Wonga, de créditos de curto prazo, obrigada a perdoar 283 milhões de euros de dívidas de 330 mil clientes. Outros 45 mil deixam de pagar juros
Juros demasiado altos, critérios demasiado largos e envio de ameaças através de cartas falsas. Foi esta a conclusão do regulador britânico sobre a actuação da Wonga, empresa especializada em créditos de curto prazo [payday loans], que ontem condenou a empresa a perdoar as dívidas de 330 mil pessoas, num total de 220 milhões de libras – 283 milhões de euros. O valor corresponde a mais de cinco vezes os ganhos anuais antes de impostos da Wonga.
A decisão de obrigar esta empresa a assumir as perdas dos créditos veio da Financial Conduct Authority (FCA), regulador do mercado britânico. “Estamos decididos a elevar os padrões no mercado do crédito ao consumo e é triste que muitas empresas ainda tenham tanto para andar para estarem em linha com as expectativas”, comentou Clive Adamson, director da FCA. “Esperamos que isto sirva de alerta para o resto da indústria”, acrescentou.
As provisões acumuladas pela Wonga desde que começou a ser investigada em pormenor vão permitir reduzir o impacto deste perdão de dívidas, com a empresa a calcular um prejuízo decorrente do perdão de 45 milhões de euros. O castigo, porém, foi além dos perdões.
Além de libertar 330 mil famílias de créditos usurários, a Wonga foi igualmente obrigada a acabar com os juros e comissões em mais 45 mil dos seus empréstimos. Envolvidas nos perdões estão as dívidas cujos pagamentos estão mais de 30 dias atrasados. Já no perdão de juros e comissões estão os créditos que desrespeitam as actuais normas do mercado britânico mas cujos clientes ainda não atingiram os 30 dias de atraso.
As queixas sobre a Wonga foram-se multiplicando ao longo do corrente ano. Em Junho a empresa foi multada em 3,3 milhões de euros depois de ter sido dado como provado que ameaçava clientes com problemas a cumprir os prazos com cartas fraudulentas de escritórios de advogados fictícios. A multa só não foi maior porque a FCA só passou a ter estas empresas de crédito de curto prazo sob a sua alçada a partir de Abril deste ano – as cartas foram enviadas de 2008 a 2010.
Mas a investigação e posterior condenação acabou por fazer soar vários alarmes sobre a Wonga. Esta foi rápida a mudar de administração, numa tentativa de mostrar vontade de cortar com o passado. “Emprestámos a quem não devíamos. Este sector tem estado demasiado centrado em crescer e mais preocupado em aumentar o total de créditos que em aumentar a satisfação dos clientes”, comentou ontem Andy Haste, novo líder da Wonga, num mea culpa que anuncia o desejo de começar já a reabilitação da empresa – que deve inclusive mudar de nome.
Entre os vários problemas na actuação da Wonga conta-se a cobrança de juros anuais até 365% e de até 20% em empréstimos a 18 dias.
in: Jornal i, 3 Outubro 2014