois revisto para 26%, punindo os accionistas da PT pelos negócios dos Espírito Santo – já considerados irrecuperáveis pelos investidores.
Prejuízo: 733 milhões Além do corte na fatia a que teriam direito na empresa que herdou o MEO entre outros activos, os accionistas da PT foram igualmente penalizados pela desvalorização constante das suas acções desde que a fusão avançou (ver gráfico), há sensivelmente um ano. Se na altura cada título da PT era avaliado em cerca de 3,7 euros, a hecatombe de ontem trouxe o preço de cada título para um valor de 1,092 euros, ou seja, uma desvalorização na casa dos 70%.
Esta destruição de valor significou assim para a totalidade dos accionistas da antiga empresa portuguesa a perda de 2,33 mil milhões de euros: a PT valia 3,31 mil milhões em Outubro de 2013 e ontem já só valia cerca de 980 milhões de euros. Fazendo as contas apenas aos accionistas portugueses, donos de 28,8% da empresa, a desvalorização das acções chegou aos 673,4 milhões de euros – dos quais 53,2 milhões foram perdas do Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social.
Quem perdeu quanto? Entre os accionistas portugueses da Portugal Telecom, as participações mais significativas são do Novo Banco – que ficou com os 10% antes detidos pelo BES -, a Ongoing, através da RS Holding, a Visabeira, o fundo da Segurança Social e a Controlinveste.
As maiores perdas foram registadas pelo Novo Banco e pela Ongoing, que viram os seus investimentos na operadora desvalorizar 235 milhões de euros cada – os 10% que cada uma detinha valiam 333,6 milhões de euros em Outubro de 2013 e, dada a cotação de ontem, agora não valem sequer 100 milhões de euros. Estas duas empresas perderam 470 milhões de euros nos últimos doze meses só com a Portugal Telecom.
Já a Visabeira, dona de 2,64% do capital da PT – empresa que actualmente tem em carteira apenas a participação de 26% na Oi -, regista perdas de 61,7 milhões de euros. A esta junta-se o Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social, que viu o investimento de 2,28% do capital que detém na antiga operadora portuguesa desvalorizar 53,3 milhões de euros desde Outubro de 2013. Perda idêntica é imputada à Controlinveste, que também detém 2,28% do capital da PT.
Redução na oi : 117 milhões Além da desvalorização de 70% da PT desde a aprovação da fusão, os accionistas da antiga empresa portuguesa também estão a perder milhões de euros por outra via: a redução do peso que iam ter na nova Oi.
Quando o negócio entre a PT e a Oi foi aprovado, em Outubro de 2013, a brasileira estava avaliada em cerca de 3,3 mil milhões de euros, tendo os accionistas da operadora portuguesa trocado os activos da PT por uma fatia de 38% do capital da empresa, que resultará da integração dos activos da PT na Oi. Porém, com o buraco dos 897 milhões de euros emprestados (e não pagos) pela PT à Rioforte, a fatia foi reduzida de 38% para 26%.
Assim, e recorrendo à avaliação do mercado à Oi na altura da fusão – já que a nova empresa nunca valerá menos que a Oi -, pode avaliar-se o custo da redução da participação em cerca de 405 milhões – valor dos 12% a que os accionistas da PT deixaram de ter direito. Deste valor, 117 milhões foram pagos pelos investidores portugueses com 28,8% da PT.
Caso juntássemos a redução da participação dos accionistas da Portugal Telecom na nova Oi à desvalorização da acção da empresa fruto da fusão com a Oi e do calote do Grupo Espírito Santo, as perdas totais dos investidores portugueses com a Oi podiam ser calculadas em 788 milhões de euros – isto aceitando os 405 milhões de euros de avaliação aos 12% de redução de participação.
in: Jornal i, 21 Outubro 2014