Terramoto de 1755: Um abalo material, religioso e intelectual

O terramoto de 1755 é um dos momentos mais marcantes da história moderna portuguesa. O seu impacto ainda hoje é sentido pelos lisboetas de formas que os próprios desconhecem e nem falamos sequer dos sinais da reconstrução e do redesenho da cidade mas sim dos reflexos do terramoto que hoje ainda se fazem notar na vivência na cidade. Os lisboetas têm bem à sua frente ou sob os seus pés o terramoto daquele 1 de Novembro: seja na calçada que pisam, cuja ideia surgiu depois dos abalos para aproveitar os escombros da cidade, seja no simples hábito de ir ao café, cuja origem remonta à imposição de uma maior socialização entre lisboetas depois do terramoto, condenados a viver em campos de refugiados, repletos de barracas com várias famílias. Lisboa, em parte, ainda hoje vive no rescaldo daquele 1 de Novembro.

Mais do que as deIsosistas1755struição e reconstrução da cidade, vamos procurar abordar o impacto do terramoto a nível pessoal, religioso e intelectual, viajando desde o instinto de sobrevivência que levou muitos a deixarem filhos para trás para se salvarem a si próprios, às reacções de inúmeros profetas da desgraça que, do clero regular ao Papa, atribuíram o desastre à Ira Divina. No campo religioso ainda olharemos para os culpados apontados pelos diferentes credos, numa viagem que nos levará igualmente para o centro da ‘diplomacia’ europeia em ambiente pré-Guerra dos Sete Anos. Por fim, cruzaremos as diferentes reacções das correntes intelectuais então em voga, onde encontraremos Voltaire, Leibniz, Rousseau e mesmo Goethe a discutir o terramoto de Lisboa. Também encontraremos D. José I e o Papa como adeptos da filosofia a que Voltaire rotulou de “tudo está bem”, ainda que transfigurado num agradecimento a Deus pelos que não levou a 1 de Novembro de 1755.

No dies irae que assolou Lisboa, Terra, Água, Fogo e Ar uniram-se para lançar um ataque sem paralelo à cidade. Primeiro, o terramoto; depois, maremoto; por fim um incêndio empurrado por um vento de Norte que surgiu depois dos abalos. Não estivessem reunidas condições suficientes para este ser um desastre épico e Lisboa contava ainda com os seus armazéns cheios na hora do terramoto, acabados de carregar com mercadoria de três frotas e outros três navios da Índia. Tudo destruído em minutos.

Este foi um terramoto que se fez sentir com intensidade em toda a Península Ibérica, mas tendo Madrid passado sem danos de maior, coube a Lisboa dar nome ao terramoto de 8.7 na escala de Richter. A centralidade política, institucional e económica da capital do Reino, concentrando a maioria da actividade económica, instituições eclesiásticas e das elites aristocráticas, e o grau de destruição a que a cidade ficou condenada, ditaram a associação automática entre 1755 e Lisboa. No entanto, mesmo que brevemente, convém não esquecer que, de Setúbal ao Algarve, muitas outras populações sofreram gravemente a 1 de Novembro. Em Setúbal terão morrido cerca de 1000 pessoas, ficando destruídos grande parte dos edifícios, e no Algarve não houve povoação que tenha escapado – Lagos, Portimão e Faro sofreram mais com o maremoto do que com o terramoto. Também na Galiza e Andaluzia há relatos de vítimas e danos materiais.

Continuar a ler

Trabalho para a disciplina de História Moderna de Portugal.

lx-104b

Advertisement

Comentar

Please log in using one of these methods to post your comment:

Logótipo da WordPress.com

Está a comentar usando a sua conta WordPress.com Terminar Sessão /  Alterar )

Facebook photo

Está a comentar usando a sua conta Facebook Terminar Sessão /  Alterar )

Connecting to %s