Os apelos à emigração vindos do governo estão a ter impacto até nos trabalhadores de empresas em fase de expansão, que lentamente vão perdendo os quadros mais qualificados para outros países. É o caso da TAP.
Ao que o i conseguiu apurar, em 2012 verificou-se algo inédito nos quadros da companhia aérea, com mais de quatro dezenas de profissionais qualificados a sair voluntariamente aliciados por companhias rivais, que não só oferecem melhores condições remuneratórias, como a possibilidade de viver em países cujo custo de vida é menos exigente. E desengane-se quem achar que este movimento é exclusivo de pilotos. Mas comecemos por estes.
No ano passado, a TAP registou a saída de 19 pilotos dos quadros da companhia. Destas, apenas cinco se deveram a reformas, número em linha com os anos anteriores. Os restantes 15 pilotos que decidiram abdicar do emprego na transportadora fizeram-no de forma voluntária e por desejo de embarcar em bandeiras de outros países, soube o i. O valor foi confirmado pelo Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC), que fala em 20 saídas voluntárias de pilotos da maior companhia aérea portuguesa nos últimos dois anos, ou seja, desde que os cortes orçamentais e a austeridade no país se tornaram particularmente dolorosos.
Olhando para a manutenção da transportadora, com um quadro médio de pessoal a rondar os 1900 colaboradores, as saídas voluntárias ao longo de 2012 foram ainda em número mais elevado. Além das saídas por reforma, a TAP viu 30 técnicos de manutenção abandonarem voluntariamente a empresa para seguirem carreira em empresas e/ou países que oferecem melhores condições. Também outras áreas da empresa têm sofrido com as saídas voluntárias, como os especialistas em contabilidade própria do sector da aviação.
Se até ao momento a operação da TAP ainda não foi afectada por esta fuga de quadro, tal poderá vir a acontecer a médio prazo, já que fontes na companhia indicam ao i que a chegada do novo ano acelerou o ritmo das saídas voluntárias em relação a 2012. Este cenário em nada interessa à empresa, já que tem vivido em expansão nos anos mais recentes, necessitando por isso de reforçar os quadros, sendo ainda obrigada a aumentar os gastos em formação para compensar as saídas dos trabalhadores mais qualificados.
Ao contrário de outros anos, em 2013 a TAP não foi autorizada a poupar os seus trabalhadores aos cortes decretados pelo governo para o sector empresarial do Estado, com reduções salariais entre os 3,5% e os 10%. Este facto, conjugado com o “enorme aumento de impostos” levado a cabo pelo governo para este ano, serão, aliás, os principais motivos a acelerar a fuga da mão-de-obra especializada da TAP sentida no início deste ano.
in: Jornal i, 16 Fevereiro 2013