Sacre Bleu! Europa: o arco íris louco sem rumo ou direcção
Os europeus deram ontem uma resposta à altura das instituições europeias: se ninguém percebe como é que a União Europeia funciona, então tomem lá um sortido de eurodeputados completamente antagónicos e dos mais variados quadrantes ideológicos. Ora a extrema-direita, ora da esquerda radical, ora uns britânicos que vão já pedir a saída da Europa… Pior que o mau, é o caos
Alemanha. Manda eurocépticos para Bruxelas
Vitória sem surpresa para o partido conservador da chanceler alemã. A coligação CDU/CSU elege 36 deputados, com 36,30% dos votos. O Partido Social Democrata conquista 27,5% dos votos, contra 20,8% em 2009. Mas a surpresa é mesmo a chegada dos eurocépticos Alternativa para a Alemanha ao Parlamento Europeu, a eleger sete deputados. Também o partido neonazi NPD elege um deputado com 1% dos votos, depois de a Alemanha ter revogado a regra que exigia um resultado mínimo de 3%.
Estónia. Vitória do governo
Numa votação renhida, o partido do governo liberal de Taavi Rõivas venceu as eleições na Estónia com 18% dos votos. Com o segundo lugar para o Partido do Centro, o país elege três deputados para a Aliança dos Democratas e Liberais pela Europa. A principal derrota é do independente Indrek Tarand, que em 2009 obteve 26% dos votos e ontem reuniu apenas 11%, ainda assim o suficiente para ser reeleito.
Luxemburgo. Viviane Reding ganha força
Os partidos luxemburgueses representados no Parlamento Europeu vão manter-se os mesmos que em 2009. O maior destaque do sufrágio no Luxemburgo foi a vitória do actual partido da oposição, o CSV liderado por Viviane Reding, vice-presidente da Comissão Europeia, que chegou aos 37,7%, mais 6,3% que em 2009. Os restantes partidos perderam todos votantes, com destaque para a queda do LSAPque recolheu 11,75% dos votos, menos 7,73 pontos percentuais que o resultado de 2009.
Áustria. Extrema-direita cresce
Ganham os conservadores mas a escalada é da extrema-direita, em linha com o triunfo das alas mais radicais. Ao contrário do que ditavam as sondagens, os cristãos-democratas do Partido Popular Austríaco conseguem o melhor resultado, ainda assim perdendo um deputado. Segue-se o Partido Social Democrata, nas sondagens apontado como vencedor, com 23,8%. Mas o terceiro lugar é conquistado pelo partido de extrema-direita FPÖ, com 10,8% dos votos e quatro lugares contra 7,3% nas eleições europeias de 2009.
Finlândia. Vitória mainstream
Em contracorrente com os resultados na maioria dos países, na Finlândia venceram os partidos do arco de governação e a ala mais radical do The Finns Party, plataforma eurocéptica, não conseguiu repetir os resultados das legislativas de há três anos. Assim, Partido da Coligação Nacional e Partido do Centro mantêm cada um três lugares, com 22,6% e 19,7% dos votos. O Partido dos Verdadeiros Finlandeses(Finns Party) que conseguiu 19% dos votos nas eleições de 2011 conseguiu ontem o voto de 12,9%nas urnas.
Malta. Governo vence europeias pela 1ª vez
OPartido Trabalhista daMalta conseguiu segurar a confiança dos eleitores nas europeias, transformando-se mesmo no primeiro partido de governo em Malta a vencer umas eleições europeias. Os trabalhistas, dos Socialistas Europeus, puxaram para si 53%dos votantes em Malta, contra os 40%do Partido Nacionalista, dos Partido Popular Europeu. Os movimentos alternativos continuam assim sem grande sucesso nesta ilha do Mediterrâneo, angariando em conjunto 7% dos votos.
Bélgica. Atenção às legislativas
Foi um dia três-em-um, com eleições europeias, legislativas e municipais. O destaque vai todo para as legislativas: ganharam os nacionalistas flamengos, com mais de 32%dos votos e bem à frente dos democratas-cristãos (18%). Esta é uma vitória que coloca em risco a unidade do país visto como a capital daUnião Europeia, o que não deixa de ser sintomático:é um país de tal forma dividido que os vencedores das legislativas foram uns separatistas flamengos que, se conseguirem maioria, avançam para a separação do país.
França. O sismo
Vitoria histórica da Frente Nacional dá à extrema direita francesa um recorde de 20 eurodeputados quando até aqui tinha três. Os conservadores da UMP surgem em segundo lugar 20,3% dos votos e o Partido Socialista de Hollande não foi além dos 14,7%, um dos piores resultados de sempre. Marine Le Pen pediu ao primeiro-ministro para dissolver o parlamento e Hollande anunciou para hoje uma reunião de urgência no Eliseu. O ministro francês do Interior Manuel Valls falou de um “tremor de terra” político em França.
Holanda. Ganham uns, mas a cor da ue é outra
Confirmou-se a derrota clara de Geert Wilders, líder do partido eurocéptico do PVV, que ficou atrás dos maiores partidos pró-europeus daHolanda. Apesar do partido mais votado ter sido o CDA, da família do Partido Popular Europeu, os cinco eurodeputados eleitos por este partido ficam atrás dos sete da Aliança dosLiberais Europeus, que elegeram quatro eurodeputados pelo D66 e mais três pelo VVD. Já Geert Wilders arrebatou um total de quatro lugares no Parlamento Europeu.
Bulgária. Resultado interno
Venceu o partido de centro-direita GERB, com 30% dos votos. Os socialistas do BSP e o Movimento para os Direitos e Liberdade, que desde 2013 governam em coligação depois do GERB não ter conseguido formar governo, têm resultados mais fracos do que apontavam as estimativas. Os analistas apontaram o primeiro-ministro Plamen Oresharski como derrotado, sinal de que os búlgaros querem um caminho pró-europeu e não a orientação pró-russa no poder. Borissov, líder do GERB, pediu a demissão do governo.
Grécia. Triunfo radical
Como ditavam as sondagens, a coligação de esquerda radical Syriza e principal força da Oposição é a grande vencedora das eleições à frente do Nova Democracia do primeiro-ministro Antonis Samaras. O Syrisa conseguiu 26,5% dos votos contra 23,3% de Samaras. Os socialistas do PASOK ficaram atrás do movimento de extrema-direita Aurora Dourada, 8,1% versus 9,3%. À hora de fecho desta edição, ainda sem resultados definitivos, o PASOK elegia dois eurodeputados e a Aurora Dourada três.
Polónia. Partido do governo ganha por muito pouco
Donald Tusk viu a sua Platforma Obywatelska assegurar a vitória com 32,8% dos votos, mas não celebrou. “Este dia fica na história, porque a Europa está à mudar à frente dos nossos olhos. São surpreendentes os resultados das eleições em França”, afirmou Tusk. Apesar da vitória do partido do governo, a oposição ficou bem próxima dos resultados da PO, conseguindo 31,8% dos votos. “Hoje garantimos uma posição inquestionável na esquerda polaca”, disse Jarosław Kaczyński.
Croácia. Reforço
Tal como nas eleições do ano passado, que levaram o país recém-entrado na UE a eleger os primeiros 12 eurodeputados, a vitória tornou a caber à coligação liderada pelo principal partido da oposição HDZ, que perde contudo um dos seis lugares em Bruxelas. A coligação que inclui os sociais-democratas, no governo, conseguiu em segundo lugar quatro deputados. Na primeira eleição a abstenção tinha atingido um recorde na democracia do país e ontem reduziu um pouco, com 25% dos eleitores a participarem no escrutínio.
Hungria. Vitória dominante mas menos
O Fidesz voltou a assegurar a maioria dos votos nas europeias húngaras, recolhendo 57,1% dos votos, vendo o Movimento para uma Hungria Melhor ficar na segunda posição, com 14,3% dos votos. OMHMelegeu assim três eurodeputados, sendo mais um dos partidos não filiados a eleger representantes para Bruxelas. Já os socialistas húngaros ficaram muito aquém do desejável, perdendo dois dos quatro eurodeputados que tinha. Nem 10% de votos conseguiram.
Portugal. Marinho ganha, aliança leva chumbo
A derrota da Aliança Portugal, já esperada, equivale a um chumbo dos eleitores à ideia de ser mais austero do que a Europa queria. Já a votação conseguida por Marinho Pinto, do Partido daTerra, é um chumbo aos partidos normalmente mais representados. OPS venceu as eleições mas com uma votação aquém do que desejaria, o Bloco de Esquerda de 2014 ficou bem distante daquele Bloco de 2009 que saiu dasEuropeias como terceira força política. Agora, é a quinta.
Chipre. Castigo cipriano
Em linha com as sondagens, vitória segura da coligação no poder desde 2013, a Aliança Democrática, com 37,8% dos votos e dois deputados. O Partido Progressista do Povo Trabalhador AKEL sofreu a maior derrota, com 26,5% dos votos contra 34,9% no escrutínio de 2009. Punição do eleitorado pelos últimos cinco anos de governação comunista que deixaram o país na bancarrota. Também expressivo foi o aumento da abstenção, de 41% para 57%.
Irlanda. Gael e Fáil dividem preferências
Os independentes foram os grandes vencedores, totalizando perto de 27% dos votos até à hora de fecho desta edição. Já o FineGael e o Fianna Gáil estavam ambos com votações a rondar os 22%, contra os 17% do Sinn Féin. Numa sondagem divulgada ao longo do dia, os eleitores irlandeses responderam que escolhem o seu candidato pela“Personalidade e qualidades”(50%) e só depois pela sua cor política (23%) ou políticas defendidas (21%).
Rep. Checa. Vitória sorri a cidadãos descontentes
Com apenas 18,2% de taxa de participação nas eleições, o Partido Popular Europeu conseguiu a maioria dos lugares em jogo na RepúblicaCheca graças a ter como filiados dois partidos checos. A vitória foi da Acção dos Cidadãos Descontentes, com 16,13% dos votos, seguindo pelo TOP09, com 15,95% e os sociais-democratas checos, com 14,17%. Estes três partidos elegeram quatro eurodeputados cada, com os democratas-cristãos a ficarem-se pelos três.
Dinamarca. Direita ultra nacionalista
Com uma diferença mais forte do que anteciparam as sondagens, a ala ultranacionalista e eurocéptica do Partido Popular Dinamarquês bateu os sociais democratas actualmente no poder, com 26,5% dos votos contra 18,6%. Durante a campanha propuseram quotas para a limitação de muçulmanos, e sobem agora de dois para quatro lugares em Bruxelas. O Movimento Popular contra a UE, Folkebevægelsen mod EU, mantém também um lugar no Parlamento europeu.
Itália. Eurocépticos dão bunga-bunga na UE
A vitória foi para o Partido Democrático deMatteo Renzi mas o facto mais surpreendente da noite foi o salto deBeppe Grillo até aos 26,5%, líder do partido de eurocépticos italianos, Movimento 5 Estrelas. Quando a Silvio Berlusconi e o seu Forza Italia, mal chegou aos 20% dos votos, tendo a direita separatista, LegaNord, ficado com apenas 6% dos votos expressos.
Roménia. Coligação de esquerda vence
O total de votantes cresceu com alguma expressão, passando dos 27,6%de 2009 para 32,2% nas eleições de ontem. A coligação de sociais-democratas, conservadores e do novo União Nacional para o Progresso daRoménia – os dois primeiros filiados com os Socialistas Europeus, este último sem filiação – conseguiram a vitória com mais de 40% dos votos, assegurando para si até 17 lugares no Parlamento Europeu, contra os anteriores onze detidos pelos dois primeiros partidos.
Eslováquia. Vitória esmagadora da abstenção
A Eslováquia registou os níveis de abstenção mais elevados depois de 87% dos eslovacos terem faltado na chamada às urnas. Conhecida assim a vencedora mais expressiva, oito partidos passam a barreira dos 5% de votos necessários para ocupar os 13 lugares no Parlamento Europeu. Resultado amargo para o primeiro-ministro Robert Fico, que não obstante a vitória dos sociais-democratas consegue 24% dos votos contra 35% em 2009.
Letónia. Unity entra de rompante
A Unidade, do Partido Popular Europeu, conseguiu uma entrada de rompante no cenário europeu, ao recolher 46,2% dos votos, elegendo quatro eurodeputados. Os restantes partidos não conseguiram mais de 14%, 13% e 8,3% dos votos, estes últimos para a União deAgricultores eVerdes, um novo partido que surgiu no país. Os socialistas ficaram reduzidos a 1,5% dos votos.
Suécia. Vitória socialista com 24,7% de votos
Os socialistas ganharam as eleições na Suécia com 24,7% dos votos expressos, contra os 13,4% do partido mais votado, os moderados, filiados ao Parlamento Europeu. Destaque para os Democratas Suecos que pela primeira vez conseguiram chegar a lugares elegíveis, assegurando logo dois eurodeputados. Os democratas-cristãos foram os maiores derrotados, não passando dos 6%, elegendo apenas um eurodeputado para Bruxelas.
Eslovénia. Conservadores reforçam a sua maioria
Tal como previsto nas sondagens, na Eslovénia as eleições reforçam a maioria conservadora. Vitória dos sociais democratas com 27% dos votos e dois lugares. Em segundo lugar o partido de centro-esquerda SD e em terceiro o Nova Eslovénia, cristão-democrata. Mas o certo é que a Europa está longe de ser uma pólo catalisador para os eslovenos: a abstenção foi de 79%.
Lituânia. Sociais democratas: 23%
O partido social democrata da Lituânia assegurou a vitória com 23%dos votos, garantindo a maior parte dos eurodeputados lituanos para osSocialistas Europeus. Já o Partido Trabalhista foi o segundo mais votado, com 17%, deixando para trás os democratas-cristãos do LKD, filiados com os PopularesEuropeus. A taxa de participação no país deu um salto bastante grande, depois de em 2009 nem 21% dos eleitores terem votado. Até às 18h, já mais de 37% dos votantes tinham ido às urnas.
Reino Unido. “Querem ficar na União Europeia?”
A vitória do UKIP pode ser um dos acontecimentos da noite de ontem com mais repercussões a médio-prazo. Este partido de eurocépticos, liderado por Nigel Farage, recolheu 29,05% dos votos. OUKIPfoi rápido a distanciar-se da Frente Nacional francesa, afirmando antes que quer saber a opinião dos britânicos sobre a permanência na União Europeia.
David Cameron e os seus Conservadores não conseguiram melhor que o 3º lugar, com 23,2%, depois dos Trabalhistas, com 24,7%.
Espanha. Derrota do PP e do PSOE
Duro castigo ao bipartidismo, vitória por um triz para o Partido Popular de Mariano Rajoy. O PP conseguiu ontem eleger mais dois eurodeputados do que os socialistas do PSOE mas a imprensa espanhola assinalava que os dois partidos do arco da governação não somaram 50% dos votos, quando em 2009 consensualizaram 80% dos eleitores. O PP perdeu sete lugares no Parlamento Europeu e o PSOE diz adeus também a sete eurodeputados. O novo partido Podemos conseguiu 8% dos votos, cinco lugares.
in: Jornal i, 26 Maio 2014