Recensão: Breno Battistin Sebastiani (2017), Fracasso e Verdade na Recepção de Políbio e Tucídides, Coimbra, Imp. Univ. Coimbra, 210 pp.
Recensão publicada no nº 28 (2019) da revista “Cadmo – Revista de História Antiga”, do Centro de História da Universidade de Lisboa.

Professor de Língua e Literatura Grega da Universidade de São Paulo, Breno Sebastiani é doutorado em Políbio, traduziu este historiador para o Brasil e tem escrito sobre historiografia, narrativa greco-latina, pensamento político antigo e recepção de textos clássicos. É na confluência de todos estes pontos que encontramos o presente livro, que se propõe a examinar o problema da recepção “dos – ou nos – textos de Tucídides e Políbio”, olhando a perspectivas narrativas, historiográficas, literárias e culturais. Como base do exame estão os “fracassos políticos, verdades” dos historiadores e os seus textos.
Em foco está a interpretação dos eventos e respectivas opções tomadas por Tucídides e Políbio na altura de os narrar, mas também na demanda por uma verdade histórica, na escolha de quais os pensamentos privados a expor como bens públicos e colectivos, do modo como “fazem ver” o que aconteceu e de como aquilo que descrevem acaba adaptado por cada leitor à sua própria realidade.
Mas este é um exercício que o A. leva mais longe, salientando como em cada opção tomada sobre o que entra ou não nas histórias dos autores está um exercício de mediação entre as distintas contemporaneidades de historiador e leitor, concentrando uma análise ao modo como “a condição traumática de fracassado político de ambos” – condição da qual, no caso de Tucídides, que melhor conhecemos, nos distanciamos – reforçou e/ou contaminou os seus relatos.
Mas este é um livro que arrasta consigo desde a sua primeira palavra um enorme problema de forma, já que apesar de discutir a verdade, a forma das narrativas e de como estas podem interagir com diversas componentes, incluindo o próprio destinatário das obras, o texto acaba por desvalorizar a interacção com os seus próprios leitores, que várias vezes darão por si perdidos e emaranhados em ideias excessivamente complexificadas na forma, e não propriamente no conteúdo. O A. dá um exagerado número de voltas para explanar ideias que não necessitavam de tanto artefacto ou considerações, sacrificando nesse caminho espaço que podia (devia) ter dedicado a uma melhor justificação das suas ideias ou a melhor ligar capítulos – já que o livro é uma “colagem” de artigos e trabalhos anteriores do A., ainda que adaptados ou actualizados desde a sua publicação original.
Ainda sobre a forma, é incontornável mencionar também o uso excessivo de parêntesis para criar duplos significados em palavras – ex.: “mo(vi)mento; (re)criação); medi(t)ada; (h)istor; (im)possíveis” – cria um novo obstáculo numa leitura já de si desagradável, especialmente quando o A. apresenta uma conclusão com um “(não)” pelo meio criando duplos significados no que deveria ser um ponto de chegada claro. Além disso, o abuso deste recurso anula o propósito da construção de palavras acrescidas de parêntesis, que é tão eficaz quanto o seu uso for comedido. Se é uma ferramenta recorrente, como no presente livro, fica só e apenas confuso. [Continuar a ler]