António Carrapatoso manifestou-se ontem à noite contra a aprovação da OPA da Sonaecom sobre a Portugal Telecom (PT) mesmo que esta seja alvo de inúmeros «remédios» por parte da Autoridade da Concorrência (AdC).
in: Jornal de Negócios, 01 de junho de 2006
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«Imposições distorcem o mercado»
António Carrapatoso manifestou-se ontem à noite contra a aprovação da OPA da Sonaecom sobre a Portugal Telecom (PT) mesmo que esta seja alvo de inúmeros «remédios» por parte da Autoridade da Concorrência (AdC).
Para o presidente da Vodafone Portugal a imposição de várias condicionantes à operação «não torna o mercado mais flexível nem mais transparente», antes pelo contrário, tendo ainda realçado que a sua operadora não é contra a OPA «apenas por causa da posição dominante» que resultaria da fusão TMN/Optimus.
Segundo o líder da Vodafone, que foi o convidado de ontem do jantar promovido pela APDC (Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações), «não pode haver regime de compensação» na análise à OPA, já que estão em causa «mercados separados» (fixo e móvel) não sendo apenas isso que torna esta operação «negativa para o mercado e para nós».
Distribuição preocupa
O reforço da posição dominante da Sonae ao nível da distribuição foi outro ponto «negativo» apontado por António Carrapatoso, que alertou para o facto de «já hoje sentirmos dificuldade em colocar lojas nos espaços da Sonae, por isso imaginamos como vão ser as dificuldades para colocar lojas com a fusão PT/Sonarecom».
Também ao nível dos conteúdos o convidado da APDC apontou problemas concorrências independentes à eventual imposição de remédios por parte da entidade de Abel Mateus. «Até que ponto é que ficamos em posição mais desfavorável do que já temos hoje em dia?» questionou aos seus ouvintes.
O presidente da Vodafone portuguesa ainda aproveitou, durante o seu discurso, para «desacreditar» um dos «pontos-fortes» da Sonaecom para justificar a fusão TMN/Optimus.
«Não aceitamos o argumento que é precisa a fusão para concorrer com grandes operadores europeus» afirmou, defendendo que «é muito mais relevante ter economias de escala nacionais do que internacionais… Claro que há vantagens nestas últimas, mas é mais relevante ter economia de escala a nível nacional» defendeu, contestando a ideia da Sonaecom de criar economias de escala entre todas as operações internacionais da Portugal Telecom. Esta razão, diz Carrapatoso, «não é válida».
Um outro facto que preocupa o líder da Vodafone prende-se com «o maior poder negocial» que teria um grupo que controlaria «75% do mercado das telecomunicações nacionais». «Até que ponto isso é bom para o mercado?» pergunta.
Nem com remédios
António Carrapatoso definiu durante o jantar de ontem da APDC oito possíveis «remédios» que a AdC poderia colocar à operação: Abertura aos operadores virtuais (MVNO); Imposição de preços grossistas; Forte escrutínio por parte da AdC e da Anacom no acesso à rede de distribuição e à área de conteúdos; Separação da parte grossista e retalhista da PTC; Venda das operadoras “no-frills” (neste caso a Rede4 ou a Uzo); Nova licença móvel e “obrigar a Sonae a vender parte da rede de hipermercados”. Mas, segundo o próprio, nem com tudo isto “a operação seria positiva para o mercado nacional”.
No entender do presidente da Vodafone Portugal a imposição de uma séria de «remédios» só iria tornar o mercado menos flexível.
Quanto ao possível interesse da Vodafone em comprar uma das redes da Portugal Telecom (cobre ou cabo), António Carrapatoso começou por apontar a rede de cobre como a «mais essencial», já que «a de cabo está parcialmente montada em cima desta», tendo posteriormente referido que a Vodafone não irá, «em princípio», avançar para a aquisição de qualquer uma das redes.
Relembre-se que já anteontem Arun Sarin, presidente do Grupo Vodafone, tinha descartado por completo a aquisição de qualquer empresa da rede fixa: «Está bem claro que não vamos adquirir qualquer empresa do negócio fixo na Europa» afirmou em entrevista publicada no próprio site da Vodafone.