Qual é o peso de 11 épocas consecutivas sem vencer um campeonato? Será uma herança de tal forma pesada que leve a aceitar que dois títulos nas dez épocas seguintes sejam uma “viragem de ciclo”? Esta é a pergunta que deve estar na cabeça dos benfiquistas agora que se comemoram os dez anos do Estádio da Luz.
A vaia monumental dedicada por 65 mil adeptos a Durão Barroso marcou aquele 25 de Outubro de 2003 e pode agora ser vista como um mau prenúncio, tanto para o Benfica como para o país. O dia era de inauguração do novo estádio e, se na altura muitas vozes se insurgiram contra os assobios, hoje a vaia parece ainda mais merecida, especialmente depois de Durão ter fugido do país e mudado de nome para José.
E o Benfica? Na altura da inauguração do estádio os adeptos viviam a décima época de seca. Só no ano seguinte voltariam a festejar e – como aconteceu em 2009/10 – a suspirar pela quebra da hegemonia do Porto prometida pelo novo presidente – eleito poucos dias depois da inauguração. A promessa, porém, ainda hoje parece uma miragem.
Contas feitas, e se nos últimos dez anos do velho Estádio da Luz o Benfica foi campeão uma vez e venceu uma Taça de Portugal (1995/96), nos primeiros dez anos da nova Luz ganhou dois campeonatos e uma Taça de Portugal. É verdade que não repetiu o 6.o lugar de 2001 e que nos últimos três anos de Jesus ficou sempre em 2.o, mas consolidar-se como Segundo Grande não é propriamente um sucesso.
E as contas? A história recente do Benfica confunde-se com a história de Luís Filipe Vieira, que neste período passou de ilustre desconhecido para a lista dos 100 mais ricos de Portugal. Mas o comportamento financeiro do SLB evoluiu de forma diferente: nos dez anos de vida do novo estádio, oito acabaram em prejuízos, um foi quase neutro e só se fechou um exercício com lucro: os 15 milhões de 2006/07, graças à venda de Simão ao Atlético. Além dos resultados líquidos, também a situação patrimonial do clube da Luz entrou recentemente numa clara deterioração, com os capitais próprios – tudo o que o clube tem subtraído de tudo o que deve – a entrarem em declínio.
in: Jornal i, 25 Outubro 2013