Recensão ao livro “Problemas de Historiografia Helenística”, de Bruno Battistin Sebastiani, Fernando Rodrigues Jr e Bárbara da Costa e Silva (Coords). Recensão publicada no nº 29 (2020) da revista “Cadmo – Revista de História Antiga”, do Centro de História da Universidade de Lisboa.

Reunindo algumas apresentações do evento “Jornada de Historiografia Helenística: novas abordagens teórico-metodológicas”, o livro promete-nos “problematizar de saída, por seus formatos a noção mesma de ‘helenismo’”, antecipando “reflexões sobre abordagens inovadoras em relação à temática subjacente a todos os textos” (p.11). Com um total de dez artigos, o trabalho de compilação e organização ficou a cargo de Breno Battistin Sebastiani, Fernando Rodrigues Jr. e Bárbara da Costa e Silva, da Universidade de São Paulo. O primeiro, Professor de Língua e Literatura Grega, é doutorado em Políbio e traduziu o historiador para o Brasil. E Políbio é precisamente o historiador mais analisado no conjunto dos artigos. Plutarco, Salústio, Tito Lívio e Díon Cássio são os restantes.
Apesar de reunidos num mesmo livro sobre um ponto de partida comum – “Problemas de Historiografia Helenística” -, a amplitude do tópico torna difícil encontrar um fio comum a todos os artigos. Contudo, alguns dos textos conseguem ser encaixados numa só categoria, ainda que não tanto sobre a “noção mesma de ‘helenismo’”, mas antes sobre os diferentes tratamentos dedicados pelos autores clássicos ao “bárbaro” – o “outro”. Em comum neste leque de artigos a defesa de que apesar do tratamento diferenciado e pejorativo dedicado aos “outros” tal não se justifica por considerações dos historiadores clássicos tendo por base a raça ou características inatas.
O artigo com que arranca a compilação – “L’idea della Translatio Imperii nella storiografia ellenistica e romana: un modelo interpretativo fra storia e propaganda politica” – de Francesca Gazzano, é um dos que olha de forma ampla para uma problematização helenística, colocando em debate a ideia da transferência de poder e a evolução do conceito ao longo das épocas helenística e romana. Seguem-se textos onde o escopo é então fechado na tal visão do “outro”, analisando-se aqui tanto o tratamento dedicado por Plutarco aos Macedónios como as “opiniões fortes” de Políbio em relação aos estrangeiros, leia-se os de fora do mundo greco-romano. Este último artigo acaba por insistir na ideia de que nenhuma das “opiniões fortes” manifestadas por Políbio significa que o historiador considerava que egípcios, gauleses ou cartagineses fossem inferiores por características inatas, hereditárias ou imutáveis.
Políbio volta a estar no centro do debate nos dois artigos seguintes… [Continuar a ler]