A melhoria do consumo das famílias, depois de um ano de cortes salariais e de subsídios, continua a alimentar o crescimento económico
O produto interno bruto (PIB) cresceu 0,2% no terceiro trimestre deste ano em comparação com o trimestre anterior, revelou ontem o Instituto Nacional de Estatística. Apesar deste crescimento entre Julho e Setembro deste ano, certo é que o valor apresenta uma desaceleração significativa face ao que foi conseguido no segundo trimestre do ano, quando o PIB saltou 1,1%. Já face ao terceiro trimestre do ano passado, a economia portuguesa continua aquém: o PIB no final de Setembro estava 1% abaixo do valor de Setembro de 2012.
Este foi o segundo trimestre consecutivo que o PIB variou de forma positiva, tendo o salto de 0,2% agora registado ficado porém no limiar mínimo das previsões dos analistas, que antecipavam um crescimento entre os 0,2% e os 0,5%. Apesar da subida nos últimos dois trimestres, a variação do PIB no conjunto de 2013 não deverá fugir muito à contracção de 1,8% prevista pelo governo para a totalidade do ano.
O comunicado ontem divulgado pelo INE permite também descortinar de onde está a chegar o crescimento económico que Portugal está a registar este ano. “A procura interna apresentou um contributo menos negativo para a variação homóloga do PIB, devido sobretudo à diminuição menos acentuada das despesas de consumo final das famílias residentes”, explica o INE.
Ao longo dos últimos trimestres, e depois da razia aos subsídios e aos rendimentos das famílias em 2012, as contas públicas têm vindo a beneficiar do chumbo do Tribunal Constitucional às medidas do governo que violavam a lei fundamental, nomeadamente ao nível dos subsídios na função pública, que devolveu a parte da população algum poder de compra, permitindo a ligeira retoma a que assistimos.
Apesar deste efeito positivo de curto-prazo, o FMI alertou na sua avaliação ao programa português divulgada esta semana que uma retoma da procura interna vai, necessariamente, implicar um aumento das importações, tanto de bens de investimento como de consumo duradouro. Esta evolução – só alcançada à custa do empobrecimento da população -, terá que ser compensada com aumentos ainda mais pronunciados ao nível das exportações, diz o FMI.
O impacto do aumento das importações já se fez sentir nas contas do trimestre terminado em Setembro, com o INE a alertar que o “contributo da procura externa líquida diminuiu, reflectindo principalmente a aceleração das Importações de Bens e Serviços”. É também de relembrar que a melhoria das contas com o exterior de Portugal foram sobretudo conseguidas à custa de quedas abruptas do consumo, fruto de vários cortes no rendimento disponível dos residentes em Portugal.
Zona Euro abranda Depois da subida de 0,3% entre Abril e Junho deste ano, a zona euro viu o crescimento abrandar até 0,1% no terceiro trimestre, quando comparado com os três meses anteriores – que equivale a uma contracção de 0,4% em termos homólogos, o valor esperado para a contracção económica da região em todo o ano de 2013.
Finlândia e Estónia, com crescimentos trimestrais de 0,4%, foram os dois países que mais contribuíram positivamente para os valores da zona euro. Já na União Europeia, que registou um crescimento de 0,2% no terceiro trimestre, foi a Roménia a grande impulsionadora, ao registar um salto de 1,6%.
Destaque ainda para os números alemães e franceses. Se os primeiros assistiram a um abrandamento económico, com um crescimento trimestral de 0,3% que compara com os anteriores 0,7%, os segundos voltaram aos recuos. O PIB francês caiu 0,1% entre Julho e Setembro, ou seja, logo depois de ter saído de recessão técnica em Junho.
in: Jornal i, 15 Novembro 2013