Recensão publicada no nº 28 (2019) da revista “Cadmo – Revista de História Antiga”, do Centro de História da Universidade de Lisboa.

Professor na Universidade de Arizona, Matthew Simonton retoma neste livro o eixo principal do seu Doutoramento em Clássicas e Filosofia Antiga (The Rules of the Few: Institutions and the Struggle for Political Order in Classical Greek Oligarchies), no qual já procurava suprir a falta de um estudo actualizado e exaustivo aos mais de cem regimes oligárquicos que existiram no período Clássico na Grécia. Esta é uma lacuna que Simonton pretende continuar a preencher com este livro, um trabalho não tanto focado na ideologia e no pensamento oligárquico, mas na relação deste sistema com a sociedade que o rodeava, física e politicamente, e também consigo mesmo. Afinal, como é que um regime de “poucos”, contra a maioria, sobreviveu e chegou a prosperar em algumas poleis em plena explosão da democracia?
Tendo como base principal tanto os vestígios arqueológicos como as fontes literárias, sobretudo em temas onde pouco mais está disponível, o livro procura identificar e perceber as regras, normas e mecanismos que os regimes oligárquicos criaram ou recorreram para resistir ao ímpeto democrático e às pulsões por vezes tirânicas que emanavam do interior dos “poucos”. Ao longo deste percurso, o A. não se coíbe em comparar alguns métodos de actuação destas oligarquias clássicas com métodos de regimes autoritários contemporâneos, ou de explicar algumas das questões que se colocavam às elites com recurso à teoria dos jogos da matemática aplicada, tudo formas que encontrou para analisar os dilemas que os regimes enfrentavam, as suas soluções, e introduzir novos caminhos para o estudo das oligarquias.
Apontando como último estudo exaustivo sobre as oligarquias gregas o trabalho de Leonard Whibley (Greek Oligarchies, Their Character And Organisation, 1896), o A. aproveita os recentes trabalhos de sistematização de fontes sobre oligarquias gregas (Copenhagen Polis Center, Inventory of Archaic and Classical Poleis, IACP, Oxford University Press, 2004) para relançar o estudo a um sistema constitucional que, diz, apesar de amplamente referido, nunca mereceu tanta atenção historiográfica como a dedicada à democracia clássica ou à tirania arcaica. Tem por isso, como objectivo, responder a uma série de questões sobre a oligarquia: “What was the relationship between the rulers and the wider male citizenry (dêmos) of an oligarchically governed polis? To what extent was oligarchic rule contested by popular movements? And how might oligarchs have collectively responded in an attempt to retain their power? All of these questions will be concerns of this study” (p. 3).
Na busca por estas respostas, outras surgem e novas questões são suscitadas. Apesar da oligarquia estar bem referenciada nas fontes, os vestígios nem sempre são extensos o “suficiente”, obrigando a deduções e a alguns saltos no escuro. Esta é uma realidade que o A. assume desde o início, sublinhando que o estado de algumas provas permite reconstruções e interpretações divergentes das suas (“A warning to every potential reader: the patchy state of the evidence allows for extremely divergent reconstructions and interpretations”, p. x.). E, de facto, apesar de o livro cruzar fontes literárias com registos de práticas oligárquicas (inscrições, decretos, etc.), sente-se por vezes falta de mais substância na base de algumas afirmações – como a defesa pelo A. da existência de “redes de clientelas” sob protecção das elites (pp. 168-185). Mas estes casos são a excepção e não surpreendem dada a tarefa a que o livro se propõe. [Continuar a ler]