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Horta Osório prescreve: Baixar custo da energia, atrair imigrantes e não vacilar

CEO do Lloyds vê abertura de “3 a 5 anos” para Portugal por a casa em ordem. Para tal, tem de baixar peso da dívida, aumentar produtividade e reformar

in: Dinheiro Vivo, 22 junho 2017

António Horta Osório, CEO do Lloyds Banking Group, esteve esta quinta-feira num almoço promovido pela Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, onde apresentou aos associados e convidados da mesma a sua visão sobre o que foi o ajustamento e o que devem ser os próximos anos da economia portuguesa. O esforço compensou mas é preciso manter o foco, foi a ideia geral transmitida ao longo da intervenção.

É que apesar dos principais desequilíbrios que levaram a economia portuguesa ao pedido de assistência estarem agora controlados, o país ainda não ganhou margem para evitar novos sobressaltos em caso de uma deterioração do enquadramento, seja interna ou externa. O défice externo foi corrigido e o défice orçamental persiste em correção, é certo, mas a dívida total do país – pública e privada – continua entre as mais altas da Europa e a produtividade estagnou. E são estas as vias por onde a recuperação deve seguir agora, defendeu o banqueiro.

“Desde que eclodiu a crise financeira, os gregos ficaram 25% mais pobres que há dez anos. Os italianos estão 10% mais pobres. Os alemães e os norte-americanos estão 5% mais ricos”, começou por apontar Horta Osório, citando a evolução do PIB per capita de cada um dos países. “Em Portugal, descemos 10% nos primeiros seis anos da crise e nos últimos quatro anos recuperamos bem, estando agora em linha com valores pré-crise.” Mas se isto é positivo em comparação com os gregos ou italianos, já não o é em comparação com os restantes, sublinhou. “O nosso gap em relação à Alemanha aumentou”, deu como exemplo.

E o PIB per capita, entendido pelo próprio como a melhor forma de medir a evolução do nível de vida das populações dos diferentes países, é um dos pontos em que a economia portuguesa precisa ainda de avançar. Mas para isso acontecer é preciso aumentar a produtividade, realçou. E esta, ao contrário dos défices, não evoluiu favoravelmente nos anos mais recentes.

“A produtividade do país estagnou nos últimos cinco anos. Em Espanha subiu 12%. E se entre 2009 e 2011 aumentámos a produtividade em 3% a 4%, esta ficou estagnada nos anos seguintes. E isto é muito importante porque a longo prazo o aumento da produtividade é a única forma de se conseguirem melhores salários por hora. Ou se trabalha mais horas ou melhor.”

Dados os atuais níveis de dívida do país, pública e privada, esta necessária subida da produtividade é ainda mais relevante. “Isto é muito importante porque temos dois desafios muito grandes para resolver: a dívida e o envelhecimento da população”, sintetizou.

A dívida, o malparado e os bancos

Lembrando os bons valores registados pelo PIB português no último trimestre, “que nos colocam acima do crescimento europeu”, Horta Osório foi lesto em lançar um balde de água fria sobre o mesmo: “Temos um enorme stock de dívida.” E quanto maior for esta, menor será o potencial de crescimento do país. “Temos de pagar esta dívida e ver como, progressivamente, vamos reduzir o seu peso em função do produto”, defendeu. Ou seja, mais que baixar a dívida, o caminho passa por aumentar o PIB, reduzindo o peso da dívida por essa via.

“Se o produto subir, o enorme peso da dívida começa a baixar. E este é o primeiro eixo em que as políticas se deviam centrar. Devíamos ter um plano, de toda a sociedade, a médio prazo, para reduzir a dívida em função do produto.”

E se a economia portuguesa até está a crescer bem, what better time than now? Horta Osório não recorreu ao inglês do “seu” Lloyds, é certo, mas esta foi a ideia transmitida nesta fase da intervenção.

“Portugal está a surpreender com o crescimento, e ainda bem. O PIB subiu 2,8% no primeiro trimestre, é preciso aproveitar este crescimento para por a casa em ordem, reduzir a dívida em função do produto, fazer reformas e tomar políticas adequadas que criem riqueza e elevem o nível de dívida.” Até porque em caso de sobressaltos, sublinhou, é também preciso ter sempre algumas almofadas acauteladas.

Daqui ao setor bancário foi um pequeno salto. Porque a relação é mesmo imediata: “Os países com dívidas elevadas não registam subidas no crédito há seis anos, falo de Itália, Portugal e Grécia. Enquanto nos EUA, Alemanha, Reino Unido ou França, o crédito já começou a subir.”

Com os atores públicos e privados altamente endividados, explicou, o crédito não flui. Ou porque não há quem o possa ter, ou porque os bancos estão mais restritivos. “Logo, não há crédito, e se não há crédito, que não gera PIB no presente, porque os empréstimos são investidos no momento, há que desalavancar. Porque não o fazer significa que não temos almofada de crédito, nem para projetos merecedores”, explicou.

Realçando os passos positivos dados nos últimos no setor bancário, o CEO do Lloyds lembrou que uma economia saudável precisa de uma banca saudável e vice-versa. E neste campo Portugal ainda precisa de resolver a questão dos elevados créditos malparados que os seus bancos acumulam nos balanços.

“Falta tratar dos NPL, ou Non Performing Loans, o crédito malparado. O NPL deve ser reciclado, para que estes ativos sejam vendidos a quem melhor sabe tomar conta deles, gerando algum crescimento económico e libertando capital para quem precisa. Temos um rácio elevadíssimo de NPL, que são a quase totalidade dos capitais próprios dos bancos. E isto é muito importante que se resolva rapidamente”, recomendou Horta Osório. Sobre um modelo para o malparado, por estes dias em discussão entre as autoridades, já nada disse.

Imigração, reformas e políticas

Considerando que Portugal deve assumir sem pruridos ser “uma pequena economia aberta”, Horta Osório apontou que como tal o país não deve apostar em políticas de contraciclo – “aumentar a despesa quando surge uma recessão significará voltar aos desequilíbrios”. Nesse sentido, há que aproveitar a onda global.

“A Europa está a crescer quase 2%, a China apesar de desacelerar continua com subidas na casa dos 6%, o mundo vai crescer mais nos próximos anos e isso é muito favorável para nós, até por já estarmos com os défices equilibrados.” A conjuntura é favorável e assim deve continuar, estimou o banqueiro, recomendando que “apesar da situação ainda frágil” do país, “não podemos ser complacentes e temos de aproveitar isto para por a casa em ordem no espaço de três a cinco anos para não estarmos sujeitos ao que aconteceu no passado”.

E destacou aquelas que a seu entender são as reformas fundamentais com que o país precisa de avançar ou intensificar: A aposta na educação deve ser continuada, a atração de investimentos produtivos, internos ou vindos de fora, também. Mas igualmente fundamental será baixar os custos excessivos da energia, destacou. Um dos custos de contexto mais pesados enfrentado pelo tecido empresarial português, acrescentamos nós.

“Mas estas reformas até vão sendo faladas, destaco por isso outra: a relação entre população ativa e o crescimento da população”, disse, lembrando que apesar da população mundial continuar a crescer, a portuguesa persiste em queda. E isso é “dramático”.

“Daqui a 15 anos, apenas teremos 89% das pessoas que trabalham hoje e em pouco mais de 30 anos teremos apenas 73%. Vamos ter dois reformados por três trabalhadores ativos, isto é dramático. Os governos têm tomado medidas mas precisamos de uma política de imigração inteligente”, recomendou de imediato.

“Portugal está a perder população e isso não é sustentável em termos de estrutura de custos fixos do país, de rácio de dependentes por trabalhador. Temos atraído estrangeiros com os vistos gold, impostos favoráveis mas o governo devia pensar numa política de imigração inteligente, tal como Canadá, Austrália ou Singapura já fazem.”

Para Horta Osório, Portugal deve apostar na atração de imigrantes com as qualificações “que o país precisa” e sem deixar de lado as preocupações com a aculturação e o tempo que a mesma demora, de forma a inverter a tendência de queda da população e de forma significativa. “Nos países citados, a população quase dobrou em 20 anos e com impactos económicos muito favoráveis”, disse.

“Estamos a emagrecer e se isto continua em apenas 30 anos teremos um problema muito significativo na relação entre dependentes e população ativa”, rematou.

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