Banca sacrificou lucros a arrumar a casa e para fazer de 2017 o ano da inversão
De 2015 para 2016, banca em Portugal viu resultados afundar de lucros de 360 milhões para perdas de 1036 milhões. Uma opção que visou preparar 2017
in: Dinheiro Vivo, 21 maio 2017
O ano de 2016 ficou marcado por uma deterioração dos resultados do setor financeiro em Portugal que, de forma agregada, passou de 360 milhões de lucro em 2015 para perdas superiores a mil milhões de euros. Mas o que à primeira vista parece ser uma má notícia para o setor, à segunda vista mostra o esforço feito por algumas instituições para arrumar a casa de uma vez.
O aumento das provisões para imparidades, a redução do peso do crédito em risco face ao total e um cost-to-income cada vez mais baixo são os sinais positivos que saem da compilação dos resultados globais obtidos pelos associados da Associação Portuguesa de Bancos (APB) ao longo de 2016.
“Foi um ano de arrumar a casa, através de provisões para imparidades e o pagamento das dívidas ao Estado”, comentou António Faria de Oliveira. “Foi um ano de muito trabalho para limpar o mais possível os balanços e para a estabilização dos bancos, de algumas estruturas acionistas e do reforço de capital de alguns bancos e o pagamento das dívidas ao Estado”, reforçou. E todos estes passos foram no caminho certo: “Há bancos que ainda estão em recuperação mas no geral há condições para a banca recuperar”, garantiu mesmo Faria de Oliveira.
Menos lucro, melhores rácios
Olhando para a evolução dos principais indicadores das mais de 22 entidades reunidas na APB, donas de mais de 90% do ativo do sistema português, encontramos então a deterioração em 390% dos resultados líquidos do setor como um todo, evolução em muito assente nos prejuízos da Caixa Geral de Depósitos (CGD), que atingiram os 1859 milhões de euros.
E o banco público é mesmo o melhor exemplo da opção da banca pelo sacrifício dos resultados em nome de saltar para a próxima etapa da recuperação: a multiplicação das perdas por dez no ano passado veio da decisão de constituir mais de 3000 milhões de euros em imparidades, de modo a entrar em 2017 – e receber uma nova injeção dos contribuintes – com um balanço mais limpo. A limpeza permitiu baixar o crédito vencido de 7,2% para 6,6% e aumentar a cobertura por imparidades de 102% para 124%.
Tal como a CGD, também a maioria do setor apostou no aumento das imparidades reconhecidas – subiram de 38% do produto bancário para 65% em 2016 – e, consequentemente, na redução da exposição ao risco: o rácio de crédito em risco em relação ao total caiu de 12% para 11,8% de 2015 para 2016 e a exposição a ativos não produtivos recuou de 17,5% para 17,2%. Ao mesmo tempo, o rácio de cobertura geral face a créditos não produtivos (NPL) saltou de 40,8% para 45%.
Além da melhoria dos rácios de cobertura e de ativos em risco – que também chegou pela redução do total de crédito, note-se – a banca continuou em 2016 na sua longa e, até ver, interminável dieta de custos operacionais.
O peso dos custos face às receitas no setor financeiro continuou a prolongada queda que encetou desde 2013, altura em que os custos representavam 72% das receitas. Este peso em 2016 já era de apenas 59,8%.
A opção do sistema pelo agravamento de resultados não veio, porém, sem passar fatura aos rácios de solidez dos bancos em Portugal, já de si os mais baixos da zona euro.
Segundo os números da Associação Portuguesa de Bancos, o CET1 – nível de capital de “melhor qualidade” de um banco, ou seja, o capital sem obrigações associadas e, logo, disponível para compensar eventuais perdas – recuou de 12,4% para 11,4% de 2015 para 2016, trajetória que seria especialmente preocupante caso o primeiro trimestre de 2017 não tivesse ficado já marcado pelo avanço de alguns dos principais bancos para o reforço deste CET1 – por exemplo, a recapitalização da CGD, o aumento de capital do BCP e a emissão de 300 milhões de euros já anunciada pelo BPI.