Temístocles: Apogeu e ostracismo. As duas faces da mesma moeda
Artigo publicado no v. 6, n.1 (2015) da revista “Cadernos de Clio”, do Programa de Educação Tutorial do curso de História da Universidade Federal do Paraná, aqui.
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O ostracismo de Temístocles ocorreu num período crítico para o futuro da Grécia, acabada de sair de uma guerra contra os Persas que venceu fruto a uma aliança entre as várias Poleis, e quando as tensões entre partidários de sistemas oligárquicos ou democratas se digladiavam em Atenas ao mesmo tempo que Esparta e esta Polis lançavam já as bases para a guerra que iriam ter algumas décadas mais tarde.
O processo que levou à expulsão de Temístocles foi, como tantos outros do Séc. V a. C., fruto de injustiças, invejas, manobras de bastidores e intervenções externas à política Ateniense, sendo todavia também o corolário lógico para uma personagem que tinha tanto de odioso como de adorado. Foi ele quem contribuiu decisivamente para o crescimento da democracia Ateniense e quem tomou decisões críticas que permitiram que Atenas se tornasse num pequeno Império à escala do Egeu nos anos após a sua expulsão, contudo, foi também ele que se tornou permeável, criticável e quiçá abominável perante os olhos não só dos aristocratas mais conservadores de Atenas, mas também de toda a população, seja pelo seu carácter ostensivo, exibicionista, apoiante da lógica de que os fins justificam os meios ou por ser dono de uma ambição desmesurada, tudo características que, na época, meros 30/40 anos depois da tirania Pisistrátida, eram mais do que suficientes para os Atenienses, por via das dúvidas, preferirem expulsá-lo da cidade a vê-lo viver sem rivais à altura durante muito tempo – sobretudo se considerarmos as diversas acusações que foram feitas contra ele, desde traição a aceitar subornos, passando por extorsão, umas com mais razão que outras como já veremos.
Se a expulsão de Temístocles visou sobretudo abrir caminho ao aristocrata Címon, objectivo conseguido sob o disfarce do ostracismo, lei criada para evitar a ascensão de tiranos, a verdade é, como já referimos, é que não foi muito diferente de outras que ocorreram neste período, a maioria das quais em benefício de Temístocles, que ao longo da década de 480 a. C. foi vendo os seus vários rivais afastados de Atenas até também ele ficar com o caminho livre para impor a sua visão em Atenas. Caso para dizer que “quem vive pela espada, morre pela espada”.
Foi assim a saída de Temístocles de Atenas que abriu as portas à ascensão de Címon, político conversador e pro-Esparta que era exactamente o oposto de Temístocles e o sucessor político do seu anterior rival, Aristides, também ele ostracizado. Se Temístocles era um exibicionista, Címon era tudo aquilo que se pedia a um Estadista, admirável, nobre e correcto. Mas Címon era também pro-Esparta, Polis que Temístocles hostilizou até à exaustão e que o temia tanto pelas boas relações que mantinha com vários líderes Gregos, como pelos seus dotes políticos e por toda a estratégia marítima que construiu ao longo dos seus anos enquanto líder Ateniense. Se considerarmos que Temístocles já depois da guerra contra os Persas impediu por duas vezes que os Espartanos ficassem com o ascendente sobre toda a Grécia, seja através da reconstrução das muralhas de Atenas, a sua principal defesa, seja por não ter deixado que Esparta liderasse a Aliança de Estados gregos, o que provavelmente impediria a política imperialista Ateniense que estava a nascer, vemos com naturalidade a campanha de descrédito lançada pelos Lacedemónios contra Temístocles, que, qual água mole em pedra dura, acabou por ajudar a convencer os Atenienses a retirá-lo de cena.
Bibliografia consultada e/ou recomendada:
Trabalho para a disciplina de História da Antiguidade Clássica: Nota final 17 valores