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Liverpool: A história dos americanos que deixaram de se falar

“É tudo à grande!” A 6 de Fevereiro de 2007, Tom Hicks e George Gillet pagaram 435 milhões de libras para tomar o controlo do Liverpool, histórico do futebol inglês. Na conferência de imprensa de apresentação dos novos donos, as promessas foram rápidas: “Dentro de 60 dias o projecto para o novo estádio tem que estar no terreno.” Até hoje. Porém, para avançar com o novo estádio os investidores pediram ao Royal Bank of Scotland um empréstimo de 185 milhões de libras.

Ainda os adeptos do Liverpool estava a fazer contas a quantos dias já tinham passado desde que era suposto o novo estádio começar a ser construído, e rapidamente foram distraídos por grandes aquisições: Fernando Torres, Ryan Babel e Yossi Benayoun fizeram as delícias dos fãs dos Reds, alimentando sonhos de glória durante o Verão daquele ano. Porém, nada disso. Venha o estádio então.

O projecto para a nova casa do Liverpool acaba por receber luz verde das autoridades locais em Novembro de 2007, o mesmo mês em que chega ao público a notícia do desentendimento completo entre Rafa Benitez e os donos do Liverpool: o treinador queria uns reforços no mercado de Inverno, mas a administração queria outros. Difícil que as coisas funcionem assim, especialmente quando a crise financeira começa a bater à porta e os sucessos desportivos não aparecem de um dia para o outro.

Em Janeiro, as notícias já são outras, mas não menos complicadas de gerir: Tom Hicks admite que falou com Jurgen Klinsmann para tomar as rédeas da equipa na época seguinte mas, ao mesmo tempo, é também tornado público que Hicks e Gillet se desentenderam sobre o futuro do Liverpool, ao ponto de já não se falarem – no meio disto tudo o projecto do estádio continua a avançar como se tivesse tudo muito normal.

É ainda em Janeiro de 2008 que é revelado finalmente o projecto vencedor para o novo estádio, ao mesmo tempo que é também anunciado um acordo de refinanciamento de uma dívida de 350 milhões de libras entretanto acumulada pela administração. A reacção é rápida: uma associação de adeptos do Liverpool pedem aos seus donos americanos que aceitem vender o clube à Dubai International Capital, dadas as dificuldades financeiras em que o clube tinha caído. Nada disso respondem os donos do Liverpool.

O inevitável entretanto claro que aconteceu: dadas as dificuldades em obter recursos financeiros (leia-se mais dívida), o projecto do novo estádio foi abandonado em Maio de 2008 – os 90 dias para o estádio avançar transformaram-se em 461 dias para o projecto ser cancelado. As contas do clube, essas, continuaram a afundar gradualmente.

É já em 2009 e 2010 que surgem notícias a explicar como a espiral de endividamento do Liverpool estava a matar o clube definitivamente: só o acordo de refinanciamento fechado com o Royal Bank of Scotland estava a custar ao Liverpool 2,5 milhões de libras semanais por sucessivos incumprimentos e a 16 de Abril de 2010, Hicks e Gillet anunciam que colocaram o Liverpool à venda. O RBS impõe à administração a nomeação de um gestor para liderar o processo de venda e sucedem-se os interessados – da China, à Síria. Entretanto, já Rafa Benitez tinha sido substituído por Roy Hodgson e Klinsmann nem vê-lo.

Depois de muitos avanços e recuos, de interessados e supostas ofertas, a dupla americana acaba por aceitar vender o Liverpool em Outubro de 2010 ao também americano John W. Henry, dono dos Boston Red Sox, por 300 milhões de libras. Anfield sobreviveu.

in: Jornal i, 12 Abril 2014

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