Vai mudar de emprego? O dinheiro não é tudo
Foi convidado para um novo desafio profissional? Conheça os principais aspetos financeiros e extrafinanceiros a ter em conta para tomar uma decisão consciente e informada. É que, apesar de importante, há mais a ter em conta que o salário.
In: Revista Montepio nº33, 2020

- Condições remuneratórias
Este é um dos primeiros pontos a conhecer sobre o novo emprego. É que mesmo o dinheiro não sendo tudo, a situação salarial tem bastante impacto no bem-estar geral de todos nós. Tanto que este é maior motivo para mudar: “A razão principal são as questões financeiras associadas à proposta de trabalho”, explica Marta Ferreira, HR Senior Consultant na Kelly Services, empresa de gestão de recursos humanos responsável por mais de 500.000 recrutamentos e colocações anualmente.
Na análise às condições que lhe propõem comece por olhar para as diversas componentes que constituem o recibo de vencimento. Qual o peso do vencimento base no salário total? Quanto oferecem de subsídio de refeição? Que outros subsídios ganha/perde com a mudança? Qual o impacto da nova oferta em termos fiscais? E irá trabalhar mais ou menos horas? Esta última pergunta pode ser especialmente relevante quando estiver a ponderar os valores em cima da mesa. Isto porque ganhar 1.600 euros para trabalhar 35 horas por semana é distinto de ganhar 1.800 euros para trabalhar 45 horas– neste exemplo estará a ganhar mais ao fim do mês, mas menos por hora trabalhada. Compensará? - Impacto na carreira
Além do impacto na situação financeira imediata, uma mudança de emprego também pode significar uma mudança de perspetivas a médio e a longo-prazo, especialmente se mudou porque se sentia estagnado ou por falta de perspetivas. Lado a lado com a remuneração, também o projeto que nos é proposto tem “impacto substancial na tomada de decisão”, diz a especialista da Kelly Services. “Deve ser sempre analisado inicialmente se o projeto faz de facto sentido para a sua evolução profissional”, detalha Marta Ferreira.
Quais as suas expectativas em termos de progressão e evolução de carreira para os próximos anos? Há mais ou menos possibilidades de lá chegar no novo emprego? Tem mais espaço para crescer na oportunidade que surge ou no sítio onde está? E, existindo oportunidade de crescer em ambas, qual a tradução salarial do crescimento em cada uma delas?
Por outro lado, se a mudança significar “começar do zero” noutra área há que estar consciente que a progressão pode ser mais lenta que a que podia ambicionar se continuasse no sítio atual. Mas nem tudo se resume a questões financeiras ou de progressão de carreira. Se pode acomodar uma ligeira redução salarial e esse for o preço para ser mais feliz no trabalho, porque não? Até pode dar-se o caso de estar a dar um passo atrás para dar dois em frente.
- Condições indiretas
Além do vencimento e de outras rubricas diretamente ligadas ao salário líquido, há outros aspetos financeiros que podem influenciar as suas contas e que devem ser analisados. Para perceber o real impacto da mudança deve considerar “a liquidez anual bem como benefícios financeiros e sociais, nomeadamente cheques creche e cheques viagens, flexibilidade horária e homeoffice”, diz a HR Senior Consultant da Kelly Services.
Se a proposta que lhe apresentam prever um salário igual ou pouco melhor em relação ao que tem hoje, mas incluir uma viatura, combustível, subsídio de transportes, telemóvel, seguro de saúde, ginásio ou apoios à natalidade, pode dar-se o caso de aquilo que à primeira vista parecia uma proposta apenas um pouco melhor se revele algo bem melhor. Mas devemos também estar conscientes que as nossas expectativas de benefícios podem não bater certo com a prática, algo a que a Kelly Services chama a atenção.
“Tendo em conta que 90% do tecido empresarial português são PME, que acabam por não ter uma liquidez financeira muito elevada, os benefícios que mais são oferecidos pelas empresas e que têm sido contínuos ao longo dos anos são seguros de Saúde e seguros de Vida. Cada vez mais se deixa de oferecer carro e estacionamento como contributo remuneratório para a função.”
Deixar de pagar do seu próprio bolso um seguro de saúde, ou ter acesso a um mais abrangente e com melhores coberturas, a possibilidade de poder alargá-lo à família, mas também questões do quotidiano como se irá gastar menos ou mais nas deslocações diárias ou deixar de ter (tantas) despesas com automóvel, são aspetos que podem ser determinantes aquando das contas.
- Envolvente externa e interna
Se em cima da mesa tem uma proposta para função similar, mas num setor distinto, deve igualmente ter em conta as especificidades da nova área e o grau de exposição desta ao ciclo económico. Trata-se de um setor mais ou menos estável? Qual a posição da empresa face à concorrência e qual a estabilidade da própria empresa e das suas contas? Trata-se de uma mudança para uma área mais resiliente? Qual o nível de investimento da empresa? Vai ter acesso a todas as ferramentas que precisa? Tudo são fatores a ponderar.
Mas olhe também para as suas próprias questões. A proposta enquadra-se bem nos restantes aspetos da sua vida além do profissional? Ficará mais fácil ou difícil conciliar o trabalho com a família, os filhos, os amigos?… A sua qualidade de vida irá previsivelmente melhorar ou piorar? Vai encontrar nesta oportunidade um novo alento ou corre risco de estagnar? Lembre-se que está a tomar uma decisão que será para alguns anos, logo nunca feche a análise apenas à componente financeira e aos benefícios. Estar num projeto onde se enquadra perfeitamente, com bom ambiente, onde aprende e onde lhe dão a oportunidade de mostrar o seu potencial podem ser fatores até mais decisivos na motivação a médio e longo-prazo do que o vencimento.
CAIXA:
Quero mudar de emprego. E agora?
Em muitos casos a vontade de mudar de emprego surge antes de uma proposta nesse sentido. Como deve atuar então? Tome a iniciativa. Comece por perceber o rumo que quer seguir, como está o mercado e desenvolva ou aprimore a sua rede de contactos. “Depois de definir claramente o rumo que quer seguir, primeiramente é importante fazer uma análise do mercado e das oportunidades que o mesmo apresentar, candidatar-se exclusivamente às ofertas em que o seu perfil se enquadre e em paralelo desenvolver o seu networking”, conforme explica Marta Ferreira, HR Senior Consultant na Kelly Services. Ou seja, mais do que começar a ‘disparar’ currículos e contactos, procure de forma cirúrgica e concorra apenas a funções em que a sua experiência e skills encaixam que nem uma luva, ou quase.