Portugal: a inventar novelas desde 1969

Uma das drogas que nos obrigam a tomar em Portugal são as novelas intermináveis. Dos megaprocessos judiciais ao TGV, são mil os dossiês que se arrastam até a opinião pública ficar esmagada com estudos, análises, especialistas.

Exemplo disto é o novo aeroporto de Lisboa (NAL), agora adiado por dez anos. Adiar por dez anos no calendário político-português significa que temos novela para mais duas décadas, o que reforçará o nosso recorde “Portugal, o país que demora 63 anos a fazer um aeroporto”. O NAL remonta a 1969 e quando estiver feito até pode pedir a reforma antecipada.O governo optou então por adiá-lo e quer avançar com o “Portela+1”, algo que até há pouco tempo era impossível. Esta alteração mostra a fragilidade (falsidade?) de todas estas novelas.

Desde 1969 que os vários decisores se artilharam de estudos para riscar o “Portela+1” – tal como se encheram de estudos a provar que as PPP iam acabar com o aquecimento global e trazer a paz ao mundo. As opções para ser o “plus one” da Portela eram Alverca, Tires, Montijo e Sintra – todas chumbadas por “estudos aprofundados”. Sobre Sintra e Tires, estes mostravam que “têm constrangimentos relacionados com a área para expansão”; em Alverca, o chumbo deveu-se à “proximidade à Portela” e ao “facto de a pista ter orientação semelhante”, o que “impede a operação simultânea”. Sobrava o Montijo: “as pistas conflituam com a da Portela”, ainda que uma delas possa receber 6 aviões/h se tiver obras de 172 milhões de euros. Mas “a Eurocontrol concluiu que a manutenção dos dois aeroportos em operação [distam 30 km] não só é muito complexa como tem vida útil muito limitada”. E assim se matou o Montijo também.

Todos estes argumentos foram usados para vender que o “Portela+1” era impossível. Agora, e de um dia para o outro, não só o “+1” avança e tudo o que era impossível desapareceu, como estamos a descobrir que as PPP não trazem a paz mundial, que os megaprocessos só dão em meganulidades e que o TGV virou Ninguém-o-Vê. E a melhor parte? É que nos próximos 20 anos vamos continuar a ver exactamente estas mesmas novelas.

in: Jornal i, 19 Abril 2012

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